Caro leitor, o tema que me traz é a discussão do Orçamento de Estado 2025, em que, com tanta indefinição, tanto espetáculo e ruído, temos os principais responsáveis políticos a fazer uma homenagem ao programa Big Show SIC (1995-2001).
Temos um país que precisa de respostas e classes profissionais onde faltam meios, depois de anos em que os serviços públicos foram levados abaixo do limite mínimo de funcionamento – basta ver o exemplo dos professores, em que após entrevista publicada a 14 de Outubro, temos Filinto Lima e a Fenprof a constatar que há 34000 alunos sem professor a 1 disciplina.
Esses meios só serão possíveis com as dotações do Orçamento de Estado, mas preferimos ver os principais políticos, aos olhos de todos os portugueses, a discutir minudências e a querer ter protagonismo, em vez de ter responsabilidade em querer mesmo um país melhor.
O PS, por voz do seu secretário-geral Pedro Nuno Santos, está na oposição, mas pretende impor as suas medidas, como se fosse Governo. E, a acolitar a sua postura impositiva, tem toda uma entourage liderada por Alexandra Leitão e outros ex-governantes do tempo de António Costa (2015-2023), nas redes sociais e nas televisões.
Daí temos a discussão interminável em tópicos como IRS Jovem e o IRC, por diferenças irrisórias, em que o Primeiro-Ministro, que tem governo minoritário, viu-se obrigado a acolher as condições do PS, para tentar que o OE 2025 não seja chumbado.
Por outro lado, temos o Chega, liderado por André Ventura, que já teve mais de 10 posições sobre o Orçamento de Estado. Desde o seu “chumbo irrevogável” até à aprovação “condicionada”, numa ótica de “responsabilidade”, este partido já disse de tudo sobre o Orçamento. Logo, credibilidade negocial é 0.
Não é preciso tirar cursos de Negociação Especializada para perceber que quando uma das partes é volátil dificilmente há sucesso na negociação, pois se quebra o elo fundamental: credibilidade.
Mas, não satisfeito, este partido decidiu acrescentar mais um tópico para a discussão e para todo o ruído e espetáculo: as reuniões de 15 de Julho em São Bento entre Ventura e Luís Montenegro. É todo um espetáculo de trocas de palavras e acusações, sobre o conteúdo das mesmas, que foi acentuado pela entrevista de Ventura à CNN, no passado dia 10 de Outubro.
O país precisa de recuperar rendimentos, especialmente quando o salário médio é 1214€ mensais (2024) e o salário mínimo vai subir para 870€ em 2025. Logo, há um problema diagnosticado, reconhecido pela própria Ministra do Trabalho, em Julho passado e que tem de ser resolvido: “Não me contento que tenhamos todos direito ao salário mínimo, quando a diferença face ao salário médio em Portugal é muito pequena. Isto não devia ser assim”.
A juntar a esta questão salarial, temos a questão dos jovens: quando o país tem 30% das pessoas entre os 15 e 39 anos fora do país (2023), é necessário criar medidas para os incentivar a não desertar mais. Não é uma questão de “criar uma guerra geracional novos vs velhos”, como Pedro Nuno Santos apregoou no congresso da FAUL, no passado dia 13 de Outubro. A “guerra” já existe antes de 2024 e foi acentuada com a perpetuação de baixos salários do governo PS (2015-2024).
Neste momento, a discussão está tão acirrada que seria necessário recuperar a figura do Macaco Adriano (Big Show SIC), para impor juízo e responsabilidade nesta discussão do OE2025, após trocas de argumentos que, na realidade, nada acrescentam à qualidade do orçamento e apenas acentuam a sensação de instabilidade política no país.
Creio que Ediberto Lima (produtor do Big Show SIC) não teria uma ideia tão genial de próximo programa, com ruído, dança e música! Aos produtores de TV: aconselho vivamente a vir buscar inspiração neste “espetáculo” que está a ser a discussão do Orçamento de Estado 2025.
Cada vez mais faltam líderes partidários com maturidade e sentido de compromisso, em prol do país, como se viu nos anos 80, com Mota Pinto e Mário Soares (PS-PSD), antes de chamarem o FMI (1983-85).
Ou, mais recentemente, em 2012, com António José Seguro no PS, para com o governo PSD-CDS, a abster-se na votação do Orçamento (“abstenção violenta”), em prol da recuperação do país, quando se estava perante a intervenção da Troika.
Eu, enquanto cidadão jovem – estou abaixo dos 35 anos definidos pelo Governo para o IRS Jovem, faço a minha declaração de interesses: pretendo que este país tenha Orçamento de Estado 2025 aprovado e que não haja eleições tão cedo!
Mais ainda: quero maturidade e sentido de Estado do Governo AD (PSD-CDS) e da Oposição, seja ela do PS ou do Chega (2.º e 3.º maiores partidos).
Para os cidadãos comuns, dos jovens aos idosos, já sabemos que o “Big Show” da discussão do OE2025 está no ar… de manhã à noite, em qualquer jornal, rádio ou televisão perto de si!
Até à data da votação final na generalidade do OE2025, a 31 de Outubro, espero que os partidos com mais deputados comecem a ganhar responsabilidade, pois, antes de qualquer futuro interno, é o futuro de Portugal que está em jogo.
Não podemos perder o comboio do PRR (que termina em 2026), nem a oportunidade de reerguer o país e recuperar os serviços públicos, da saúde à educação!