Depois de, em 2022, a Colômbia ter declarado a inconstitucionalidade da pesca desportiva, dirigentes políticos da esquerda chilena, apostados em seguir a mesma agenda, afirmam que os peixes são seres sensíveis, que têm consciência e um grande sentido de humor, que há uns mais extrovertidos e outros mais tímidos e que, pasme-se, até há aqueles que jogam futebol. Por isso, e para reconhecer a dignidade intrínseca destes maravilhosos seres sensíveis que são os peixes, urge reformar as leis da pesca.  Ignácia Uribe, activista vegan, de esquerda, na sua intervenção na Comissão de Pescas, que se realizou na Câmara de Deputados, disse:

«Quem sabe vocês se perguntem: “Quão consciente pode ser um peixe?” E a verdade é que os peixes são mais do que números, são mais do que toneladas. Ainda que a cifra de dois biliões de peixes (pescados) por ano nos pareça impossível de gerir e quase impossível de imaginar, cada um desses peixes é um indivíduo com sua própria personalidade, pensamentos, interesses e memórias. Dentro de uma mesma espécie, há peixes tímidos e atrevidos, existem peixes que aprenderam a jogar futebol, a fazer truques e até a usar ferramentas.»

Não. Não é uma piada, não é uma stand up comedy nem é para os apanhados. É a realidade dos progressistas em pleno ano 2024. Se pensava que os progres já tinham passado vergonha alheia suficiente, se acreditava que, finalmente, tinham chegado ao limite do ridículo, eles mostram-nos, mais uma vez, quão equivocados podemos estar e quão capazes são de ultrapassar todos os limites do ridículo uma e outra vez.

Assim, graças aos progressistas, ficámos a saber que os peixes são animais excepcionais, divertidíssimos, fabulosos, que inclusive contam piadas e anedotas divertidíssimas e que, se tivermos sorte, até podemos acabar a jogar um jogo de futebol com eles. Afinal, quem é que não viu a verdadeira natureza dos peixes em filmes como NemoA Pequena Sereia?

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Voltando ao mundo real, qual é o contexto em que se insere esta intervenção de Ignácia Uribe?

Insere-se na discussão de uma nova lei de pesca no Chile. Num projecto de lei de já havia contado com a intervenção do deputado Jorge Britos, que pertence ao partido do presidente Gabriel Borich, que havia afixado duas indicações para respeitar «o estado físico e mental dos animais aquáticos, ou seja: dos peixes, dos moluscos e dos crustáceos» ao concebe-los como «seres sensíveis e conscientes». Entre outras coisas, Jorge Britos escreveu o seguinte nas suas indicações: «Ser sensível: animal aquático capaz de ter experiências e de reagir a estímulos externos de maneira consciente, considerado, por este facto, sujeito de condição moral e de respeito».

O que a esquerda & CIA pretendem com isto, é incorporar na lei das pescas a ideia de que os peixes têm uma dignidade especial por serem sensíveis e conscientes. Esta é a nova linguagem orwelliana do século XXI.

O mais incrível, é que a mesma proposta que considera que os peixes são seres sensíveis e com consciência também impulsiona o aborto sem restrições. Sim. Os peixes são seres sensíveis que têm direitos, mas um ser humano em gestação, numa fase do seu desenvolvimento, com toda a sua sensibilidade e sentir, há muito tempo confirmadas pela ciência, pode ser destroçado no ventre materno sem dó nem piedade.

Essas são propostas dos animalistas e anti-especistas chilenos, que apresentaram  uma constitucionalista  disfarçada de PiKachu para redigir uma nova Constituição para o povo chileno.

O que Ignácia Uribe e Jorge Brito fizeram foi marcar ideologicamente uma nova ideologia, o anti-especismo. O que é o anti-especismo?

O anti-especismo é uma ideologia radical, anti-humanista. Uma ideologia que não se propõe elevar a importância do animal ao mesmo nível do Homem, mas sim a diminuir a importância do ser humano a fim de o colocar numa relação de igualdade com qualquer outra espécie do reino animal. E como é que se alcança isso?

Alcança-se descartando, neutralizando e negando os atributos da condição humana a que corresponde a nossa definição de dignidade humana. O anti-especismo é mais um combate organizado e deliberado contra a ideia de que o ser humano é ontologicamente superior a outras espécies. É uma parte da agenda woke, nomeadamente da desequilibrada interseccionalidade, que leva adiante a revolução cultural promovida pelas esquerdas e pelas direitinhas de que a esquerda gosta.

O que é a agenda woke? É a agenda que multiplica as relações entre opressores e oprimidos, a velha luta de classes que acicatava o ódio daqueles que não tinham os meios de produção contra os que os tinham e que, hoje, foi transformada numa lista interminável de conflitos que impulsionam o agigantamento do poder estatal. Cada novo conflito, lido como uma relação de poder entre opressores e oprimidos, é uma nova oportunidade para o Estado intervir na liberdade humana, regulamentando-a, dirigindo-a e planificando-a.

Os princípios da interseccionalidade apontam para uma equivalência entre: ser humano, homem, heterossexual e capitalismo (os opressores) e, por outro lado, para uma equivalência entre: animal, mulher, lgbt+ e luta anti-capitalista (os oprimidos). Assim, por exemplo, a libertação da mulher e a libertação do «género», teriam um grande impacto na luta anti-especista e, por sua vez, a luta anti-especista teria um grande impacto na luta pela libertação do «género» e na luta anti-capitalista e por aí vai. Todas estas causas estão inter-relacionadas porque fazem parte de uma mesma interseccionalidade, de uma mesma agenda.

Recorda-se das feministas espanholas, anti-especistas, que publicaram um manifesto no qual acusavam os galos de violarem as galinhas? No vídeo que gravaram e de acordo com duas delas:

«Os ovos são das galinhas (atiram os ovos contra uma pedra, partindo-os e, claro, as galinhas vão comê-los). Nós devolvemos-lhes os ovos, porque são delas. Neste caso, os ovos não estão fecundados porque nós tivemos de separar os galos (das galinhas) porque não queríamos que eles as violassem, ainda que essa seja a sua natureza, e porque elas sofrem.»

Na imagem seguinte, no mesmo vídeo, aparecem três pessoas que saúdam os seguidores e explicam:

«Olá companheires. Os ovos são das galinhas, são delas. Por isso, são elas que os põem, é a sua menstruação. Comê-los, é roubar-lhos e financiar a escravatura animal. Nós somos um colectivo anti-especista, trans-feminista, libertário e ecologista, que luta pela libertação animal e do Planeta, fazendo o máximo possível. Unides, construímos a instalação de vedações seguras para podermos resgatar animais que estão escravizados e dar-lhes a vida digna que realmente merecem.»

Se pensa que estes disparates são apenas oportunidades para nos rirmos dos progressistas, está equivocado. Estes disparates já estão a ser implementados nas legislações e na vida das nações ao nosso redor.

Por cá, creio que todos se lembram de que o PAN, à semelhança da Colômbia, já apresentou propostas para acabar com a pesca desportiva. E não duvido de que as razões para o fazer seriam as mesmas que o Tribunal Constitucional da Colômbia alegou: «A Corte Constitucional proíbe a pesca desportiva porque, e ainda que não haja consenso sobre os peixes serem seres sensíveis, o certo é que em virtude do princípio de precaução torna-se necessária a intervenção do Estado».

Ou seja: ainda que a ciência não esteja muito segura sobre se o peixe é um ser sensível, ou não, e por via das dúvidas, o Estado tem que proibir o quanto antes uma actividade económica, ainda que ela seja importantíssima para muitas famílias, em várias regiões da Colômbia, que dependem da pesca para o seu próprio sustento.

Estes são os mesmos activistas (perdão, políticos) que propagam querer combater a pobreza e respeitar os direitos humanos. Os mesmos que, meses antes, haviam decidido que se podia abortar um bebé até às 24 semanas (6 meses). Ora, sabendo-se, há muito tempo, que a partir da 5.ª semana o nascituro já sente o gosto, o toque e a dor, como é que os mesmos que proíbem a pesca (por haver o risco de os peixes sentirem dor), promovem o aborto de um bebé em gestação, que de facto SENTE DOR?

Não estaremos perante o maior ataque aos direitos do Homem da História?  Não estaremos a assistir, impávidos e serenos, à loucura progressista, que promete arrastar-nos para o tipo de sociedade descrita na distopia 1984, de George Orwel? Acredita que Portugal possa escapar ao tsunami woke?

Não se engane. Se continuarmos a enterrar a cabeça na areia e a fingir que nada se passa, não só não escaparemos como seremos responsáveis pela derrocada da nossa Nação.