As alterações na nossa realidade que chegaram com o fechar do século XX e início do século XXI são abismais. O boom tecnológico alterou não só todo o nosso quotidiano, como a forma de ver o mundo. Veja-se como brincavam as crianças há 20 anos, em que o pior que podia acontecer era terem que voltar para casa, e agora não querem sair dela. Vivemos uma era tecnológica em que tanto a parte lúdica como a vida profissional não existem sem um gadget e indissociavelmente a internet. Vem isto a propósito da reflexão sobre: que mudanças trouxe esta revolução tecnológica ao mundo da advocacia e que cliente podemos esperar no futuro?

Não podemos ignorar que hoje saímos da maternidade com um smartphone nas mãos e isso define, irremediavelmente o nosso comportamento. O nosso comportamento social, cultural mas também aquele que determina todas as nossas decisões ao nível do consumo.

Em poucas décadas, passámos da ilusão à realidade. Pensemos nos actuais carros comandados por voz, na empresa holandesa que garante entregar carros voadores em 2020, no homem voador que em 2017 nos veio entregar a bola do encontro da final da taça de Portugal de futebol, ou no robot que ganhou (contra humanos) um concurso de spots publicitários.

Tudo exemplos de que são responsáveis a tecnologia e a inteligência artificial. Claro também se torna, que este desenvolvimento muito se deve à conhecida BIG DATA. Porventura, nunca tinha sido possível na história da humanidade, armazenar e agregar milhões de dados pessoais, analisar e relacioná-los, por forma a que, utilizando esses resultados se pudesse, com um detalhe assinalável, monitorizar e padronizar o comportamento humano. É neste ponto que estamos!

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Daqui resultam inelutáveis consequências para o mundo da advocacia. E desenganem-se aqueles que pensam que o futuro é longínquo. Ele já chegou ao nosso apeadeiro.

Dou-vos seis exemplos.

A LISA é-nos apresentada como a primeira advogada robô que é imparcial. Tem como finalidade prestar assistência às duas partes, elaborando contratos em menos de sete minutos, dispensando assim a burocracia associada aos apelidados “advogados tradicionais”. Trabalha no Reino Unido.

A Premonition, diz-nos que analisa milhões de decisões e consegue encontrar tendências nas decisões judiciais. Avalia quais os juízes que decidem de uma ou de outra forma e, em função disso, apresenta estratégias jurídicas para obter vencimento de causa. Este robot analisa também a performance dos advogados, nas suas vitórias ou derrotas. Trabalha em Miami.

Talvez o mais famoso dos advogados robots, o ROSS. Desenvolvido pela Universidade de Toronto com base na tecnologia do Watson da IBM, foi contratado pela sociedade de advogados Norte Americana, Baker & Hostetler. O ROSS responde a perguntas, encontra soluções e vai de forma permanente actualizando as suas bases de dados e fontes de pesquisas. Significa que uma resposta amanhã, pode ser diferente da resposta de hoje. Trabalha em Nova Iorque e pode estar já a chegar a Portugal, através de um protocolo com uma sociedade de advogados de Braga.

Para a avaliação de risco de créditos temos o KREDITECH. Este robot faz uma análise das redes sociais dos clientes, emitindo parecer sobre a sua confiabilidade na atribuição de um empréstimo. Trabalha na Alemanha.

Quer impugnar multas de estacionamento, entregas atrasadas ou impugnar juros bancários? O DO NOT PAY resolve. É um robot que começou com o tratamento jurídico das impugnações de multas de trânsito mas que tem vindo a alargar a sua actuação.  Trabalha em 50 estados dos EUA e no Reino Unido. Também disponível na App Store para iOS.

Para pedir em tribunal indemnizações por atrasos ou cancelamentos de voos, tínhamos já a AIRHELP. Esta empresa contratou o Herman e a LARA, robots que se dedicam à verificação de documentos, avaliação do sucesso da acção e análise da jurisdição de cada processo. Com sede na Europa, já trabalha em 30 países.

Estes exemplos demonstram bem o fenómeno de “uberização” da advocacia. Não tem existido nenhuma reacção mais expressiva, pela simples circunstância desta “robolução” ocorrer de forma silente e parcial, ao contrário dos motoristas de táxi que viram a totalidade da sua quota de mercado afectada em poucos meses.

Ali, como aqui, as vantagens para os clientes são indestrutíveis e sobretudo irreversíveis. Acresce o facto do comércio eletrónico estar a crescer a um ritmo galopante – no sul da europa ronda os 15% -, na proporção da chegada dos Millennials ao mercado. O cliente de futuro, será o cliente que compra, contrata, processa ou encomenda no smartphone, em casa ou numa viagem de metro. O cliente de futuro não quer fazer um telefonema a agendar uma reunião, aliás, não quer sequer uma reunião. O cliente de futuro, quer resolver os seus problemas de forma eficaz, rápida, com garantias e com o menor custo possível.

Muitos acreditam que a Inteligência Artificial deve ser encarada pelos Advogados como oportunidade e não uma ameaça. Oportunidade no sentido de que os Advogados terão mais tempo disponível para se concentrar no trabalho valioso para os clientes. Terão acesso a um maior número de informação que lhes permitirá tomarem melhores decisões e mais rapidamente. Seremos homens com super poderes.

Na perspectiva dos advogados mais jovens, o avanço da tecnologia fará com que estes não tenham que passar os seus primeiros dois anos num data room, pois efectivamente as funções que até agora exerciam passarão a ser levadas a cabo por máquinas.

Assim, é importante que os Advogados se consciencializem sobre a necessidade de investimento em tecnologia e da priorização da sua acção. Aceitar o abandono de tarefas automatizáveis ou rotineiras, é o primeiro passo.

Devemos por isso privilegiar a inteligência colaborativa, e abusarmos daquilo que sempre nos distinguirá dos robots, a empatia.

Para aqueles que encarem a Inteligência Artificial como um modo de aumentar as suas competências, pode-se dizer que o futuro será risonho.

Advogado