Os economistas habituaram os políticos, e estes habituaram os eleitores, a comparar o rendimento dos países uns com os outros em termos reais, isto é, sem consideração da inflação.

Trata-se de um hábito adquirido num período muito feliz ao longo do qual a inflação foi praticamente nula no nosso país e nos países com que nos vimos a comparar há mais de mais de duas décadas, sendo pois natural que não tenha sido questionado.

Num quadro em que a inflação está a fazer um inesperado regresso, com níveis diferentes de país para país, e sobretudo com reações macroeconómicas nacionais diferentes mesmo no seio da União Económica e Monetária europeia, torna-se no entanto bastante evidente que as comparações de rendimento em termos nominais também têm o seu papel.

Com efeito, os pessoas concretas  não costumam fazer cálculos só em termos reais para tomar decisões nas suas vidas, quer seja para comparar os salários que podem auferir em empresas diferentes, dentro do seu país ou entre esse e outros países, quer seja para comparar os preços dum mesmo produto ou serviço que pretendem comprar.

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Por conseguinte, as percepções que as famílias ou as pessoas singulares têm da sua riqueza ou do seu rendimento, em relação à riqueza ou ao rendimento dos outros, é também baseada nos valores nominais dos salários que podem obter e dos bens e do património que possuem.

Vem isto a propósito da discussão acalorada que tem tido lugar entre nós desde o ano passado sobre a evolução ao longo deste século da posição relativa do rendimento per capita de Portugal e dos estados membro da UE que outrora pertenceram ao Pacto de Varsóvia.

E sobretudo das ultrapassagens de Portugal que terão ou não tido lugar nos últimos anos por alguns daqueles países usando-se sempre para chegar a essa conclusão uma única medida, o rendimento per capita dos portugueses em relação ao rendimento per capita desses outros países que nos teriam ultrapassado.

Ora, sem prejuízo de essa medida continuar a ser usada pelos méritos que indiscutivelmente tem sobretudo para quem ensina ou faz investigação na área da Economia Política, convinha no entanto de vez em quando descer à realidade e olhar também para os valores nominais daquilo que estamos a falar que são afinal os valores com base nos quais as pessoas concretas, morais e materiais, mais se comparam umas às outras e tomam as suas decisões.

Assim, segundo o Banco Mundial, em 2019, antes da pandemia, o PIB per capita de Portugal em dólares nominais, 23 285, estava de facto ligeiramente abaixo do da República Checa, 23 490, do da Estónia, 23 720, e do da Eslovénia, 25 940.

Todavia, naquele ano, o rendimento nominal per capita de Portugal estava consideravelmente acima do da Lituânia, 19 555, do da Eslováquia, 19 270, do da Letónia, 17 775, e sobretudo do da Hungria, 16 770, do da Polónia, 15 695, do da Croácia 14 945, do da Roménia, 12 890, e do da Bulgária, 9 830.

Ao ritmo a que as suas economias têm crescido, poderia ser que alguns destes países nos viessem a ultrapassar daqui até ao fim da década actual se as nossas administrações, empresas e famílias continuassem a sacrificar o equilíbrio, os capitais próprios e a poupança em prol das dívidas criadas desde que entrámos na UEM há vinte anos atrás, um mundo de inflação quase nula, incluindo dos juros, ao qual nos tínhamos desabituado no último quartel do século passado.

No entanto, se conseguirmos repor o peso da dívida pública portuguesa até 2026 em menos de 100 por cento do PIB, onde esteve sempre até 2009, e até 2030 em menos de 60 por cento do PIB, onde esteve praticamente sempre até 2002, poderemos mais facilmente baixar e sobretudo simplificar a carga fiscal, para padrões concorrenciais com os dos estados membro da UE que outrora foram membros do Pacto de Varsóvia.

O que lhes requererá muito mais tempo até que o respetivo rendimento nominal per capita se aproxime do nosso.