A política deve ser uma extensão da ética, não uma tentativa de refutá-la.” (Roger Scruton)

Para haver grandes investimentos é preciso passar por cima da lei? Os fins justificam os meios? Não, claro que não. E, no entanto, é tal a velocidade com que se criam narrativas de justificação que ainda nos vão fazer crer que temos que agradecer a António Costa ter chamado os amigos para finalmente fazer de Sines o Eldorado. A corrupção na política é um problema que tem sido amplamente debatido nos últimos dias. Infelizmente, uma tendência alarmante tem emergido: quando o Chega se declara “antissistema” o que quer dizer? Que os políticos são todos iguais? Não, não são. Tanto a incrível normalização e aceitação da corrupção como parte intrínseca do sistema político praticada pelo PS de António Costa, como o aproveitamento populista do Chega ameaçam os princípios democráticos e a confiança dos cidadãos nas instituições.

O Governo de António Costa banalizou a corrupção porque os atos corruptos se tornaram tão frequentes e sem consequências que permitiram que os populistas do Chega criassem a perceção de que são uma parte inevitável do cenário político. O que é incrível no desenrolar dos acontecimentos é que depois de o Primeiro Ministro se ter aproveitado do aparelho de Estado para proveito dos amigos ainda se lhe agradeça e elogie o sentido de Estado.

E, como é costume, tenta-se esconder a evidência atribuindo a culpa à Justiça! Quando os corruptos não são responsabilizados por seus atos, a corrupção torna-se mais aceitável. Isso pode ocorrer devido à falta de investigação, processos judiciais demorados ou influência política.

O Partido Socialista não só praticou a cultura da conivência, como até a incentivou, levando para cargos de grande importância estratégica traficantes de influências que espalharam a corrupção como um vírus. A política para estes senhores é apenas um meio de alcançar poder ou enriquecimento pessoal. E é isso que o Chega anda a dizer às pessoas: os políticos são todos iguais, só nós é que não pertencemos ao sistema. Mas foi o sistema (ou seja a democracia) que permitiu que André Ventura se sentasse no Parlamento.

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Os governos socialistas tiveram todos os exemplos de nepotismo e clientelismo. A nomeação de familiares e amigos para cargos públicos contribui para a corrupção sistêmica, parece que são mais importantes os favores que os méritos profissionais. É neste caldo de cultivo que “ser amigo de alguém importante” é motivo para ter um tratamento preferencial.

A conivência do PS com o clientelismo e a corrupção teve graves consequências para a sociedade e a democracia, nomeadamente o crescimento do Chega, a desconfiança nas instituições, a perda dos recursos públicos e a erosão da democracia. PS corrupto e Chega são as duas faces da mesma moeda: evidenciam o lado mais negro da ação política, o vale tudo. A ideologia substituiu a ética. Os interesses pessoais substituíram o interesse do País. Os benefícios pessoais substituíram o bem comum.

E agora?

É fundamental fortalecer (em vez de enfraquecer) as instituições encarregadas de investigar e punir a corrupção, obviamente garantindo que elas sejam independentes e eficazes.

Haver maior transparência nas decisões governamentais tornando mais difícil esconder atos corruptos. A transparência é o antídoto contra a corrupção. Quando o governo age nas sombras, a corrupção prospera. As decisões estratégicas para o país têm procedimentos e locais próprios, têm que estar documentadas, justificadas e aprovadas por quem tem as devidas atribuições e competências. A transparência é o antídoto da corrupção. As teias da corrupção são complexas, não procuram simplificar processos, mas omiti-los para fugir ao escrutínio. É por isso tenho vergonha alheia quando o Primeiro Ministro demissionário faz uma comunicação ao País… Para dar conselhos sobre os grandes investimentos. Que topete!