Aproximo-me do Porto através da A28 num domingo de tarde. Ultimamente há um trânsito infernal em todas as vias de acesso e em todas as estradas ou ruas da cidade. Também hoje, mesmo logo depois de almoço, a fila começa antes da saída de Matosinhos. O meu carro avança vagarosamente e tenho a certeza que se fosse a pé chegaria mais depressa ao meu destino. Mas como não posso deixar o carro no meio da estrada, respiro fundo. Chegado à Rotunda dos Produtos Estrela, o caos do costume. E assim continua até às saídas para a Ponte do Freixo e Ponte da Arrábida, pois afinal a grande maioria dos veículos nem vai para o Porto. A partir daí tudo fica mais calmo, até chegar à Rotunda da Boavista – é que os semáforos estão novamente avariados e há veículos pesados a circular.

Quando me candidatei à Câmara do Porto, há três anos atrás, um dos eixos fortes em que apostei era exatamente o trânsito, algo que já na altura era um problema grave. Em 2020, o Porto era a cidade com mais trânsito da península Ibérica e os condutores passaram, em média, 29 minutos por dia parados nas filas de trânsito. Apontei problemas, como a fraca rede viária, a infraestrutura das vias e as inundações repetidas. E liderei as soluções, depois de reunir com ordens profissionais e associações do setor. É certo que o Porto não é uma cidade grande, tem ruas estreitas e a circulação rodoviária nunca foi fluída: como todos as vias se interligam, é fácil ficar tudo parado rapidamente. Mas a péssima gestão dos últimos tempos trouxe obras intermináveis, feitas e desfeitas, atrasos intermináveis nas empreitadas, custos ilimitados, sem espaço para peões, mas com trotinetas suicidas no meio dos automóveis e um MetroBus que uns apelidam de desgraça e outros de vergonha.

A sociedade civil tem fornecido ideias muito relevantes, tanto por profissionais reconhecidos como por cidadãos preocupados e desgastados com o agravamento do problema do trânsito. Por exemplo, há uma petição que propõe “transformar a VCI numa avenida urbana acessível, segura e amiga do ambiente.” A ideia seria desclassificar como  sendo auto-estrada, proibir a circulação de veículos pesados e passá-la para a competência dos municípios. De seguida, este grupo de cidadãos propõe uma série de medidas, desde redesenhar todo o seu trajeto até ao envolvimento da comunidade local. Que inspiradoras são este tipo de iniciativas, ainda mais quando vêm de gente qualificada e com um grande amor genuíno pelo Porto. Isto é tudo o que a cidade precisa urgentemente e no caso específico do trânsito, de arquitetos e engenheiros ou outras pessoas que possam dar o seu contributo com ideias para sairmos do caos atual. É este o Porto que sempre conheci.

O estacionamento da era Rui Moreira é mais um grande negócio que serve todos menos os portuenses ou quem aqui trabalha. Temos de dar a moeda para não sermos impiedosamente multados ou aleatoriamente rebocados, agora também pelos serviços dos STCP. Além disso, outra novidade do porto ponto: também é preciso dar uma moeda aos arrumadores, sob pena de ficarmos com o veículo riscado. Afinal, o infeliz regresso do flagelo da toxicodependência em cada esquina, com jovens às portas da morte a injetarem-se à frente das crianças. É este Porto destroçado que Rui Moreira deixa como herança, um Porto completamente dependente do turismo, sem serviços ou indústrias inovadoras, com preços da habitação tão estratosféricas que até a Universidade está a ser obrigada a refugiar-se e crescer noutras cidades. É este o Porto de estratégia económica neoliberal da equipa do Rui Moreira, onde impera a assimetria e a desigualdade, a ineficiência e a incompetência. Pior ainda, o socialismo que sempre apoiou o presidente da Câmara, nunca apoiou o burgo. Ao contrário do que a maioria das pessoas (que não conhecem a cidade) pensa, há só uma pequeníssima parte da cidade que cresceu e evolui nos últimos anos, a parte dos postais e dos anúncios, da Ribeira até à Foz. O resto do Porto é miserável e a cada dia da governação de Rui Moreira, pior fica: lojas abandonadas em Campanhã, ruas esquecidas no Bonfim, gente com fome e turistas perdidos.

O movimento Rui Moreira prometeu ser um grupo diversificado em defesa do Porto, com o apoio do CDS e depois da IL, mas foi o contrário de tudo isto. Durante uma dúzia de anos e sempre de mãos dadas com o socialismo, destruiu a cidade. Levado ao colo por uma comunicação social que o identifica sempre como “o independente” – quando de independente nunca teve nada. O porto ponto precisa urgentemente de um parágrafo. Sem socialismo, liberalismo ou outros oportunistas. Nós, que somos verdadeiramente do Porto, não gostamos de ser enganados.  Nós, que somos verdadeiramente do Porto, estamos prontos para recomeçar a escrever o futuro. E da nossa terra em destroços, construiremos uma nova, com o engenho, a honra e a alma que só os portuenses sabem.

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