Quando passava por uma passagem desnivelada por baixo da linha férrea junto a Miramar (Gaia), acabadinha de fazer, deparei-me com um desses gatafunhos grotescos, pintados a spray preto na parede recém pintada.

Mais à frente, junto com mais uns gatafunhos, estava um boneco mais elaborado, a cores, que deve ter dado trabalho fazer, mas era igualmente horroroso.

Isto tem um nome: vandalismo. E está tão generalizado no nosso País, que já ninguém estranha: o feio, o disforme, o sujo tornou-se o ambiente das nossas cidades, com a notável complacência das autoridades.

Se vamos a uma dessas aldeias do interior, onde os habitantes ainda têm brio e mantêm as paredes cuidadas, espantamo-nos com a sua beleza: é que não estamos habituados a isso. Habituaram-nos a viver no meio do sujo, do estragado. Será que por trás desta lassidão das autoridades está uma intenção de nos insensibilizar para o feio?

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Nas nossas cidades, não encontramos um poste de electricidade, um semáforo, um sinal de trânsito que não tenha um gatafunho. Isto é normal? Isto é expressão artística? Ou não será antes criar um ambiente onde se promove a delinquência?

É bem conhecido o que fez Giuliani quando foi mayor de Nova York na segunda metade dos anos noventa: combateu o pequeno crime na cidade (incluindo o grafitti), e isso criou a percepção de que nenhum crime é tolerado. O resultado foi uma diminuição drástica do crime em geral na cidade de Nova York: caiu para metade nos oito anos da sua administração.

É que o ambiente nas nossas cidades importa. Desleixo conduz a mais desleixo; limpeza induz mais cuidado para não sujar. Todos sabemos isso, até por experiência própria. E pequeno crime conduz a crimes cada vez maiores; desrespeito pelo património leva a vandalismos cada vez mais graves.

Há também um factor educativo. Suponho que sejam jovens os que fazem estes actos de vandalismo; que respeito terão pelas coisas públicas os futuros adultos que se habituaram a estragá-las?

Será que nessa famigerada disciplina de cidadania eles aprendem a respeitar o património (cultural, privado, do Estado, etc.)? Por que não incluir no programa da disciplina uns trabalhos de campo de limpeza dos grafitti em torno da sua escola?

Fica aqui um apelo às autoridades (governo, autarquias, polícias) para que tomem medidas concretas para acabar com estes actos de vandalismo e para voltar a restaurar a limpeza das paredes e da sinalética das nossas cidades.