Tem vindo a público, através da comunicação social, comentadores e políticos, que Portugal pode vir a ser um país com um rendimento per capita superior a 80% da média europeia. A ser verdade, os bolsos dos portugueses enchiam-se de tal maneira que os efeitos da inflacção e da subida das taxas de juro não teriam qualquer efeito nos orçamentos familiares.

Atento às causas que possam produzir tais consequências, nomeadamente a entrada para a União Europeia, dos países como a Ucrânia, com uma população acima da média de qualquer país da UE, que irá influenciar o PIB Per Capita europeu, acrescentando países pobres como a Moldova, Geórgia e Montenegro, com rendimento per capita na ordem dos 30% da média europeia, Portugal, através deste cálculo aritmético, subirá para um valor cimeiro próximo da média dos países ricos.

Engana-se quem acha que não necessitamos de mudar o rumo político económico e manter a trajetória de crescimento, como aconteceu com Sócrates no ano 2010, quando o nosso rendimento per capita se situava já acima dos 80% e afinal também não eramos ricos. Cálculos, fórmulas e estatísticas comparativas nem sempre são sinónimo de riqueza.

Devemos continuar a copiar os modelos económicos de sucesso, de trabalho e empreendedorismo e reclamar à classe política maior sensibilização para uma política económica competitiva, com energia barata, redução de impostos nas matérias fiscais que forem possíveis, abolição de taxas supérfluas para podermos subir salários e manter o nosso produto transacionável competitivo em mercados internacionais.

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É certo que hoje o sector do turismo contribui e muito para o desenvolvimento sustentável e que já não podemos viver sem ele, quer pela contribuição no PIB, quer na diversificação de emprego e pela sua contribuição fiscal que ajuda a equilibrar o orçamento geral de Estado.

O sector privado faz e bem a sua parte nos mais diversos sectores económicos e tem-se mostrado disponível para complementar serviços onde o Estado português se apresenta como deficitário.

O Estado, representado pelo seu governo, também podia fazer a sua parte e bem, aproveitar a conjuntura onde nunca teve tanta receita fiscal e contribuições para a segurança social e prestar um bom serviço público na saúde, na educação e na justiça. Para além disso, o governo ainda tem uma almofada suplementar para modernizar a administração pública e contribuir para a alavancagem da regeneração do sector produtivo, onde o PRR nos traz um cheque de 15.000 milhões de euros e apenas 1/15 se destina ao sector privado, que por candidaturas seleccionadas e apadrinhadas ficam apenas com a fatia de 900 milhões. Imagine-se o que o sector privado poderia fazer com o valor que a TAP vai receber nos seus cofres.

Sim, é preciso “bater” nessa injustiça equitativa. Porque se queremos crescer e ter um rendimento per capita acima da média europeia e uma aproximação aos países ricos é a hora H de podermos reivindicar mais verbas do PRR para o sector privado porque apenas este o poderá fazer. Bem hajam os projectos apresentados por diversos consórcios, que reuniu empresas, universidades e centros de investigação onde ascenderam a um valor de investimento total de 10.000 milhões e apenas serão contemplados com uma taxa de 9%.

Portugal tem mais uma vez uma oportunidade que não pode deixar escapar. Estas novas vagas de fundos comunitários devem estar ao dispor das empresas e dos jovens empreendedores que, aliados à universidade, podem fortalecer a aposta em novos clusters, podendo potenciar a economia portuguesa, criando produtos e serviços para duas ou três décadas. E não restam duvidas de que a posição geográfica mais bem preparada, a mais inovadora e a mais exportadora é o noroeste de Portugal, concretamente a zona que vai de Aveiro até ao alto Minho, passando pela área metropolitana do Porto, a região do Vale do Sousa e Tâmega e a região do Cávado, porque é a região que já deu provas de que sabe utilizar os fundos europeus para reinventar os seus clusters tradicionais, seja nos agroalimentares e bebidas; têxteis, vestuário e calçado; cortiça, madeira ou mobiliário; cerâmicas e materiais de construção; moldes e plásticos; mecânica, material elétrico, construção metálica, construção naval e outros grandes equipamentos industriais, sem esquecer o cluster automóvel. Alias, tudo isto está plasmado num estudo do consultor economista José Félix, da Fundação Gulbenkian, a que a Faculdade de Engenharia do Porto se juntou, e que agora, deverão ter também uma visão estratégica para investir naquilo que o mercado mundial vai consumir: mobilidade elétrica, onde temos em curso o desenvolvimento do carro do futuro pela Bosch, o autocarro movido a hidrogénio da Caetano Bus, as redes inteligentes semeadas pela Altice, eletrónica automóvel, navegação e conectividade auto, engenharia dos transportes ferroviários, engenharia aeronáutica e espacial, engenharia oceânica e tecnologias submarinas, automação e robótica, redes e serviços de telecomunicações, software para aplicações empresariais, soluções de comércio, pagamentos e transações financeiras digitais, media digital e conteúdos multimédia interativos, farmácia, biotecnologia para a saúde e engenharia biomédica ou energias renováveis eólicas. Quando se fala nestas energias está a referir-se o desenvolvimento das novas torres eólicas de nova geração da empresa A. Silva Matos, solar térmico e fotovoltaico.

Em suma, toda esta região deve continuar a apostar naquilo em que já é forte, mantendo a liderança nos clusters tradicionais, agora através de processos mais sustentáveis e de produtos mais agradáveis, com moda e com mais respeito pelo ambiente.

Por outro lado, em todas estas novas áreas que permitem ao mundo ser mais sustentável: energias limpas, transportes verdes e autónomos e toda a gestão da informação que pode ajudar as empresas e melhorar a vida das pessoas no seu dia a dia, o que implicará “maior cooperação” entre as universidades, as empresas e o governo em torno de projetos importantes.

Os empresários com maior ambição devem unir-se entre si e com as universidades, os politécnicos ou os centros tecnológicos para proporem novas oportunidades de exportação, geradoras de grande valor acrescentado e emprego qualificado.

Só isto poderá aumentar o nosso rendimento per capita!