Os professores Luís Valadares Tavares e João César das Neves publicaram um livro com este título, o qual representa uma bênção para o debate a realizar durante a campanha eleitoral, agora no início, na medida em que permite uma avaliação rigorosa dos mais diversos sectores da governação em Portugal e das razões por que neste século XXI estagnámos economicamente, os portugueses empobreceram, os serviços públicos regrediram e o País atrasou-se relativamente à maioria dos restantes países da União Europeia. Livro que não foi feito com base em meras opiniões, mas em dados de entidades nacionais e internacionais de quem não se pode seriamente duvidar.
O livro é tanto mais importante quanto temos assistido a uma poderosa barragem de propaganda oficial, criadora de uma falsa ilusão sobre a realidade nacional, que urge desmontar com a verdade dos dados de instituições credíveis, o que este livro veio facilitar, dados que espero sejam usados durante a campanha e que tratam as mais diversas áreas da vida nacional, desde os salários à saúde, da produtividade à educação. Pessoalmente, durante os próximos dois meses dedicarei os meus textos a analisar cada uma dessas áreas, começando com a saúde.
Por exemplo, enquanto na esperança de vida média estamos razoavelmente bem, já nos cuidados primários e secundários estamos muito longe das médias europeias e no caso dos diabetes o desvio é de 67% para pior e na percentagem da população com pouca saúde o desvio é de 95%.
Contrariamente às constantes afirmações do Governo relativamente ao chamado sucesso do sistema de saúde durante a pandemia, a realidade é que em Portugal morreram 2564 pessoas por cada milhão de habitantes, em Espanha 2535, em França 2502, na Irlanda 1686 e nos Países Baixos 1336, sendo a média 2287. Pior do que nós apenas a Itália com 3100 mortos, porventura por ter sido o primeiro país europeu a receber a contaminação. O facto é que, infelizmente, a história contada pelo governo está longe da verdade e, como ao tempo escrevi várias vezes, propondo a utilização de hotéis a fim de separar os idosos, muitas histórias de horror aconteceram em muitos lares. De facto, ainda ocorrem.
Muitas outras questões da saúde são tratadas no livro, como a deficiente organização do SNS, a má utilização dos meios tecnológicos – por exemplo o reduzido número de horas diárias de utilização dos recursos radiológicos – a não existência da Carta dos Equipamentos de Saúde ou o atraso na utilização dos meios digitais para “melhorar as comunicações e marcações entre cidadãos e serviços, continuando a não se poder marcar simples consulta na generalidade dos centros de saúde, e a não conseguir fornecer os resultados digitalmente”.
É ainda tratada a questão dos custos do SNS, recordando o sucesso das parcerias publico/privadas em alguns hospitais, sucesso financeiro reconhecido pelo Tribunal de Contas e sucesso no atendimento reconhecido pelos utentes, mas que, por razões meramente ideológicas, essas parcerias foram descontinuadas. Ainda quanto a custos refere o livro: “podendo citar-se os anos do ministro Paul Macedo (2011-2015), em que a factura foi reduzida, e o mais recente com a ministra Marta Temido (2018-2022), em que se verificou a tendência inversa”.
Mais concretamente, por exemplo, em Portugal a despesa per capita em saúde é de 3347 euros e 61% pago pelo Estado e na Irlanda a despesa é de 5083 euros e 76% pagos pelo Estado. “Ou seja, Portugal afasta-se destes países não só por ter menor despesa per capita, mas também pela menor contribuição pública. Este esforço acrescido de contribuição dos cidadãos para a saúde, não só agrava as desigualdades sociais, mas também regionais, pois no interior e nas zonas de menor densidade populacional escasseiam os meios privados, pois a sua rendibilidade é menor, o que implica manos acesso efetivo à oferta de saúde. Com efeito, os três principais grupos privados de saúde oferecem serviços em 34 municípios, sem que os restantes 344 municípios usufruam deles.”
Muito mais informações são fornecidas neste livro que aconselho os leitores a lerem para um melhor juízo, porque mais bem informado, antes de colocarem o voto na urna por mero hábito ou simpatia.
01-01-2024