Eles comentam em cascata, transfiguram o juízo em facto e os factos em juízo, tecendo, com a destreza do velho e habilidoso almocreve, uma tapeçaria de narrativas que reforçam, como se fosse uma verdade insuspeita, as proclamações de que são arautos e apóstolos. A verdade, no entanto, por entre esta fumaça de vaidade e artifício, jaz esquecida, e perdida nos recônditos obscuros da própria convicção, que, não satisfeita em ser escutada no eco dos seus corifeus, tem agora a presunção de erigir-se em dogma, de ocupar, ela só, todo o espaço da realidade.

É neste teatrinho de bonecos, neste curioso “peep-show” de vaidades ruidosas e de convicções plásticas, que o jornalista, outrora guardião zeloso da verdade, veste agora a máscara fulgurante do “Influencer”. A sua missão? Não mais investigar, discernir, ou mesmo incitar à reflexão. Nada disso. É colecionar “likes”, “partilhas” e toda a sorte de endossos digitais que lhe confirmem a popularidade da sua “marca pessoal”. Pois que se atire fora o rigor! Que se abandone o sublime exercício do escrutínio factual! Subjugado está o ofício ao novo chicote do “comentário ligeiro” e à pressa dos juízos imediatos, onde a subtileza e a ponderação já nem são memória, mas sim um estorvo.

Cada proclamação, trabalhada outrora, transforma-se agora numa avalanche de “opinanço factualizado”, oximoros modernos que se bastam a si próprios, iluminados pela força da repetição, como se a insistência pudesse, por algum milagre da pós-verdade, revestir de realidade o que, de facto, não passa de uma perspectiva singular e insípida. No turbilhão da modernidade, onde tudo se repete à exaustão, o mais absurdo dos conceitos ganha, assim, o privilégio de ser aceite, o mais vago dos rumores encontra acolhimento. E é o eco solitário desta singular perspectiva — monocórdica e repetida — que parece, afinal, ser o único som que ressoa e, para alguns, o único que vale a pena escutar.

Mas, afinal, quem são eles? São homens e mulheres, moços e moças, de todos os géneros e de todos os moldes. Já não os distinguimos, pois camuflam-se com perícia no constructo social do género, renegando a própria biologia do sexo, fazem-no, aliás, com a mesma destreza com que se movem nas sombras dos dogmas ideológicos que os moldaram, quer por uma convicção cega, quer pela embriaguez dos “likes”“deslikes”, das partilhas ou dos seus seguidores. Outros, ainda, encontram o seu estímulo na monetização — esse fruto do capitalismo que condenam, mas que, prontamente abraçam, traindo num ápice o dogma que lhes inflamou o ímpeto de opinar, e que, com desmedida altivez, insistem em nomear de jornalismo.

E assim prosseguem, inebriados pelo brilho dos números e pelas réplicas incessantes de uma audiência que os aclama, mas que, ironicamente, já pouco ou nada distingue entre o que é substancial e o que é mero espetáculo. O jornalismo — se ainda ousamos chamá-lo assim — é agora uma representação, um teatro onde os atores não se comprometem com a verdade, mas com o aplauso. Vivemos num tempo em que a informação foi trocada pelo artifício, em que a busca pelo real foi substituída pelo eco das próprias convicções. E nesta farsa de autoafirmação, o verdadeiro valor da palavra perdeu-se, deixando-nos, espectadores perplexos, a questionar onde ficou o compromisso com a realidade e se ainda há lugar para a verdade num mundo onde, afinal, tudo é uma questão de aparência.

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