O fim-de-semana do Grande Prémio de Itália foi de muitas contas, dada a enormidade de penalizações, mas o resultado acabou por ser mais do mesmo. Verstappen venceu na casa da Ferrari e o Templo da Velocidade abençoou o holandês na sua primeira vitória no traçado italiano. Ficam aqui os que mais brilharam e os que mais desiludiram em Monza.

Max Verstappen (+). Era mais um dia que, segundo os dados que surgiam, não seria para ele. A especificidade de Monza pedia uma asa fina e com muito pouco arrasto, mas Verstappen levava aquilo que parecia ser quase um tolde. Sim, tinha um carro muito rápido nas curvas, algo que costuma pertencer à Ferrari, mas deixava a desejar nas retas e dessas, em Monza, há muitas e longas. Ainda para mais, Verstappen e a Red Bull não jogavam em casa e isso conta, e muito. Mas acho que já todos percebemos que corra-se onde se correr, contra quem se correr, ou como se correr, no fim é mais do mesmo. Apagam-se as luzes e Verstappen vence. E, mais uma vez, sem esforço. Partiu de sétimo e no início da quinta volta já tinha Russell, que partiu da segunda posição, no seu retrovisor. Mais uma vez a estratégia foi perfeita e o holandês correspondeu com nota 20. Cada vez mais faltam as palavras para descrever o que vejo em Verstappen, portanto, à próxima vitória, em vez de lhe escrever uma análise, escreverei um poema. Entretanto, fica só o pedido de que para o ano os rivais tirem um ou outro apontamento daquilo que a Red Bull tem feito durante esta temporada. É que isto de ter o melhor piloto, o melhor carro e as melhores estratégias tem tudo para nos levar a uma nova hegemonia. Não era disso que estávamos todos fartos?

Charles Leclerc (-). Ao contrário de Verstappen, era quase sua obrigação ganhar. Era, porque mais uma vez a coisa não lhe correu de feição e não há muita culpa que se possa atribuir à equipa. Em retrospetiva, talvez possamos dizer que a paragem durante o Virtual Safety Car à volta treze não foi exatamente a melhor escolha, mas foi um risco que decidiram correr e que tinha 50% de possibilidade de resultar. É aquele tipo de decisão que acaba por ser extremamente difícil de tomar, principalmente quando se é líder da corrida. A verdade é que não acredito que tenha sido isso que fez com que Leclerc não conseguisse chegar ao lugar mais alto do pódio. Também não acho que o carro não tivesse capacidade para o fazer e até discordo de que a culpa possa ser de Leclerc. Desta vez, as culpas não ficam mesmo em Itália. A culpa é toda de Max Verstappen que está numa liga diferente e se virmos assim as coisas, no mundinho que criei da F1.5, Leclerc é cada vez mais líder e até aumentou a distância para Sergio Perez. Só é pena que a Tiffosi não queira ver o copo meio cheio e não reconheça a existência da minha nova competição.

George Russell (+). Parece mesmo que a alcunha lhe assenta que nem uma luva! É que parecendo que não o Sr. Consistência é mesmo, mas mesmo consistente. Até agora, todas as corridas que terminou colocou-se no top 5, e conta já com sete pódios em seu nome, na temporada de 2022. Se formos perfeitamente honestos, ninguém antevia que isto pudesse acontecer, tendo em conta o início de temporada atribulado da Mercedes, mas as melhorias são bem evidentes e tudo isto deixa-me a pensar. E se a Mercedes tivesse começado bem? E se Russell tivesse à partida o carro que tem agora? E, neste momento em que Russell segue com 35 pontos de vantagem de Lewis Hamilton, quem é mesmo o nº1 da Mercedes? Por agora não sei bem responder a qualquer uma destas questões e presumo que só Abu Dhabi me dará as respostas, mas até lá peço-vos que façam o esforço e que pensem nisto comigo. É que, cada vez mais, Russell mostra material, mostra forma e mostra vontade, e. talvez com as armas certas e o apoio certo, consiga lá chegar muito brevemente. Tenho é medo que o estatuto de quem está à sua volta lhe possa borrar a pintura, como já antes vimos acontecer. Ou, se quisermos mesmo acreditar, talvez as coisas tenham mesmo mudado. Quem sabe

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Carlos Sainz (+). Os treinos já demonstravam aquilo que vimos na corrida. Sainz, num dia em que as estrelas se alinham dá brilharete. E deu! E quem fala de Sainz, fala também de Hamilton, já que acabaram por ter corridas muito semelhantes, mas a verdade é que o início de corrida do espanhol foi qualquer coisa de absolutamente excepcional! Uma enorme vontade de se chegar à frente do pelotão e uma facilidade em ultrapassar que quase parecia uma faca quente em manteiga. Mas antes que digam que em Monza é fácil ultrapassar, a verdade é que não. Não é, isto porque é uma das pistas em que o DRS tem menos efeito, dada a baixa aerodinâmica das asas. Sim, tem muitas retas, mas também tem curvas e essas são principalmente chicanes onde ultrapassar se torna bastante complicado. Com isto tudo somado percebemos imediatamente o excelente trabalho que Sainz conseguiu, terminando na quarta posição apenas atrás daqueles que ou partiram da frente, ou daquele que está prestes a tornar-se campeão do mundo. Parece fácil, mas não. Não é.

Lewis Hamilton (+). À semelhança do seu colega de equipa, Lewis Hamilton parece estar consistentemente a melhorar. Claro que as imensas melhorias do carro têm o seu impacto, mas vamos lá ver uma coisa. Lewis Hamilton é heptacampeão do mundo e essa receita precisa de três ingredientes e se um deles falhar a coisa não resulta. Focando agora em Monza, Hamilton partiu da décima nona posição devido a uma penalização pela troca de motor e foi ganhando lugares, de forma consistente, até ao final da corrida. Com todo o mérito, terminou na quinta posição, mesmo atrás de Carlos Sainz, que havia partido um lugar acima, mas o que mais me ficou no olho foi uma dupla a Norris e Gasly. Hamilton fez tudo de uma forma tão fácil e tão simples que parece simplesmente que está a jogar na PlayStation. Se tinham saudades de Hamilton, ali está um dos momentos que nos fazem lembrar o porquê do seu inigualável sucesso. Não foi ele que se foi embora, foi apenas o carro que chegou atrasado. Agora, com tudo aprendido sobre a nova era da Fórmula 1, que se pegue em todos os apontamentos e que se volte no próximo ano com todas as armas para se voltar bem lá para cima. Todos agradecemos.

McLaren (-). Quando, no final da temporada de 2020, todos rejubilamos por termos a McLaren de volta, a temporada de 2021 deu-nos uma autêntica chapada de realidade. Ora, se 2021 foi uma chapada, 2022 tem sido um soco mesmo nos dentes. É que isto tem sido uma constante descida, desde 2020, e nada parece querer resultar. Em Monza, Norris foi um dos pilotos que beneficiou do número de penalizações à sua frente, e acabou por começar a corrida na terceira posição, mas a verdade é que até podia ter partido da pole que acredito que o resultado não fosse muito diferente. Adormeceu no arranque e a sua corrida ficou imediatamente prejudicada aí. Já Ricciardo, que aparentava estar a ter um fim‑de‑semana minimamente decente e que até parecia estar perto de pontuar, ficou sem carro à volta 47 e foi o causador do Safety Car que deixou a corrida em suspenso até ao final. E assim se resume a corrida da equipa e dos pilotos que na temporada passada fizeram o 1-2 em Monza. Pode não parecer, mas na Fórmula 1 um ano é muita coisa. Se assim o é, que o próximo nos mostre uma McLaren de volta a onde realmente pertence.

Aston Martin (-). Que autêntico desastre! Dois carros fora e nada que se possa mostrar em termos de capacidade de competição. Nenhum dos pilotos passou da Q1 e cada vez menos entendo o porquê de Sebastian Vettel se sentir sempre tão surpreendido por isso. O carro é miserável, a equipa anda nas ruas da amargura e neste momento parece simplesmente que uma das melhores opções que têm é pegar em todo o dinheiro que pensam investir até ao final da temporada e atirá-lo para uma fogueira. O efeito, parece-me, será o mesmo. Mas o que mais me incomoda é o facto de Vettel acabar a carreira saindo pela porta pequena e temo que o mesmo possa acontecer com Fernando Alonso. Espero que não, mesmo, porque embora não seja o maior fã do “modus operandi” da Aston Martin, sou grande admirador de Alonso e o meu coração não aguenta o desgosto de ver o mesmo desfecho que espera Sebastian Vettel. Não gosto de estar errado, mas, muito honestamente, espero estar.

Nicholas Latifi (-). Já chega. Basta! Neste momento quase sinto vergonha alheia, algo que acredito ser extremamente grave. Nada, mas nada que Latifi consiga fazer chega para a Fórmula 1. Nada que ele saiba ou queira fazer irá resultar e podem enterrar todo o dinheiro do mundo na equipa que Latifi nunca será um piloto de F1 no verdadeiro sentido da palavra. É-o porque está lá e nada mais. Vai ser uma coisa gira para ter no CV e ficamos por aí. Mas o mais triste disto tudo é que após três temporadas no pináculo do desporto motorizado, tudo aquilo que Latifi terá para contar aos seus netos é que foi o causador do Safety Car que decidiu o campeonato de 2021. Para seu bem, que esconda o facto de ter terminado, em dois anos consecutivos, na vigésima primeira posição, quando competem apenas vinte pilotos. É vergonhoso, mesmo. Eu próprio sinto vergonha e acredito que vocês também, mas vejamos as coisas pelo lado positivo; pelo menos ficam os memes.

Nyck De Vries (+). Deixo para o fim a prestação que mais me encheu os olhos. Comecemos pelo princípio para entendermos o enquadramento do meio fim‑de‑semana de De Vries. Tudo começou no sábado, quando Alex Albon foi diagnosticado com uma apendicite, o que o impediu de competir. Sem grande preparação, De Vries saltou para o lugar do tailandês e percebeu-se imediatamente que a escolha poderia ser acertada. Já na qualificação, passou à Q2 e um pequeno erro fez com que fosse eliminado na décima terceira posição. A verdade é que De Vries foi capaz de apanhar o carro depois do erro de uma forma que não vejo muitos pilotos a serem capazes de o fazer. Já na corrida, e depois das penalizações, acabou por partir do oitavo lugar e conseguiu uma corrida perfeitamente estável, composta e, de certa forma surpreendente, já que tinha sido chamado para competir cerca de 24 horas antes. No final, contas feitas, De Vries leva um ponto e, parecendo que não, é algo que não se esperava de alguém que parece uma criança. Mas não. Não é miúdo nenhum, até porque tem uns 27 anos já muito bem feitos, mas fica claro que, sem grande esforço, o lugar de Latifi deverá ser seu. Querem ver que afinal a Williams até tem um carro para competir no meio do terreno e não sabíamos? Resumindo: De Vries fez em três sessões o que Albon apenas conseguiu em três corridas e Russell em três temporadas. Classe!

FIA (meh!). Ora bem. Na temporada passada acho que todos percebemos que a decisão final sobre qualquer situação que se apresente durante uma corrida é do Diretor da mesma. Chamem-lhe uma regra quase ditatorial, mas eu chamo-lhe lógica e acima de tudo, concordo a 100%. Se alguém é nomeado para decidir, ora, que decida. O que não concordo mesmo é com a decisão tomada pela direção da corrida do Grande Prémio de Itália. Acho que é importante perceber que além da Fórmula 1 ser um desporto e uma competição, é um espetáculo, e esse elemento – talvez um dos mais importantes – acabou por ser perdido no final da corrida em Monza. Obviamente, o incidente causado pela avaria de Riccardo não era suficiente para um período de bandeira vermelha, mas dado o enquadramento e considerando aquilo que os espectadores queriam ver, acredito que uma paragem momentânea na corrida se encaixava na perfeição. Certo é que a regra foi seguida à risca, mas são, muitas vezes, as exceções que fazem as regras. Fica a dica.

Nuno Freitas Faria escreve em conformidade com o acordo ortográfico que estiver mais à mão e as suas opiniões mudam e vão mudar de corrida para corrida.