Aqueles entre nós que são menos atentos podem não ter reparado, mas os podcasts chegaram a Portugal em força e estão para ficar. É impressionante observar como, num curto espaço de tempo, este setor cresceu e implementou-se no meio cultural português, contando com a participação de produtoras independentes, grandes meios de comunicação (Observador, Expresso, Público, Renascença ou o grupo Cofina), celebridades (Joana Amaral Dias, Joana Marques, Pedro Teixeira da Mota, Carolina Deslandes e muitos outros) e milhares de pessoas que todos os dias dedicam o seu tempo e paixão a este meio.

O podcast enquanto meio cada vez apresenta mais vantagens competitivas em relação a outras formas de produção cultural. Tem custos de produção relativamente baixos, não é limitado por barreiras físicas – na medida em que não precisamos de ficar com livros em stock ou garantir tempo de sala de espetáculo –, pode ser consumido em momentos que poucos outros conteúdos podem e, acima de tudo, abrem portas para um enorme manancial de histórias, vozes, formatos e géneros que raramente são abordados em Portugal. O podcast é o meio perfeito para trazer à superfície os dilemas de comunidades subrepresentadas nos media portugueses ou para criar grandes narrativas passadas em universos alternativos e mundos imaginários. A principal limitação é a dedicação e imaginação de quem os produz.

Contudo, há um problema que afeta este setor e que merece uma resposta coletiva de quem nele se encontra: A falta de reconhecimento e validação formal do mesmo. O podcast cumpre os mesmos critérios e padrões que qualquer outra forma de arte: tem mecanismos e limitações próprias, tem uma história própria, tem audiências fidelizadas a um modelo próprio e tem uma identidade (subjetiva e subentendida) que permite identificá-la como própria, em oposição a de qualquer outro meio. Dado tudo isto é de estranhar que esta complexa e única forma de transmitir mensagens, experiências e conhecimentos seja ainda vista como uma forma de publicação de ficheiros multimédia e não como uma expressão artística por si só. Mais estranho ainda é quando vemos esta limitação plasmada nos apoios e concursos à produção artística que tanto primam qualquer outra das 7 Artes, mas que barram completamente a entrada dos podcasts nesse mesmo universo.

Tenho a completa convicção que o podcasting pode tornar-se na 8ª forma de Arte. E tenho-a devido a todo um universo de experiências que já pude passar com podcasts. Já ouvi podcasts de true-crime que resultaram na mudança de decisões judiciais, já ouvi mega reportagens de investigação que trouxeram ao de cima problemas escondidos nos mais profundos subterfúgios da sociedade portuguesa, já viajei por universos de sonhos cósmicos e terrores lovecraftianos em aventuras interativas, já ouvi grandes líderes mundiais a apresentarem soluções para as crises do futuro. Já aprendi, já ri, já chorei e já mudei milhares de vezes de opinião sobre certezas que considerava profundas e inabaláveis. Como qualquer outra Arte, já senti, já aprendi e já me deparei com perspetivas diferentes das minhas.

É por todo esse legado, todas essas experiências, perspectivas e vozes, que acredito, cada vez mais, que o podcast é a 8ª Arte.

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