O lançamento oficial do Instituto +Liberdade no dia 12 de Fevereiro, sob a liderança de Carlos Guimarães Pinto, constitui um marco importante para um país economicamente estagnado há mais de duas décadas e crescentemente enredado numa teia de estatismo e rentismo. Na raiz do problema está uma sociedade civil débil e elites quase sempre directa ou indiretamente dependentes do Estado e da proximidade e subserviência ao poder. A descrição feita no âmbito da Missãodo novo instituto é a este propósito bastante certeira quando aponta que em Portugal “a economia de mercado nunca substituiu realmente uma economia de raiz corporativista, com clientelismo endémico e excessiva dependência do estado”. O que por sua vez conduziu a “um país estagnado, endividado, em declínio demográfico e com graves problemas de independência das suas instituições”.
Contribuir de forma significativa para reverter esta situação não será fácil e exigirá, em primeiro lugar, que o novo instituto funcione e se afirme de forma independente de qualquer partido específico, visando todo o espaço político que pode ser designado como do compromisso com os valores do Estado de direito e da democracia liberal. Neste sentido, o pluralismo e diversidade da composição do Conselho de Curadores do novo instituto dá sinais positivos, com membros como José Manuel Moreira, referência do liberalismo, membro da Mont Pelerin Society e principal especialista nacional na Escola Austríaca, Rita Seabra Brito, professora no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica e directora do Estoril Political Forum, o maior encontro de estudos políticos em Portugal, Lídia Pereira, eurodeputada pelo PSD e presidente da juventude do PPE, Ana Rita Bessa, deputada pelo CDS, e Catarina Maia, uma das mais destacadas figuras da IL.
O projecto agora lançado por Carlos Guimarães Pinto é inovador e sem precedentes entre nós pela sua estruturação e ambição mas aparece no seguimento de uma trajetória já com algumas décadas. No contexto destes contributos plurais e multifacetados para a defesa e promoção da liberdade em Portugal, importa recordar e destacar antes de mais o trabalho pioneiro e corajoso de Orlando Vitorino, sem esquecer o já referido José Manuel Moreira, Pedro Arroja, João Carlos Espada e José Adelino Maltez. No plano da divulgação das ideias – e talvez familiar a uma proporção maior dos membros fundadores do novo instituto – é justo assinalar também a importância que tiveram, antes do predomínio das redes sociais, vários blogues com destaque para O Insurgente e o Blasfémias, assim como a revista Atlântico, em especial sob a direcção de Paulo Pinto Mascarenhas.
Mas ainda que conhecer o passado seja importante para melhor compreender, contextualizar e saber decidir no presente, o fundamental para o novo instituto será focar-se no cumprimento da sua muito necessária (mas árdua) missão de trazer mais liberdade a Portugal. Uma missão para a qual serão fundamentais também as boas ligações internacionais do novo instituto, de forma a aprender com as melhores práticas internacionais e desenvolver e aprofundar colaborações além fronteiras. Também a este nível os sinais iniciais são promissores e muito encorajadores para uma organização recém-formada, com parcerias com instituições de referência como o Institute of Economic Affairs (do Reino Unido), a Foundation for Economic Education (dos EUA) e a participação no próprio evento de lançamento do instituto de Tom Palmer (Vice-Presidente da Atlas Network) e de Adam Bartha (director da rede europeia Epicenter).
Como todas as iniciativas de grande ambição, o projecto do novo instituto comporta também naturalmente riscos, entre os quais me permito destacar dois. O primeiro é o de ser vítima do seu próprio sucesso inicial (os milhares de membros fundadores e a sua abrangência superaram todas as expectativas) e poder acabar por se aculturar rapidamente à cultura dominante do politicamente correcto em Portugal. É um risco que não deve ser desvalorizado já que as pressões nesse sentido num país pequeno, pobre e fechado como Portugal são sempre muito fortes e condenaram já ao insucesso e irrelevância (face aos objetivos iniciais) muitas iniciativas meritórias no nosso país. O segundo risco é o de um projecto (compreensivelmente) centrado no excepcional mérito e nas qualidades de uma pessoa – Carlos Guimarães Pinto – estar necessariamente dependente da sua liderança e, em particular, da sua capacidade para evitar deslumbramentos e hubris. Conhecendo o Carlos há alguns anos, confio e desejo que saberá estar à altura do desafio e da grande responsabilidade que tem em mãos, mantendo a ponderação, a firmeza e o sentido de missão com enfoque na promoção de mais liberdade e literacia económica em Portugal. Se conseguir ser bem sucedido neste difícil desafio, deveremos todos ficar-lhe muito gratos.