A resposta é não, pelo menos para já. Mas isso não significa que possamos todos dormir descansados sobre o tema. A IA (Inteligência Artificial), tal como é utilizada atualmente, pode apenas consolidar um fenómeno já conhecido; mas pode fortemente contribuir para reforçar opiniões já formadas. As eleições presidenciais americanas de 2016 são um exemplo bem conhecido. As eleições na Indonésia também: através de um deepfake, o general Prabowo Subianto foi politicamente ressuscitado.

Um estudo da Universidade de Oxford demonstrou que as fake news se propagam com uma velocidade superior às notícias reais e comprovadas. As falsidades associadas à política disseminam-se a uma velocidade superior ao dobro das notícias verdadeiras.

Podemos culpar os algoritmos das redes sociais, que privilegiam as notícias falsas — este é um facto. No entanto, a verdade é que somos nós, humanos, a contribuir de forma preponderante para este fenómeno. As redes sociais tornam-se mais fortes quanto mais tempo passamos nelas; qualquer artifício que nos prenda a elas é fruto de estudos aprofundados aplicados pelas proprietárias das plataformas.

Mas não é este o único motivo pelo qual as fake news na política se propagam com maior rapidez. A razão real reside no cérebro, sempre sedento de novidades. Esta é a conclusão a que chegou o cientista Sinan Aral do MIT, que tem estudado muito este fenómeno, cruzando dados do Twitter desde o seu lançamento; tendo em conta elementos como a propagação das notícias, a origem do perfil que as lançou, ele fez um forte uso da “Sentiment Analysis” (análise do sentimento associada às reações dos utilizadores, como raiva, desgosto, prazer, indiferença, entre outras).

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Face a uma notícia falsa, a reação mais natural é reconhecer a sua inutilidade e passá-la à frente, mas nem todos reagem da mesma forma. Basta ver a difusão que teve a burla “Olá pai, olá mãe”. Seguramente, a larga maioria das pessoas que recebeu estas tentativas de extorsão não caiu na armadilha, mas o que fez notícia não foi o elevado número de tentativas falhadas, mas o número reduzido de tentativas bem-sucedidas.

Os especialistas sabem disso, e quando são contratados para campanhas políticas, especialmente por partidos populistas, aplicam estas técnicas de propaganda assimétricas e híbridas. Existem, felizmente, ferramentas criadas para detetar este fenómeno. Geralmente, elas utilizam uma combinação de métodos e indicadores para identificar atividades suspeitas. Aqui estão alguns elementos comuns que essas ferramentas utilizam para verificar se um perfil recorre a um bot ou troll:

  1. Padrões de atividade: Os bots tendem a ter padrões de atividade muito regulares e automatizados, como publicar em intervalos precisos ou retuitar conteúdo em massa. As ferramentas podem analisar esses padrões para identificar comportamentos não humanos.
  2. Conteúdo repetitivo ou spam: Os bots frequentemente partilham repetidamente o mesmo conteúdo ou espalham spam. As ferramentas podem detetar contas que publicam mensagens idênticas várias vezes ou que partilham links suspeitos com frequência.
  3. Interações suspeitas: Os bots podem interagir de maneira estranha com outros utilizadores, como retuitar ou responder a tweets de maneira incoerente. As ferramentas podem analisar essas interações para identificar padrões suspeitos.
  4. Origem da conta: Algumas ferramentas verificam a origem das contas, procurando por padrões como endereços de IP semelhantes ou registos de criação de conta em massa, o que pode indicar a presença de bots.
  5. Atividade coordenada: Bots e trolls frequentemente participam de campanhas coordenadas para espalhar desinformação ou manipular discussões. As ferramentas podem analisar padrões de atividade entre várias contas para identificar essas campanhas.
  6. Análise de conteúdo: Além disso, algumas ferramentas usam análise de conteúdo para detetar linguagem agressiva, discurso de ódio, desinformação ou outros indicadores de comportamento inadequado.

O leitor poderá, de forma autónoma e independente, verificar quem utiliza estes métodos e assim estar mais preparado quando ler uma publicação, seja ela proferida por um populista ou não.