Será Portugal afinal, em termos agroflorestais, apenas um pequeno país pobre e periférico no continente Europeu, ou será um grande país, com uma diversidade enorme de sistemas agro (embora concentrados numa área geográfica miniaturizada), determinados por todas as realidades geográficas, climáticas e culturais que por cá coexistem e também com boas acessibilidades, que permitem um acesso muito rápido e fácil a todos os seus recantos? E será, efetivamente, um país periférico, ou será antes, pela sua centralidade intercontinental, pela sua proximidade cultural com múltiplas regiões do mundo, pela diversidade dos seus ecossistemas e pela sua manifesta capacidade para atrair investimento e know-how agro dos quatro cantos do mundo, um potencial “silicon valley” agrícola da Europa Ocidental?

Na realidade, toda a evidência aponta para a segunda opção. O desenvolvimento das atividades produtivas agrícolas e florestais, dispersas por múltiplos sistemas agro em todo o país, envolvendo o empenho diário de muitos milhares de produtores, cada vez mais apoiados pelas suas associações, recorrendo cada vez mais a tecnologias avançadas de suporte, são quem garante afinal a produção de uma quota parte (ainda que manifestamente insuficiente) dos alimentos que consumimos, assim como também, pela sua presença e adequada intervenção, os serviços de conservação efetiva dos nossos recursos naturais e do nosso património histórico e cultural disperso pelo território.

Enquadrados pela legislação da União Europeia, a mais exigente do mundo em matéria de segurança alimentar e preservação ambiental, estes agentes são afinal quem assegura o cumprimento do papel estruturante de “alcatifa ambiental, económica e social” que as atividades de gestão agro desempenham para benefício de toda a sociedade civil. Basta ver, por exemplo, o impacto estruturante que o Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva tem projetado no desenvolvimento de toda a sua área geográfica de influência, em matéria de exportações e VAB associado às atividades agrícolas, mas também agroindustriais, turísticas, serviços e outras atividades cuja atração para a região determinou.

O valor intrínseco que os setores agro representam para o nosso país não pode requerer nem exigir menos do que um empenho muito sério de toda a sociedade civil e das melhores instituições na sua promoção nacional e internacional. As universidades têm naturalmente um papel fundamental neste desígnio. E não apenas as dedicadas à formação e investigação em Ciências Agrárias, que já o estão a desempenhar em pleno e a potenciar um envolvimento cada vez mais forte e inovador das novas gerações, mas também as dedicadas a outros ramos do conhecimento, que podem e devem aportar valor acrescentado para enriquecerem a perspetiva holística e profissional que a gestão integrada das fileiras do agronegócio requer. É tempo de assumir uma abordagem estratégica dos setores do agronegócio, envolvendo todas as forças vivas da nossa sociedade e atacando frontalmente temas chave, que para além da otimização do potencial técnico e económico das diversas fileiras, incluem a gestão integrada e racional dos recursos hídricos que nos atravessam (e dos quais temos uma capacidade de retenção para utilização limitadíssima quando nos comparamos com os nossos países vizinhos), da reconciliação e articulação racional entre produtividade e conservação do ambiente, do Marketing e Branding estratégico, do enquadramento jurídico e normativo (nacional e europeu), da gestão financeira e cobertura de riscos e da incorporação de tecnologia ao longo de toda a cadeia de valor, entre outros.

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