Já conhecemos a palavra do ano de 2023: “professor”. Isto quer dizer, antes demais, que foi uma palavra muito ouvida nos meios de comunicação social, no ano que passou, por todas as polémicas e manifestações que se geraram em volta desta carreira, pelos motivos que já todos conhecemos.

Não sei se fico particularmente satisfeita com isto. Na verdade, a educação devia ser uma realidade falada e discutida de forma habitual, como parte do nosso quotidiano e como um dos pilares da nossa sociedade. Neste contexto, a profissão de “professor” devia estar na boca de todos, não pelos lamentáveis motivos pelos quais esteve durante 2023, mas pela dignidade e reconhecimento que merece.

Existem muitos temas associados à educação que vão para além da contestação dos professores relativamente à sua carreira, ainda que esta reivindicação seja, também, absolutamente válida. Creio que é fundamental que se restitua aos professores o tempo de serviço que lhes é devido e que sejam criadas condições melhores de apoio aos profissionais que ficam colocados longe de casa e que necessitam de pagar renda no local onde lecionam. Estas são, para mim, duas questões essenciais a resolver pelo próximo governo.

Contudo, como referi acima, existem outros problemas estruturais que têm de ser discutidos. Por exemplo, não se pode impor o uso de tecnologia em provas quando várias escolas nem wireless possuem e quando tantos computadores são obsoletos. Lembremo-nos de que se muitos alunos têm computador (ou computadores) e internet em casa, podendo praticar regularmente as ferramentas de que irão necessitar em contexto escolar, outros não possuem condições para tal.

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Nunca nos devemos esquecer de que a educação deve ser pensada para todos, pesando na balança o facto de que várias famílias dispõem de um rendimento mensal reduzido e que não podem , por exemplo, ter internet em casa ou pagar um apoio extra, fora da escola, para que os seus filhos consolidem as aprendizagens.

Paralelamente, o respeito pela figura do professor deve começar em casa, o que significa que os pais/encarregados de educação deverão promover a autoridade do professor e confiar no trabalho desenvolvido, obviamente estando atento ao mesmo e acompanhando-o, sentindo-se confortáveis para colocar todas as questões e dúvidas que considerarem pertinentes. Isto é uma coisa. Outra coisa é a intromissão excessiva de alguns encarregados de educação na sala e no trabalho do professor, nomeadamente no 1º ciclo do ensino básico.

Os programas também devem ser mais flexíveis e menos extensos, de modo a que os conteúdos possam ser devidamente consolidados, sendo criadas bases para o futuro, muito particularmente em áreas essenciais como a matemática e o português, que, mais tarde, têm implicação em tantas outras disciplinas.

Por isso mesmo, o papel do professor é essencial, mas precisa de apoio do governo e das famílias. Perto das eleições, devemos escolher governantes que coloquem a educação em destaque e lhe confiram o devido valor.