Caro leitor!

É normal que pelo ritmo frenético que tem conduzido as nossas vidas ainda não se tenha apercebido, mas existem em Portugal 12 territórios onde a natureza e o homem coabitam de forma perfeita. E não sou eu que o digo! É a própria UNESCO que reconhece estes espaços (entre 748 no mundo inteiro) como locais onde a natureza, o desenvolvimento socioeconómico e o bem-estar das populações vivem em total harmonia.

Pedia-lhe apenas alguns minutos da sua atenção para perceber do que falo e deixo já um aviso prévio: tenho muito orgulho na nossa rede nacional de Reservas da Biosfera, seja das seis que estão localizadas no continente (Boquilobo, Berlengas, Castro Verde, Gerês-Xurês, Meseta Ibérica e Tejo/Tajo internacional), como as quatro do arquipélago dos Açores (Ilhas do Corvo, Graciosa, Flores e Fajãs de São Jorge) ou as duas localizadas no arquipélago da Madeira (Santana e Ilha de Porto Santo). Aqui ensaiam-se formas de vida sustentável e em equilíbrio com a natureza.

Estas reservas integram o Programa de ciência “Man and the Biosphere (MaB)”, o “Homem e a Biosfera”.  Confesso que sou uma fã incondicional deste Programa. Foi inovador e visionário ao procurar, ainda em 1971 (daí o nome “Homem”, atualmente controverso e em reavaliação por questões de igualdade de género), conciliar a conservação da natureza e das paisagens, o desenvolvimento socioeconómico sustentável e as comunidades locais.  O lema é viver em harmonia com tudo aquilo que nos rodeia. Há melhor forma de vida?

Este programa responde aos grandes desafios da humanidade e do planeta e aos objetivos atuais das grandes Convenções, Tratados e Acordos internacionais. E as Reservas da Biosfera, em concreto, representam um modelo cada vez mais relevante e reconhecido no panorama global das estratégias de proteção, gestão e utilização dos recursos naturais e da biodiversidade.

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Devo ressalvar que, quando falamos de uma Reserva da Biosfera, não falamos de um mero galardão administrativo da UNESCO, mas sim de territórios concretos. E quando nos centramos nestes territórios, caro leitor, falamos das pessoas e da sua qualidade de vida, o que passa necessariamente pela sua relação uns com os outros e com a natureza. É esta natureza que nos proporciona os serviços dos ecossistemas de que tanto precisamos e de que todos beneficiamos.

Todos os processos, porém, têm o seu tempo. Digo muitas vezes que pôr em funcionamento uma Reserva da Biosfera é um projeto de gerações. Vai-se construindo, numa abordagem com a população e com os atores locais, ganhando compromissos, o sentimento de pertença a um espaço diferenciado e a apropriação das comunidades locais por um modelo de desenvolvimento diferente.

Nos últimos dois anos houve um grupo de pessoas e de instituições de várias áreas que contribuíram para a promoção destes territórios e para a sua consolidação. Através de um projeto financiado pelo EEA Grants (Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu liderado pela Islândia, o Liechtenstein e a Noruega), com a Secretaria Geral do Ministério do Ambiente e com a coordenação da Quaternaire Portugal, desenvolveu-se um consórcio multidisciplinar com a missão de criar instrumentos para um melhor funcionamento das 12 Reservas da Biosfera portuguesas. E disponibilizou-lhes ferramentas estratégicas para uma maior valorização, desenvolvimento e visibilidade. Foram dois anos e meio de trabalho, com muita presença, contacto, visibilidade no terreno e também nas redes sociais.

Ao longo deste período foi ainda fortalecido o trabalho em rede, a cooperação e a partilha de experiências. Uma gestão que fomenta dinâmicas colaborativas e inovadoras e a promoção de atividades em setores chave como o turismo, a conservação da natureza, o empreendedorismo, a economia local, a investigação, a ciência aberta, a memória e identidade, a criação e produção cultural.

Há, nitidamente, um antes e um depois deste projeto sobre o qual vamos refletir no seminário “Reservas da Biosfera: Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes“, a 28 de setembro, pelas 9h00, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Temos muito a aprender com as Reservas da Biosfera da UNESCO.