Durante uma visita a uma empresa agro-pecuária, o grupo entrou no edifício de produção suína. Porcas e leitões aos milhares. Pouco depois de entrar, de repente e sem aviso prévio, nem sequer interrompendo a sua explicação sobre os cuidados de saúde necessários para manter toda aquela população saudável, a sr.ª eng.ª que nos guiava pegou num leitãozinho pelas patas de trás e com o movimento destro e vigoroso do braço esmagou-lhe a cabeça contra uma coluna de cimento. Depois, segurando-o sempre pelas patas traseiras, atirou-o para um bidão que ali estava para o efeito. Reparando no olhar horrorizado da assistência citadina que conduzia, interrompeu a exposição sobre vacinas e higiene suína explicando: “Não era viável…”
Naquele momento, nem o ato nem a explicação pareceram humanos. Mas o facto é que o leitão não era humano, nem nunca o seria por muito que crescesse e se desenvolvesse. Por isso o nosso horror, muito urbano e pouco rural, embora instintivo, vindo de apreciadores de bacon e febras, era hipócrita. Não sendo o porquinho humano não faria sentido exigir que fosse tratado como uma pessoa.
No entanto, que dizer se, em vez de um leitãozinho, a sr.ª eng.ª pegasse num bebé recém-nascido pelos pés e lhe esmagasse a cabeça contra uma bancada ou parede? Ninguém faria isso? Bom, parece que o sr. dr. Kermit Gosnell, um sr. dr. conhecido como America’s Biggest Serial Killer, de vez em quando fazia literalmente isso. E mesmo que muitos dos seus colegas srs. drs. não costumem matar os bebés assim, os métodos que usam nos abortos intra e extra-uterinos, nas “interrupções voluntarias da gravidez” ante e pós-parto, não são menos horríficos, antes são mais brutais e dolorosos para a criança.
Se esses métodos fossem aplicados apenas a porcos, ainda ia que não ia: continuaríamos a comer cozido à portuguesa sem fazer muitas perguntas. Mas que sejam aplicados a seres humanos, regulamentados pelo governo e praticados por “profissionais de saúde”, e defendidos por tudo o que é warxista[1] ou afim, que se diz ser pela “dignidade”, “compaixão” e “direitos”, é distopia a mais para a minha camionete. Deixa uma pessoa sã incapaz de comer sequer fiambre. É prova que “dignidade”, “compaixão” e “direitos” não são mais que chavões para atirar aos olhos da populaça, não são para serem aplicados na defesa dos seres humanos mais fracos e indefesos. E é também a contradição-interna mais gritante do estado“-social” que, sob o pretexto de defender umas pessoas vulneráveis, permite que se liquidem outras pessoas ainda mais vulneráveis. E serve de aviso para que, se hoje se esmagam as cabeças a crianças, amanhã se as esmagará, metafórica ou mesmo literalmente, a velhos, sem-abrigo, neo-liberais, judeus, jesuítas, doentes-não-terminais, desempregados, deficientes, burgueses e outros “inviáveis”. Aqueles a quem dantes chamavam “parasitas”.
(O autor não segue a grafya do novo Acordo Ørtográfico. Nem a do antigo. Escreve como quer e lhe apetece.)