Em política não há gratidão. Habituámo-nos a ver apoiantes entusiastas mudarem de barricada por um prato de lentilhas. As lealdades partidárias são efémeras e pouco levadas a sério, porque as ideologias e as causas transformaram-se numa bolsa de interesses.  Os partidos do “centrão” são academias que ministram cursos de pensos rápidos de assalto ao poder, nomeadamente, através das jotas. O resultado é o nascimento de falanges entusiastas, unidas por interesses corporativos que atravessam “tudo o que é sólido se dissolve no ar” sem reflexão e “porque sim”.

Se olharmos para estas eleições pesando os muitos fatores — experiência, notoriedade, reconhecimento da sociedade, mérito profissional, científico e cultural –, a desilusão é total. Ela começa nos líderes e continua nas listas de deputados. Claro que há honrosas exceções, mas essas são insignificantes e não desmentem a realidade. Estamos a colher a crescente descredibilização da atividade política, com responsabilidade dos próprios políticos, que deixaram de prestar contas aos eleitores e transformaram a política num negócio de oportunidades e leilões. Dito de outra maneira, construíram sindicatos de voto, arregimentaram militantes, mesmo sem afinidade, porque são amigos e precisam de pagar faturas antigas e, por isso, prestam-se a obedecer entregando o seu voto acrítico. É fácil ver a ficha técnica deste filme.

Gente sem escrúpulos tomou o poder, usou-o sem ética republicana e gerou os arautos de “é preciso exterminá-los”. Quando alguém afronta os interesses é literalmente colocado na prateleira, cria-se um anátema sobre essa pessoa, passa a ser perseguida pela indiferença dos aparelhos partidários, é relegada a um exílio silencioso, o jogo tem regras que não estão escritas, mas existem. A aceitação sem questionar é a condição necessária para ascender na corda.

O futuro está nas mãos dos populistas, demagogos e perigosos. Eles aproveitam os comportamentos impróprios daqueles que contribuíram para o descrédito da política, para engordarem os seus ódios e captarem a atenção dos desiludidos. Como o horizonte é indecifrável, os populismos têm um terreno fértil para continuarem a crescer e a ter expressão eleitoral à boleia da democracia. Gritam mais alto, mentem, falseiam a verdade, dizem o que anda na boca do mundo, fazem-se passar por justiceiros e homens do fraque. Exploram os sentimentos coletivos básicos, criam a falsa ilusão de compreenderem o desencanto e a revolta, fazem-se passar por impolutos e defensores de todos, dissimulam compaixão, prometem fazer justiça – pondo em causa o Estado de Direito. É fácil dizer a um jovem que a culpa de não ter emprego é dos que estão no poder. Talvez, seja em parte verdade. E isso torna o populismo verosímil e, ainda, mais ameaçador.

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A geração mais bem preparada de sempre, como se ouve até à saciedade, não gerou líderes mais bem preparados. É um contrassenso ou talvez não. Seria expectável que passados 50 anos, depois do 25 de abril de 1974, a democracia fosse, também, uma academia de protagonistas inspiradores, referências públicas que fossem notícia pelos ideais e com pensamento próprio. Não há líderes partidários arrebatadores. Neste momento, nenhum é conhecido na Europa, isso diz muito de cada um e de todos.

Os debates televisivos mostraram as fragilidades e a falta de preparação dos candidatos. A amostra é má e pouco confiável. Estaremos condenados a esta mediocridade? “O fraco rei faz fraca a forte gente” (Camões). É preciso um sobressalto cívico, uma torrente interclassista que pense Portugal, que se reconheça na sua Cultura para o desenvolvimento, que esteja interessada em pensar os seus problemas concretos, como o envelhecimento, a desertificação do interior do país, a qualidade da escola pública, a reforma do Serviço Nacional de Saúde (não se faz sem médicos) e a habitação.

Estas questões concretas exigem políticas de longa geração, que estão para além de uma legislatura. E isto só se faz com protagonistas que dialoguem e façam pontes. O futuro, de hoje, é mais rápido, tudo acontece num ápice. Exige-se, por isso, ousadia, compromisso e responsabilidade.

A história do Pártenon ajuda a compreender a ascensão e a queda de Atenas. Não é uma metáfora, o Pártenon simboliza o melhor da nossa história e cultura. Precisamos de quem seja credível e se agigante pelo país e pelas acrópoles que habitam o nosso imaginário.