Semana de clássico FCP-Benfica em condições desportivas diferentes dos últimos anos. Benfica em primeiro com três pontos de vantagem sobre o 2º classificado o FCP, o que nesta altura da época não é muito relevante, mas sobretudo um Benfica com um plantel muito mais equilibrado do que nas últimas épocas, a praticar um futebol com identidade, a defender muito melhor, com um meio-campo que sabe guardar e passar a bola, um treinador que sabe o que quer e é corajoso. É um Benfica que ao fim de 20 jogos continua invicto na época, incluindo os jogos da Liga dos Campeões, com o milionário PSG e a Juventus à mistura.

Por outro lado temos um FCP que chega ao clássico dentro da corrida ao título, a somente três pontos do primeiro, mas com uns jogos pobres pelo caminho e uma participação na Liga de Campeões, até agora, muito sofrível.

Quem seja observador atento de futebol percebe que havia aqui ingredientes diferentes em relação as últimas épocas para o Clássico. E o FCP também percebeu isso, e então decidiu fazer regressar os seus velhos métodos, que aliás nunca abandonou, mas com um jogo mais equilibrado em perspectiva há que não facilitar e agir em força. E como habitualmente a usar os seus braços armados para fazer o trabalho sujo.

A semana começa com um vídeo publicado na Net por um conhecido adepto do FCP a ameaçar o árbitro nomeado Vítor Pinheiro e sua família, dias depois o líder dos Super Dragões usa também a Net para ofender o adversário e intimidar os seus apoiantes, são expostas tarjas nas pontes das vias rápidas do Porto com o lema “se achas o Benfica Merda buzina”, e por aí fora…

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O ambiente para o Clássico está assim armado, árbitro ameaçado e clima de guerra e hostilidade instalado. Nada de novo.

Começa o jogo, a receita do costume: pressão, agressividade, contundência e entrega, até aí tudo bem é a identidade de jogo do FCP.

Eustáquio, jogador novo na Casa, entusiasmado com a doutrina e com vontade de mostrar serviço, leva a receita muito à letra e confiando na habitual impunidade em poucos minutos e por duas vezes espeta os pítons na canela de dois jogadores do Benfica e é expulso, segundo amarelo.

Vítor Pinheiro, árbitro da nova vaga não tem medo e faz cumprir as regras.

Segue-se a habitual “peixeirada“ com o árbitro a ser rodeado pelos jogadores do FCP indignados com a sua decisão, como se os pítons na canela do adversário fosse amarelo… Está o baile instalado, a partir de agora o jogo não interessa o que interessa é “sacar” uma expulsão à força ao Benfica para equilibrar as forças. Qualquer toque de um jogador do Benfica num jogador do Porto dá direito a cinco cambalhotas no chão, qual fractura exposta, árbitro rodeado e pressionado pelos jogadores (funciona desde o tempo do José Prates, porque não há-de continuar a funcionar?).

Não interessa como se ganha interessa é ganhar. Vale tudo. O estreante Bah vindo do futebol dinamarquês completamente desenquadrado do filme que estava acontecer ia caindo na esparrela. Felizmente Vítor Pinheiro foi corajoso e o actual treinador do Benfica foi inteligente e também corajoso, percebeu o que estava a acontecer e retirou ao intervalo os três jogadores amarelados do Benfica e curiosamente três dos jogadores com maior protagonismo na equipa do Benfica neste início de época. Quantos treinadores o fariam ? Muito poucos, mas resultou em cheio e foi a chave do jogo.

A segunda parte, foi o FCP encostado as cordas a jogar em contra-ataque, com muito pouca posse de bola e sem oportunidades de golo.

Jogo terminado, vitória do Benfica, e o espectáculo do costume quando o FCP perde, aquele mini dirigente sinistro em bicos dos pés a fazer peito ao árbitro, o treinador Sérgio Conceição é expulso pela 20ª vez na sua carreira, curiosamente nunca na Europa, conferência de imprensa com direito a uma só pergunta e saída precipitada da sala de imprensa com murro na mesa.

A habitual ausência total de fair play, desportivismo, respeito pelo jogo e seus agentes, árbitros, adversários, jornalistas, etc., etc. O espectáculo degradante habitual quando o FCP perde, com hábitos e comportamentos de 3º mundo.

A maioria dos sócios do FCP estão contentes com esta cultura de Clube e esta forma de estar no desporto e eu não tenho nada a ver com isso, o Clube é deles, mas já não compreendo nem aceito o silêncio da Liga, da FPF e das entidades governamentais.

O que é preciso fazer mais? São aceitáveis estes comportamentos? Será que isto valoriza a nossa Liga? O fair play e o desportivismo não são importantes num país da Europa do século XXI? O que é preciso acontecer mais para haver uma intervenção firme das instituições desportivas e governamentais?

Por imposição governamental e com o entusiasmo da Liga, desejosa de pôr a mão no pote, o próximo grande projecto do futebol português é a Centralização dos Direitos Televisivos. O grande argumento é, que é o que acontece nos principais Campeonatos na Europa com sucesso. Há que acompanhar a modernidade.

Certo, mas será que na Premier League ou na Bundesliga é aceitável que um treinador de um Clube de 1ª divisão seja expulso 20 vezes sem uma punição severa? Ou que um treinador da 1ª Liga apareça nas conferência de imprensa só e quando lhe apetece e quando resultado lhe é favorável? Vídeos publicado na Internet a ameaçar árbitros e seus familiares?

Nunca.

Então a ideia qual é? É sermos muito modernos na Centralização dos Direitos Televisivos e do 3º mundo em termos de desportivismo, fair-play e justiça desportiva? É isso?

Não haverá trabalho prévio de moralização e valorização da nossa Liga antes da sua venda? Não há trabalho de casa a fazer para os Srs Directores da Liga e FPF que teimam em continuar assobiar para o ar perante acontecimentos graves? A quem interessa a continuação deste status quo? É uma questão de compadrio ou simplesmente de cobardia dos dirigentes da Liga e da FPF?

Roger Schmidt e Lourenço Coelho melhoraram muito o futebol do Benfica dentro e fora do campo. Espero que o Presidente Rui Costa faça a sua parte e cumpra o seu papel de Presidente e lidere um movimento de Clubes que exija mudanças às entidades oficiais no sentido da transparência, da celeridade e da eficácia da justiça desportiva no futebol português, previamente ao desastre da Centralização que se aproxima.

Como sócio do SLB quero que o meu Clube ganhe mais jogos e mais títulos que os outros Clubes mas quero ao mesmo tempo e na mesma proporção orgulhar-me do meu Clube. Não pode valer tudo.

Nem sempre a nossa história foi perfeita e também tivemos dirigentes de que não nos orgulhamos e muitas vezes também fomos muito incompetentes desportivamente e não merecemos ganhar.

Crescemos muito como Clube nos anos 60 em volta de um desígnio europeu e desde aí sempre fomos um Clube Nacional com uma identidade positiva, nunca dividimos os portugueses em Nortistas e Sulistas nem nos motivamos e unimos com base no ódio, na vitimização parola e na intimidação aos nossos adversários.

Por isso mesmo somos de longe o Clube mais seguido e amado pelo portugueses, sempre com casa cheia em qualquer estádio do país e até no estrangeiro, para inveja de muitos.

Ganhar e perder faz parte da vida e não podemos ganhar sempre mas esse legado de Clube de todos os portugueses, de todas as geografias, de todos os extractos sociais e que se estimula e motiva pela paixão pelo jogo e pela sua mística muito própria, essa é a nossa grande força e é esse legado que os nossos dirigentes actuais e do futuro têm a responsabilidade de defender e preservar firmemente porque é isso que nos faz grandes e nos continuará a fazer crescer como Clube aberto ao mundo, longe da miopia regional e do ódio e a inveja aos nossos adversários sejam eles quais forem.

Internamente o Clube precisa de maior consistência desportiva, de cometer menos erros desportivos, e externamente precisamos de uma justiça desportiva mais célere, justa e eficaz e que retire de vez da nossa Liga as práticas e os hábitos terceiro-mundistas.

Até quando?