“O preconceito é um fardo que confunde o passado, ameaça o futuro e torna o presente inacessível”, afirma Maya Angelou. Quem nunca passou por uma experiência onde se é julgado, criticado e até odiado simplesmente por ser quem é, não entende o quão diminutivo é.
O preconceito mutila emocionalmente, fere psicologicamente e, tantas vezes, mata fisicamente. Sentir que o simples facto de existir é um algo quase maléfico enraíza-se na mente, polui o coração e dilui o sentido do eu como ser humano, reduzindo-o a uma mera característica como se fosse um todo. Nada mais importa, nenhuma característica positiva, acto grandioso, sentimento ou até o facto de se ser um ser humano… A existência de alguém resume-se a um único facto e esse facto é razão de ódio. Pode ser pela cor da nossa pele, orientação sexual, nacionalidade, religião, a forma de vestir… Tudo é pretexto para odiar.
A verdade é que o preconceito fala mais de quem o pratica do que do seu destinatário. Quando se tem o coração repleto de ódio, rancor e negatividade, as atitudes serão o seu reflexo.
Em pleno século XXI ainda se trata um ser humano de forma diferente porque é diferente, e para mim isso é incompreensível. E, infelizmente, o ódio está cada vez mais presente no nosso dia a dia, tornando-se legitimado quando existem indivíduos com grande visibilidade que reiteram esse sentimento, apontando as diferenças sem se preocupar com as repercussões.
Todos somos diferentes, únicos. Haverão sempre diferenças e cabe-nos a nós decidir o que pretendemos ser. Tal como Martin Luther King, “eu decidi ficar com o amor. O ódio é um fardo muito grande para se carregar”.
Este ódio pelo que é diferente causa danos, inflige feridas que nunca realmente cicatrizam e tira a vida. O caso que mais me chocou foi o da Gisberta Salce Júnior, que em 2006 perdeu a vida em nome do ódio, do preconceito, da ignorância. Que o seu nome nunca seja esquecido, que a sua dor nunca seja ignorada, que a sua história sirva de exemplo das consequências do ódio e que a tristeza e horror que esta alma teve de passar, aqueça os corações frios e desperte consciências.
O ódio só atrai mais ódio, mais escuridão e da mesma forma que só a luz pode combater a escuridão, só o amor pode combater o ódio. Enquanto houver ódio entre ser humanos, enquanto as lágrimas, e tantas vezes, o sangue do nosso semelhante não for razão suficiente para acender a chama da luz dentro de nós, iremos continuar num caminho que só terá um desfecho: a vitória do ódio e a derrota da nossa humanidade.
Não há citação que melhor descreva o que sinto cada vez que ódio, que o preconceito vence, que a de uma das personagens do filme The Green Mile: “Estou cansado; principalmente de ver as pessoas a serem tão más umas para as outras”.