Qualquer bom político sabe que a política se faz para o presente, mirando sempre o futuro. É essencial que uma legislatura seja marcada, não só por medidas concretizadas, mas, também, por projetos que garantirão a sustentabilidade do sistema a longo prazo e apenas se concretizarão passando vários anos.

Estas medidas podem parecer invisíveis ao eleitorado mais afastado do processo político, para alguns até podem parecer medidas desnecessárias, pouco dignas do tempo e atenção dos deputados. Projetos a longo prazo são sempre difíceis na política portuguesa, não só pelo baixo impacto eleitoral, mas pela descontinuidade dos projetos nas variações dos governos esquerda-direita, nas rápidas e brutais alterações do panorama económico do país ou na incomensurável burocracia. A integração dos jovens na política portuguesa é um destes exemplos.

Nas últimas legislaturas portuguesas, tem falhado de forma agressiva a comunicação e o debate com os mais jovens. Precisamos de ouvir e compreender os jovens que estão hoje a ingressar nas nossas escolas e nas nossas universidades. São estes jovens, a classe mais bem preparada e mais bem informada de sempre, que poderão realmente fazer cumprir o progresso económico, industrial, político e cultural de um país que ainda sofre várias represálias de 46 anos de ditadura.

Não precisamos de ouvir os jovens meramente com o intuito de resolver os problemas que os assombram (o alto custo de vida, a crise climática, os baixos salários, entre muitos outros) e fazer contínuas vagas promessas, mas, sim, de entender como é que eles vivem, como imaginam o futuro: o seu, das suas famílias, do seu bairro, das cidades em que vivem, do sistema educativo que os ensina, da cultura. Não o estamos a fazer, estamos a falhar!

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Esta falha, embora pareça inofensiva e até normal, está, agora mais do que nunca, a criar um intervalo intergeracional. Ficámos a saber, segundo estudos recentes, que os jovens, ao contrário do que se dizia, estão informados e envolvidos na política e em movimentos sociais de variadas causas e formas. É o sistema eleitoral e, consequentemente, os partidos políticos que não estão a conseguir alcançar o público jovem.

Pela primeira vez, temos uma geração com acesso imediato ao mundo inteiro a tentar viver confortavelmente num país com instituições envelhecidas, presas no tradicional, cujo esforço para se aproximar deles chegou tarde e não tem tido muito sucesso. Porque não basta publicar um Tik Tok e esperar que o algoritmo faça o resto do trabalho. É preciso compreender os movimentos sociais das novas gerações.

Sempre ouvi dizer, durante a minha adolescência, que os meus ideais políticos eram meras miragens temporárias da idade e iriam amadurecer. Mesmo que estes tivessem de facto amadurecido com o tempo, não significa que aquilo que eu tinha a dizer há sete anos tivesse menos valor do que aquilo que eu tenho a dizer hoje ou do que aquilo que terei a dizer daqui a vinte anos. Os problemas que procurava resolver continuam presentes, a forma de o fazer é que poderá ter sofrido alterações.

Os jovens estão ansiosos para ser ouvidos e por isso os partidos políticos devem começar por repensar as juventudes como um simples viveiro de possíveis-futuros candidatos a longo prazo e passar a vê-las como uma força interna, ao mesmo nível que os órgãos do partido, com um peso de opinião semelhante e com oportunidades de integrar listas às instituições democráticas. As juventudes partidárias devem, ao mesmo tempo, parar de se olharem como muleta dos partidos e como campos de preparação para cargos de alto nível e passarem a ter um papel mais cívico, na vivência da democracia como um movimento intelectualmente desafiador e plural e muito menos limitador de um só ideal, muito menos torcedor de bancada do clube de eleição e abanador de bandeiras.

As juventudes têm tido o seu papel ao longo dos anos e é um papel válido e de mérito. Também a pouca representação parlamentar com menos de 30 anos deverá deixar orgulhosos todos os interessados neste tópico, mas estas não são apostas seguras para o futuro de uma geração muito mais fluída e cética das grandes narrativas que nos guiaram até agora.

Se queremos um sistema sustentável daqui a setenta anos, precisamos de começar a prepará-lo no presente, olhando para o passado como um exemplo do que foi feito e não daquilo que deverá a continuar a ser. O futuro é que deveria ditar as regras do presente, mas, em Portugal, temo que seja sempre o passado a fazê-lo.