Caro leitor, esta crónica vem no seguimento do lançamento do livro “Identidade e Família”, no passado dia 8 de Abril, com apresentação do ex-primeiro ministro Pedro Passos Coelho e textos de diversas figuras da sociedade como o prof. César das Neves, Bagão Félix, Manuel Monteiro e Paulo Otero.

Esse livro trouxe 22 contributos que pretendem ser uma revisão ao conceito de família tradicional, ao papel da mulher, à Identidade de Género, na sociedade portuguesa, de 2024.

Por si só, eu considero que pode e deve haver uma família tradicional, mas não deve ser nos moldes que muitos dos autores querem impor no livro. Por exemplo, há autores que se refugiam na figura do casamento para justificar a união homem-mulher, geração de filhos e sustentar o papel de família.

Tenho de discordar do sucesso dessa visão, especialmente quando Portugal, segundo o Pordata, atingiu o recorde de 91,2 divórcios por 100 casamentos, em 2020.

Conheço famílias que funcionam bem com uniões de facto, conheço famílias monoparentais e outros conceitos de família, em que não estamos no formato tradicional. As pessoas devem procurar o conceito que lhes traga felicidade e realização, mas sem imposições de cânones sociais, enquanto respeitam o conceito tradicional e secular.

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Algo que me assustou muito e que é consequência de pensamentos transmitidos no livro, foi a entrevista/debate com o prof. Paulo Otero e a jornalista Catarina Marques Rodrigues, na SIC Notícias, na Edição da Noite, de 9 de Abril.

O prof. Paulo Otero, quando interveio sobre o papel social da mulher, relembrou-me algumas das piores visões e pessoas que se cruzaram na minha vida, que menorizaram a mulher.

O primeiro exemplo que me veio à memória foi de um professor de Educação Física, que tive no 9ºAno. Essa figura menorizava as mulheres/raparigas minhas colegas, proferindo quase todas as aulas o seguinte discurso: “O lugar das mulheres é junto ao fogão e a limpar o chão.”. A ironia é que ele tinha uma mulher e um filho. Não sei que educação ele daria em casa, mas ouvir esta frase e ver a menorização, até nas avaliações que dava, tornou essa figura num mau exemplo, a combater.

Outro exemplo que tenho bem presente e que demonstra o perigo de posições extremadas sobre a posição social da mulher, é o do juiz desembargador Neto de Moura. Este juiz notabilizou-se, em 2017, pelo acórdão da “mulher adúltera”, como forma de tentar menorizar uma situação de violência doméstica, como consequência de uma traição ao marido.

Combater exemplos de pessoas que têm poder de superioridade, pela função que desempenham, mas que menorizam a mulher e os seus inferiores, é o caminho certo. Mas, na atualidade, tem faltado muita moderação ao debate e ao combate. E, quando falta moderação, os extremos sentem-se justificados em agir, pensando que 2 sinais contrários se anulam. Puro engano!

Posso dar vários exemplos de influencers, cientistas sociais e até de políticos que tomam esse caminho de extremar. Recordo o exemplo do Diogo Faro, que justifica e normaliza posições como o poliamor, as “relações abertas”, a desconfiança generalizada das mulheres nos homens, nas suas redes sociais como o Instagram e o Tiktok.

Assim como o Diogo Faro, há casos assim e até mais extremados, com posições sobre a “superioridade do macho branco”, a “opressão do homem”, cultivando uma cultura de desconfiança generalizada na mulher face ao homem.

Dou um exemplo social: ir ao ginásio. Nos dias que correm, ir ao ginásio, para lá do benefício do exercício físico, é uma experiência social. Entrar no ginásio e dar os bons dias/boas tardes, desde os rececionistas, aos personal trainers (PT) e para a generalidade de quem está no ginásio a treinar, pode ser visto com algum desdém e conotado com algum provincianismo, típico de alguém de fora de Lisboa.

Mais ainda, cada vez mais, nota-se uma desconfiança enorme nas raparigas/mulheres, quando alguém as aborda de forma linear, dá as boas tardes e pede para partilhar máquinas. Refugiam-se nos auriculares, desconfiam da boa educação, com medo da eventual sexualização e de potenciais situações abusivas.

Não posso condenar a postura, mas considero que isto demonstra que para combater medos sociais, temos de dar educação em casa e nas escolas. Respeitar o semelhante, cumprimentar o outro e saber ser cordial. Saber onde o espaço de uma pessoa começa e acaba. Ou, como me confidenciou uma PT do ginásio, que tem confiança comigo: “Tratas as mulheres daqui com respeito e educação. Não como uma hiena esfomeada. Obrigado”.

Confesso que na minha vida social e pessoal não estou no BBC Vida Selvagem, na savana africana, para ser uma hiena esfomeada, e em que as mulheres não devem ser vistas como zebras, prontas a serem caçadas. Percebi a comparação, agradeci as palavras e fiquei sensibilizado. Demonstra que estou no caminho certo e que há um caminho longo a fazer na sociedade portuguesa.

Temos de ter mais pessoas respeitadoras e com melhor educação social. Começa em casa, passa pelas escolas, na disciplina de Cidadania e também pelas redes sociais. Estes 3 grandes pilares sociais são a grande forma de combater os extremismos sociais, fortalecer a identidade social portuguesa e poder continuar a cultivar o valor da família.

Quanto ao livro “Identidade e Família”, os seus textos, bem como as intervenções do prof. Paulo Otero, reacenderam debates de valores e fizeram soar os alarmes sociais!

Não esquecer: há um longo caminho a percorrer. Nenhum extremo social é bom e todos os problemas são combatidos com base na educação sem extremos, com valores, pela inclusão, pela moderação e respeito pelo semelhante.