A pandemia teve um efeito disruptivo nos ciclos de preparação dos atletas, com treinadores e profissionais a terem que reorganizar planos para preservar a saúde, a condição física e psicossocial. Os desafios foram muitos e variados: indisponibilidade de instalações e equipamentos para treinar, longas ausências da competição, fragilidade para continuar num contexto de incertezas, com forte impacto sociofamiliar e emocional para todos. Houve atletas a treinar em garagens ou em casa durante meses e, mesmo sim, trouxeram medalhas, diplomas olímpicos e recordes pessoais e/ou nacionais.
Clínicas especializadas participaram com grande entusiasmo no tratamento de atletas, alguns com lesões graves, que recuperaram e conseguiram, com enorme esforço, marcas para participar nos Jogos Olímpicos de Tóquio – 2020. O que vemos atrás do pano, no treino e no gabinete, em Portugal e no Mundo, leva-nos a aplaudir e admirar, sem reservas ou críticas desinformadas, o compromisso e empenho de todos os atletas. A participação nos Jogos Olímpicos é, por si só, um feito extraordinário, só ao alcance de uma elite de exceção.
No particular das lesões, a atenção aos processos de recuperação continuaram com normalidade, graças ao trabalho das instituições, ordens e associações que tutelam o exercício dos profissionais de saúde, assim como clínicas e hospitais, que rapidamente instituíram e implementaram protocolos de prevenção do contágio e se adaptaram ao contexto pandémico. E isto sem prejuízo na qualidade da recuperação.
Chegados a Tóquio para competir, a superação, determinação e talento ficaram patentes na melhor prestação portuguesa de sempre, em mais de 120 anos de olimpismo moderno.
Desde 1924, somamos 28 medalhas, sendo 5 de ouro, 9 de prata e 14 de bronze. Num exercício matemático a estas olimpíadas, comparamos bem na razão medalhas/população com os EUA ou com a China e menos bem com a Itália ou a Noruega.
O sucesso do desporto de elite resulta de múltiplos fatores: demografia, cultura, política executiva, qualidade dos profissionais de saúde e exercício, intervenção das federações e fatores contextuais. Importa observar e refletir no bom e no mau para agirmos e termos a ousadia de influenciar o futuro. A estatística não engana e as 28 medalhas, das quais quatro nestes jogos, alimentam-nos a ambição de um futuro melhor. Os campeões, os que ganham, e os que tudo fazem para competir, são uma oportunidade e um exemplo para o país, porque promovem mensagens em prol do desporto. Eles inspiram e são a força motriz para agregar praticantes amadores e, a seu tempo, a meritocracia desportiva profissional.
A OMS realça que cerca de 43% (77% para a DGS) dos portugueses não praticam atividade física suficiente. Portugal é o 11º país do Mundo com maior prevalência de inatividade física. Aqui reside o verdadeiro problema e não estamos no pódio dos melhores!
Contas feitas à demografia e aos indicadores de saúde e doença, urge planear, materializar, treinar e competir para assegurar êxitos futuros. A divisa olímpica foi adaptada para “Mais rápido, mais alto, mais forte – Juntos”. Devemos ter voz ativa na defesa dos princípios fundamentais e valores essenciais que queremos para a nossa sociedade.
Não há nenhum determinismo nem impossibilidade que nos impeça, enquanto país, de melhorarmos a exposição das crianças ao exercício físico e ao desporto, na família, na escola, nos clubes e em muitos outros locais. Haja vontade, liderança e investimento suficiente e teremos ouro no futuro da saúde dos nossos jovens.
Parabéns aos nossos Olímpicos!