Pela boca se anuncia um Orçamento, mastigado e dividido em pedaços mais pequenos, para se apreciarem na especialidade. Isto porque Montenegro seguiu uma receita, dando uma olhadela no que havia dentro da despesa. Molha-se com saliva a ponta do indicador para folhear rapidamente as centenas de páginas do documento. Engolem-se sapos e sentem-se nós ardentes na faringe durante as negociações com quem o possa aprovar. Criam-se camadas e camadas de folhas de papel, umas enzimas das outras, para ter um documento fluido. Entre os amidos de partido, fabrica-se no aparelho, e digerem-se as opiniões e as jogadas políticas que previnam todas as situações. Pede-se ao bruxo por ajuda. Esófegante telefonas. “Estô, mago? Ajude-nos a não ter que governar em duodenos”. O mago assume a postura bem-disposta da estabilidade, mas, as secreções passam cá para fora pelos canais habituais. “E que tal pedirem apoio aos ácidos?”, sugere em tom de pergunta o mago. Governar por duodenos, só se o Jejuno Santos, e o colega Delgado não deixarem passar. Como ficaria a narrativa para novas eleições? Se somados, a PepSina Digestiva e o ÍLeo tivessem maioria, talvez desse para alguma coisa. Mas nem sequer estão no mesmo órgão, nem são a mesma coisa. Anuncio que o apêndice não serve para nada nestas contas. O bolo orçamental vai resistindo, à espera de ser levado ao cólon por quem seja reto e permita pelo menos um ano de governação. Quem sabe, mais ânus. E ficam os ácidos enzima do grosso a absorver o descontentamento? Estão sempre a falar em prisão e a ser intolerantes a qualquer coisa. Que síndrome irritável. Que inconsistência. Que crise que para aqui vai. E vai-se falar com quem? Com o BilE? Com o Lipídeo? Com o PCeco? E com o PANcreas falar? Já não queres, com nenhum deles, porque não adianta. Matematicamente falando, claro. Um aparelho deveria ir buscar um pouco de tudo isto, e não ser de um executivo relativo só. Não mata, mas sigmóide. E se sair o figádo mosqueiro e  o mago marcelíaco dissolver tudo, por ficar o assunto mal disposto? Chegou a hora da votação. Os deputados vão expelir o voto. Será o bolo orçamental digerido? Olhos nos olhos dos colegas, sussurram: “Que fezes?”. Faz o que quiseres, aparelho. Os Chronistas e os Cólonistas agradecem. É que cá fora das paredes, também é muito divertículo.

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