Sou a favor do direito à greve, quando este é utilizado como ferramenta de reivindicação por salários dignos e por melhores condições de trabalho. Não obstante, acredito que em Portugal a greve é mais utilizada como ferramenta de prejuízo para aqueles que já não têm a vida facilitada.

Refiro-me, especificamente, à greve dos maquinistas da CP, setor que apresenta, talvez, no presente momento, a frente sindical mais mal organizada de todas. Só para a greve que afetou a normal circulação nos dias 27, 28 e 29 de junho – e depois foi desconvocada a meio do dia 28 de junho – foram 11 os sindicatos a convocar greves. O mesmo problema é causa do pré-aviso de greve para o final do mês de julho, uma vez que a entidade patronal só negociou com um dos tantos sindicatos que existem. Isto fez-me regressar a uma minha convicção já antiga: não existem verdadeiros sindicatos em Portugal.

Aquilo que partiu de uma necessidade convicta e justa de luta por melhores condições de vida durante a ditadura e nos anos seguintes tornou-se, infelizmente, numa tentativa vil de segurar uma classe inteira de trabalhadores a um partido político em vias de extinção.

No caso particular dos 11 sindicatos dos maquinistas da CP o caso torna-se ainda mais grave, quando nos deparamos com uma empresa de interesse nacional com injeções de capital público a, propositadamente, aumentar o caos que estas situações por si já provocam, anunciando apenas 10 minutos antes a supressão de comboios de longo curso, com os quais várias pessoas confiam, comprando o bilhete com bastante antecedência. Deplorável!

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A solução para este problema não é terminar ou dificultar o direto à greve, como alguns podem pensar. Passa por algo muito mais abrangente e urgente em Portugal: a necessidade da concorrência do mercado.

No dia em que a ferrovia for explorada por várias empresas e não só uma, as entidades patronais terão de criar condições propícias para que os seus trabalhadores se mantenham na empresa. Ao mesmo tempo, os utilizadores terão a possibilidade de escolher o serviço a que querem recorrer e, em dias de greve, poderão continuar a comparecer ao trabalho ou às aulas, porque não estão dependentes de uma só empresa.

Há falta vontade de se fazer cumprir este objetivo. Talvez porque sabemos que as atuais empresas públicas ou privadas com injeção de capital público não são capazes de lidar com concorrência, mas a culpa não cai sobre o modelo da empresa ou da presença do Estado na mesa das negociações, cai sobre a má gestão da própria empresa e da falta de visão dos governos.

E vamos continuando a fazê-lo, com pequenas exceções: o plano ferroviário para 2050, desenhado pelo anterior governo, e a compra de 117 novos comboios (compra que está atrasada devido às burocracias asfixiantes dos concursos públicos tal como estão desenhados atualmente). Olhemos por exemplo para o sucesso da Rede Expressos, privatizada em 1995, que em 2019 passou a ter concorrência da FlixBus e teve o mercado liberalizado: a empresa só cresceu e melhorou, e hoje serve mais de 140 cidades portuguesas com ligações e horários que os comboios nem em 2050 serão capazes igualar. A menos que o panorama mude agora!