Vai haver jogo, mas isso todos sabem. Assim como sabem que é esperado que, diariamente, trabalhemos para ‘ser a melhor versão de nós mesmos’. Não faltam palpites dos treinadores de bancada, quer para o relvado, quer para a vida real.

Desde cuidar do corpo, da saúde (faça uma alimentação equilibrada! faça exercício físico! durma!) e da mente (aprenda a meditar! pratique mindfulness! diga adeus ao stress!), ao cultivo de relações interpessoais (desenvolva relações saudáveis e significativas com familiares, amigos e colegas! invista no autoconhecimento) e também de formação (procure novos conhecimentos! desenvolva competências!), passando pelo work-life balance (dê o melhor de si! concilie a vida profissional com a vida pessoal! seja autêntico! inovador! esteja a par da evolução dos mercados e das tecnologias! lembre-se das reuniões de pais! e dos convívios!) até ao estilo de vida (colecione memórias! pratique a gratidão! faça voluntariado! aja de forma sustentável! seja resiliente!)

Cansados? Eu já estou. É que, à medida que nos afundamos neste mar de expectativas, surgem a questão crucial: até que ponto essa busca incessante pela perfeição nos torna verdadeiramente melhores? E o que podia ser uma fonte de inspiração transformou-se num ideal imposto, que é esmagador. Um peso, uma medida, da nossa própria insuficiência.

Por que motivo continuamos a alimentar estas definições de sucesso e de felicidade, muitas vezes às custas da nossa própria autenticidade? Ao seguir cegamente estes ideais, sacrificamos a oportunidade de nos aceitarmos como somos, com as nossas imperfeições e tudo mais. E, inadvertidamente, entregamos a nossa liberdade individual a uma pressão constante para corresponder a um padrão irrealista.

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Que tal repensar o nosso posicionamento face a estas expectativas? Questionarmo-nos sobre se as metas que nos autoimpomos nos levam genuinamente a uma vida mais gratificante.

O meu ponto de vista é o de que a verdadeira construção de uma melhor versão de nós mesmos deve incluir não apenas o crescimento pessoal, mas também o respeito pela nossa autenticidade, e a coragem de nos insurgirmos contra o status quo quando necessário.

Assim sendo, este fim de semana, vou torcer pela nossa Seleção sem maquilhagem. Vou estar em stress para que ganhem, com bifanas e imperiais a acompanhar e sem crianças para supervisionar.

Vou para um sítio cujo nome não posso revelar, mas que não é da moda nem consta dos guias Michelin. Vou de carro, e não a pé, porque estou cansada. Levarei apenas um grupo restrito de amigos, aos quais já pedi que não passassem a palavra, porque não me apetece socializar com desconhecidos. Também não vou levar o telemóvel, para que não haja distrações, e não sei quantas horas vou dormir (mas serão poucas).

No dia seguinte vou abster-me dos smoothies e pedir fast food. Não vou ler livros, nem jornais, para me esquecer, por um dia, de tudo. E não me desafiem para o ginásio ou caminhadas — vou ficar no sofá a ver séries que não exijam grandes raciocínios. Provavelmente vou deixar cair um compromisso cultural, defraudando expectativas de terceiros, e por isso terei menos likes nas redes sociais, mas paciência. Este fim de semana serei, à minha maneira, a melhor versão de mim mesma porque vou respeitar o que me apetece fazer, e ser. Nada mais.

E se o calor apertar, e a praia chamar, não estou nem aí — os planos de respeito pela minha vontade continuam! Também não pretendo quebrar recordes de selfies para mostrar que não segui o plano para o verão. E se alguém me ligar, a resposta será automática: Não estou em meditação, mas estou igualmente off. Tente outro dia.