Sendo a transição digital um dos instrumentos essenciais para a estratégia de desenvolvimento do país, o Plano de capacitação digital dos docentes foi assumido como um dos veículos fundamentais para a Educação Digital. Tudo certo. Questiono, no entanto, para quando um Plano de capacitação emocional que crie condições favoráveis ao corpo docente para prestar melhor serviço e, consequentemente, uma melhor qualidade de ensino.

Neste momento, muitos professores já fizeram, e outros estão a fazer, formações na área do digital, proporcionadas pelo Ministério da Educação, que procuram fornecer um conjunto de competências digitais específicas para a inovação e melhoria da qualidade da educação. Estou a frequentar essa formação e, na fase de diagnóstico do referido Plano de capacitação digital, sou considerada “Líder”. Na escola onde estou colocada este ano, todos os alunos já possuem os seus kits pedagógicos constituídos por um computador, router de acesso à internet e headphones. Então, o que falta?

Um Plano de capacitação emocional dos docentes. Um Plano que considere as competências emocionais essenciais para o desenvolvimento do país. Que veja a capacitação emocional de educadores (e aprendentes) como a melhor forma para enfrentar desafios e mudanças. Que diagnostique os níveis de proficiência emocional de professores e os capacite para utilizar as emoções não só para melhorar o ensino, mas também para as interações profissionais com colegas, encarregados de educação e toda a restante comunidade escolar. Que ajude a purificar o ambiente de cansaço, stress, desmotivação que muitas vezes se reporta sobre as escolas (relembre-se que, num estudo de 2020, Portugal é um dos países da Europa onde os professores manifestam maiores níveis de stress).

Por exemplo: se a área a diagnosticar fosse “Envolvimento pessoal”, a competência pessoal dos educadores seria expressa pela sua capacidade para escutar os alunos e não só para melhorar o ensino. Neste ponto, uma das competências a desenvolver seria a escuta ativa, a partilha e troca de conhecimentos e experiência, a reflexão individual e coletiva, bem como a avaliação crítica e desenvolvimento ativo das emoções. Lembro-me sempre de Montaigne, para quem o professor ideal era aquele que “escute o seu discípulo falar por seu turno” e que “avalie dos progressos que ele tenha feito, não pelo testemunho da sua memória, mas pelo da sua vida”.

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O professor autodiagnosticaria o nível de consciência, integração ou mesmo inovação perante os desafios que no quotidiano lhe são colocados.

Como lidar com alunos que sofrem de crises de ansiedade e pânico? Que entram na aula a chorar porque foram vítimas de maledicências nas redes sociais? O Plano de capacitação emocional auxiliaria todos os professores a fazê-lo, pelos seus alunos, e por si.

Outro exemplo, na área “Ensino Aprendizagem”. Uma vez que as emoções podem melhorar as estratégias de ensino de muitas maneiras, seria eventualmente diferenciador o professor refletir sobre a eficácia das suas intervenções pedagógicas, experimentando e desenvolvendo novos métodos de aproximação ao aluno, dentro e fora da sala de aula, capazes de proporcionar orientação e assistência oportuna e dirigida.

Com um Plano de capacitação emocional do docente poder-se-iam experimentar e desenvolver novas formas e formatos para uma educação mais personalizada, com atividades adaptadas ao nível de competência, interesses e necessidades de cada aluno e de acordo com os níveis de proficiência dos docentes.

Como lidar na mesma sala de aula com mais de 25 jovens, em que há questões de défice de atenção, pobreza, maus tratos, abandono familiar, doenças graves? O Plano de capacitação emocional auxiliaria todos os professores a fazê-lo pelos seus alunos, e por si. Socorro-me das palavras do pedagogo José Pacheco “não há problemas de aprendizagem, há problemas de ensinagem”.

Sou professora contratada do grupo 400 (História) com poucos anos de serviço, apesar de ter dado a primeira aula nesse inesquecível dia 11 de setembro de 2001. Quando há poucos anos decidi voltar ao ensino, senti-me rapidamente à vontade com as matérias das minhas áreas disciplinares, mesmo que a minha formação base não me tenha preparado para ser professora de Cidadania e Mundo Atual, Área de Integração, Cultura, Língua e Comunicação; ser professora de Cursos de Educação e Formação (CEF), Cursos Profissionais, Educação e Formação de Adultos (EFA); ser professora em Estabelecimentos Prisionais, Diretora de Turma, Diretora de Curso. Parece longo o currículo, mas sou uma professora contratada que tem pela primeira vez um horário completo anual. Como lidar com tudo isto?

Falta-me formação e Capacitação emocional. E tempo. Mas para esse tema escasseiam-me os caracteres.

Professora do 3.º Ciclo e Secundário

‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.