Decorrido quase um quarto do século XXI, é unânime que a era digital transformou a forma como vivemos, trabalhamos e comunicamos. De forma óbvia, essa transformação também impactou profundamente o ambiente escolar, com a crescente utilização de smartphones por alunos de todas as idades. No entanto, essa integração da tecnologia nem sempre tem sido vista como algo de positivo. São cada vez mais os estudos que alertam para os perigos do uso excessivo dos smartphones, como a distração, o cyberbullying, a ansiedade e a depressão.
Não podemos ignorar estas conclusões científicas e, por conseguinte, diante destes riscos, temos de agir. Alguns países e escolas já começaram a implementar medidas para regular a utilização de smartphones no ambiente escolar, pelo que é necessário seguirmos os bons exemplos que nos chegam do estrangeiro.
Um exemplo notável é a Noruega, onde um estudo, de fevereiro de 2024, realizado em escolas de ensino básico avaliou os efeitos da proibição total de smartphones durante o horário letivo.
A autora do estudo Smartphone Bans, Student Outcomes and Mental Health, Sara Abrahamsson acompanhou durante um ano letivo o impacto da proibição de smartphones em 12 escolas de ensino básico. Os resultados revelaram efeitos positivos em três áreas principais: Saúde Mental, Desempenho Académico e Igualdade de Oportunidades.
Relativamente à saúde mental, segundo o estudo, a proibição de smartphones parece ter contribuído para um ambiente escolar menos stressante e ansioso para as raparigas, levando a uma diminuição da necessidade de acompanhamento psicológico. O estudo constatou, ainda, que as meninas que frequentavam escolas com proibição de smartphones apresentaram uma redução de 20% na procura por serviços de saúde mental em comparação com as meninas que frequentavam escolas sem essa medida. Outra evidência que o estudo identifica foi a diminuição do bullying para ambos os sexos. A proibição limitou as oportunidades de cyberbullying e outras formas de intimidação online, promovendo um ambiente escolar mais seguro e inclusivo. O estudo observou uma redução de 15% nos casos de bullying reportados nas escolas com proibição de smartphones.
No que concerne ao desempenho académico, também foi notado uma melhoria do GPA (Média de Notas) das raparigas. As que frequentaram escolas com proibição de smartphones apresentaram um melhor desempenho académico, especialmente em disciplinas que exigem maior concentração e foco. O estudo registou um aumento médio de 5% no GPA das raparigas em comparação com as que frequentavam escolas sem essa medida.
Sobre a Igualdade de Oportunidades o estudo evidenciou efeitos mais acentuados entre raparigas de origens socioeconómicas baixas. Segundo os resultados do estudo, os efeitos positivos da proibição de smartphones foram mais acentuados entre as raparigas de origens socioeconómicas baixas. Isso sugere que essa medida pode ter um papel importante na promoção da igualdade de oportunidades no ensino, reduzindo as disparidades entre alunos de diferentes classes sociais.
Os resultados do estudo norueguês oferecem insights valiosos para o debate sobre a utilização de smartphones nas escolas, nomeadamente nas portuguesas. As evidências demonstram que a proibição destes dispositivos pode gerar benefícios significativos para o bem-estar, o desempenho académico e a igualdade de oportunidades dos alunos.
Diante destes resultados, é crucial que o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) e as escolas assumam uma posição proativa, no estudo, debate e consequente regulamentação da utilização de smartphones nas escolas portuguesas. Essa iniciativa deve considerar a implementação de medidas eficazes para reduzir o uso excessivo de dispositivos móveis durante o horário escolar, garantindo que todos os alunos tenham acesso a um ambiente de aprendizagem seguro, saudável e propício ao sucesso académico.
O MECI, em conjunto com as comunidades escolares, pode explorar diversas alternativas para regular a utilização de smartphones nas escolas. Estabelecer áreas específicas nas escolas onde o uso de smartphones seja proibido, como bibliotecas, salas de aula e refeitórios. Permitir o uso de smartphones apenas em determinados horários do dia, como durante alguns intervalos ou no final das aulas. Implementar programas e atividades que incentivem a interação social entre os alunos, como jogos, clubes e eventos culturais. Desenvolver programas de educação digital para consciencializar os alunos sobre os riscos e benefícios do uso de smartphones, ensinando-os a utilizar esses dispositivos de forma responsável e segura.
É importante salientar que a proibição total de smartphones pode não ser a única solução ideal para todas as escolas. O MECI deve considerar as características específicas de cada contexto escolar e procurar soluções flexíveis e adaptáveis às necessidades de cada comunidade educativa.