Os congressos distritais do Partido Socialista realizaram-se recentemente de norte a sul do país. Pedro Nuno Santos esteve onde lhe foi possível, uma oportunidade para tomar o pulso ao partido e de perceber se os ventos ainda lhe são favoráveis. Pelos resultados das eleições federativas parece que tudo são rosas e sem ondulações. A maioria dos presidentes das federações emergiram do caldo da Jota onde nadou, também, PNS.

Há uma geração que fez claque até vencer os quadros históricos pela exaustão. Ouve-se com frequência: “Agora somos nós”. Os que afirmam que agora é a sua vez, fazem-no com uma displicência inconveniente e alguma arrogância, como se o passado tivesse sido apenas uma barriga de aluguer.

Quando se conquista o partido a responsabilidade aumenta, porque a sociedade espera que os seus problemas encontrem respostas adequadas nas suas propostas políticas. O Partido Socialista tem sempre grande responsabilidade quando é governo ou oposição. A maioria dos atuais líderes das federações talvez não tivesse nascido aquando da manifestação da Fonte Luminosa. Mas isso não é importante, a não ser que ignorem a sua história. A circunstância consolidou o regime democrático e estamos a comemorar os 50 anos do 25 de Abril de 1974 que permitiu a liberdade de expressão e o livre arbítrio. E o PS foi, também, o responsável por essa conquista.

A propósito do Orçamento de Estado, é bom lembrar o que PNS disse na noite das eleições legislativas de 11 de março de 2024: “Seremos oposição, recuperemos o partido e procuraremos recuperar os portugueses descontentes com o PS”. Passaram apenas sete meses desde a derrota eleitoral por “pouquechinho”, para recuperar uma frase de António Costa a propósito da vitória das eleições europeias (2014), quando António José Seguro era líder. O PS venceu essas eleições com Francisco Assis, como cabeça de lista, mesmo assim António Costa desafiou o líder, o resto todos sabemos o que aconteceu.

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As perguntas que gostaria de fazer a PNS: Já recuperou o partido? Já recuperou os portugueses descontentes com o PS? Se a resposta é sim, isso quererá dizer que enquanto oposição, PNS e o PS fizeram um bom trabalho e estarão preparados a ir a eleições legislativas. Só assim se justifica o discurso do Secretário-geral de acusar os militantes que defendem na praça pública a viabilização do Orçamento de Estado, e de usarem o espaço público da comunicação social para o pressionarem. Embora tenha dito em Coimbra que não quer censurar ninguém, e que cada um é livre, enfatizou que o secretário-geral também é livre para decidir o que quiser, deixando um aviso que se entende. O raspanete à navegação dentro do partido mostra algum nervosismo de PNS, uma vez que não está em causa a sua liderança, mas apenas a votação do Orçamento de Estado.

Se este for chumbado com os votos do PS podem ocorrer eleições legislativas, e PNS terá a segunda oportunidade de ser primeiro-ministro antes das eleições autárquicas. Embora considere que sete meses de oposição é pouco tempo para “recuperar os portugueses descontentes com o PS”. Talvez o núcleo duro do secretário-geral tenha outras informações, mas a voz do povo que vai comprar pão de manhã, que anda nos transportes públicos, que espera nas urgências do hospitais não se manifesta nesse sentido. Se houver eleições antecipadas a estratégia de chumbar o Orçamento de Estado pode ser suicida para o PNS e para o PS. Não pode é culpar os que o aconselharam a não o fazer. Em política, como em quase tudo, as escolhas têm consequências, e a radicalização do discurso, diabolizando a direita democrática, ela própria fundadora do regime, não se afigura como a melhor orientação para ganhar eleições.

Em sete meses a direita resolveu alguns problemas que o PS podia ter feito no passado, mas não o fez. Esta é uma verdade incontornável. Chumbar este orçamento pode ser uma leviandade, um impulso esquerdista com graves consequências políticas.

Os gregos, na Antiguidade Clássica, defendiam a meia-medida, uma espécie de bom senso, a moderação. Os gregos que foram os responsáveis pela Democracia devem a Pisístrato (séc. VI a.C.) a transformação política e legislativa, embora Drácon e Sólon tenham antecipado esse percurso. No “Banquete de Platão”, a figura de Alcibíades assume contornos de insolência, irrompendo pelo banquete com falas desadequadas. Plutarco, em “Vidas Paralelas”, expõe-nos Alcibíades e Coriolano, comparando as vidas de ambos. Ao longo do tempo a figura de Alcibíades foi usada para muitas comparações mas, principalmente, para lembrar a importância da moderação.