As últimas semanas têm sido férteis em análises à conjuntura política nacional. Primeiro, com as eleições e congresso do PPD/PSD, em que a crise existencial por que passa deixou muitos com dúvidas sobre se o partido se deva situar à direita, ao centro ou mais à esquerda, como defende ineditamente a actual liderança do partido. Posteriormente, com o aproximar do congresso do CDS-PP têm abundado, nas colunas de opinião, reflexões sobre se a estratégia e discurso do partido devem privilegiar a ideologia ou o pragmatismo. Não obstante o interesse dos referidos temas, penso que esta semana, não será menos convidativa uma análise ao partido socialista. Melhor, aos partidos socialistas.
Isto porque, no passado domingo, se realizaram eleições em Itália. A enorme criatividade que envolve a complexa vida política italiana leva alguns a falarem do fim da II República no país da squadra azzurra. No entanto, também não é essa a questão que aqui se pretende destacar, mas antes o colapso de mais um partido europeu de matriz socialista.
Penso que o termo seja precisamente mais um, uma vez que a lista já vai longa, bem longa mesmo. Ora vejamos apenas alguns exemplos: a hecatombe começou em 2015, na Grécia, com o PASOK a alcançar uns surpreendestes 5% dos votos do eleitorado. Em Espanha, o PSOE de Pendro Sánchez viveu uma queda abrupta para uns modestos 23 %. Em França, o partido socialista – baluarte desta família política – sai do governo Hollande com uns embaraçosos e humilhantes 6% na primeira volta das eleições presidenciais. Na Alemanha, Martin Schulz, após presidir ao Parlamento Europeu, regressa à política nacional como se de D. Sebastião se tratasse, para obter uns insuficientes 21%. Desta feita, em Itália, foi Matteo Renzi a deixar mais um partido de matriz socialista com menos de 20%. Isto sem referir os desaires socialistas na Holanda, Polónia e República Checa.
Desta breve análise podemos concluir que os partidos de matriz socialista têm vindo a somar pesadas derrotas por todo o continente europeu. Várias são as causas apontadas como fundamento da crise socialista no velho continente, das quais se destacam uma economia estagnada e um desemprego com níveis elevadíssimos. Importa não esquecer, apesar da sua leitura mais complexa, que a imigração teve igualmente um papel fundamental nestes resultados.
Face a esta tendência eleitoral, e a um ano das eleições europeias, cresce a curiosidade relativamente a como será a composição do Parlamento Europeu a partir de 2019. Passará o Partido Socialista Europeu por um processo de emagrecimento involuntário como tem acontecido nos parlamentos dos diferentes Estados-Membros?
Aqui chegados, surge a questão: será o partido socialista português – ou António Costa, se a imagem facilitar – o último moicano do socialismo na Europa?
À partida, a resposta seria não. Posteriormente, talvez sim. Isto é, importa não esquecer que o PS não escapou ao desaire eleitoral dos seus congéneres europeus. Com excepção para as eleições de 2011 – terceiras em que concorre José Sócrates, com tudo o que isso significa – é necessário regressar às maiorias absolutas de Cavaco Silva para encontrarmos um resultado tão baixo do PS em eleições legislativas. Após o período Troika, os 32% obtidos em 2015 são resultados manifestamente fracos. Ou seja, depois destes resultados, António Costa estaria longe de ser o último moicano do socialismo europeu. Não fosse o engenho do Primeiro-Ministro em erigir uma geringonça de estabilidade periclitante e o PS estaria na mesma travessia do deserto que atravessa a sua família política no resto do continente. No entanto, a inexistência em Portugal de problemas relacionados com imigração, muito vividos em alguns dos referidos países europeus, e a submissão e bom comportamento do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista permitiram ao PS não só sobreviver à crise que assola o socialismo europeu, mas também passar o vírus para os sociais democratas. Desta forma, as possibilidades de António Costa levar o prémio de último moicano do socialismo europeu aumentam.
Se no contexto europeu os partidos socialistas vivem o imperativo de reinventar as suas políticas para disputar eleições, em Portugal são os sociais-democratas quem vive esse drama. Será que a nova estrutura do sistema político-partidário da Europa só tem espaço para um partido do dito centrão?
Advogado