O PSD tem, a meu ver, dois tipos de problemas que precisa de enfrentar e resolver para voltar a ganhar os portugueses (e a comunicação social e os influenciadores políticos)

Um, a sua organização interna. O “quem é quem” no PSD tem se vindo a reduzir ao seu aparelho e este é dominado a nível distrital por autarcas das Câmaras e a nível local por autarcas das Freguesias. 13 presidentes das 18 Distritais são autarcas: presidentes de Câmara ou vereadores. E os restantes deputados há vários anos. Pessoas cujos rendimentos pessoais dependem do sucesso que consigam a nível autárquico. E que, até para serem candidatos e acederem ao seu ganha-pão, precisam de ganhar as eleições internas ou pelo menos apoiar e estar com o vencedor destas.

Assim o que em cada eleição interna do PSD está em causa é sobretudo a vida pessoal dos autarcas ou candidatos a autarcas. Percebe-se que quem luta pela vida (de uma forma até dramática porque escolhendo a política ficou sem outras hipóteses de rendimento) faça o possível e o impossível para ganhar as eleições internas ou pelo menos ser apoiante, e contribuidor com tropas (votos), do vencedor, num esquema feudal. E que, quem ganhe, para ganhar feche os olhos a uma série de tropelias, tais como: sindicatos de votos de pessoas que pouco têm a ver com o PSD e são recrutadas a troco de promessas de emprego (através das câmaras e juntas de freguesia) ou de habitação social. Fecho dos núcleos residenciais e a oposição à sua reabertura (que a acontecer será só com o controlo do presidente concelhio, através da nomeação por este de uma comissão instaladora da sua confiança)… Deixar na gaveta sem resposta os pedidos de ingresso no partido, dando seguimento apenas aos que os próprios recrutem, de forma a reforçarem a sua “base eleitoral”…

São assim os autarcas quem domina o partido. Quem domina as eleições para os Congressos. Quem domina os Conselhos Nacionais. Quem determina quem é o Líder do PSD e quem faz parte das listas para deputados. Mas que pouco têm a dizer sobre as questões nacionais e sectoriais

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Este PSD deixou de ter espaço para quem não se integre neste carrossel autárquico. E assim deixou também de ser interessante para quem queira participar na política pelas questões nacionais. E mesmo que queira, não tem como. E por isso o PSD está a tornar-se num deserto sem capacidade de recrutar quadros e de ser atraente para a juventude e geração dos 30-50 anos. E assim o PSD perde voz porque deixa de ter quem a tem e quem tem vontade, força, garra e qualidade.

Por outro lado, sem núcleos e com cada vez menos militantes (menos 20 000, ou seja menos 30% que em 2018), acabou com aquilo que era uma das forças do PSD: os seus aguerridos militantes que levavam a mensagem do PSD, que apreendiam nas reuniões dos núcleos, para a família, para os amigos, para o emprego, para a rua, e faziam o combate pelo PSD.

E por isso o crescimento da Iniciativa Liberal e do Chega. Crescimento eleitoral e de militância.

O segundo problema passa por o PSD ter uma proposta global convincente para o Estado Social. O PSD deixou que a propaganda Socialista fizesse sua a bandeira do Estado Social e passasse a ideia (falsa) de um PSD sempre à espreita de o destruir. Ora, quem de facto implementou em Portugal o SNS universal e de acesso gratuito foram os governos do PSD…

É minha convicção que um Estado Social assente nos princípios fundadores do PSD , onde se destaca:

  • O princípio da afirmação da sociedade civil. O Estado não deve chamar a si aquilo que os indivíduos estão vocacionados para fazer – ou que podem fazer – garantindo dessa forma um amplo espaço de liberdade à iniciativa e criatividade das organizações da sociedade civil; 
  • O diálogo e a concertação, como formas de entendimento e aproximação entre homens livres, assentes na tolerância e visando a procura de acordo ativo entre interesses divergentes;
  • A justiça e a solidariedade social, preocupações permanentes na edificação de uma sociedade mais livre, justa e humana, associadas à superação das desigualdades de oportunidades e dos desequilíbrios a nível pessoal e regional e à garantia dos direitos económicos, sociais e culturais;

Será um muito melhor Estado Social que aquele que temos. Na Saúde, a política estatista do PS está, à custa dos bolsos dos cidadãos, a encher os hospitais privados … Cidadãos que com os seus impostos estão a financiar um SNS que não lhes dá resposta e um sistema privado a que pagam por uma tabela privada sobre a qual não têm qualquer poder.

O PSD sempre foi o que foi o seu líder

Terá que ser este a resolver os problemas acima enunciados e a implementar as soluções

Em relação à primeira questão a solução passa, a meu ver, por uma revisão estatutária que consiga duas coisas:

  • Eliminar as más práticas da vida democrática do PSD
  • Abrir verdadeiramente o PSD ao seu eleitorado. Uma solução será através de eleições primárias abertas para a escolha dos candidatos autárquicos e de candidatos a deputados.

Assim cada candidato a deputado deverá ser eleito para o ser em eleições primárias (abertas?)   num núcleo eleitoral uninominal correspondente a uma ou mais freguesias. Núcleos que serão tantos quantos os deputados o distrito tenha e em que durante toda a legislatura o “candidato” preste contas da sua atividade no Conselho Parlamentar e faça a interface bidirecional, entre o Concelho Parlamentar e os militantes e eleitorado deste núcleo de base

 O Conselho Parlamentar deverá ser um novo órgão a criar e que integra todos os que foram eleitos para fazerem parte das listas de candidatos de deputados (quer tenham ou não assento no parlamento). Desta forma, nele, todo o partido e todos os eleitores do PSD estarão representados. E cada um sabe quem é o “seu candidato conselheiro”

Conselho Parlamentar que se deverá pronunciar sobre as orientações do Grupo Parlamentar, integrar nele o Grupo de Estudos e o Governo Sombra (caso se venha a decidir sobre a sua criação) e deve ser visto como uma extensão de suporte técnico e político ao Grupo Parlamentar. Desta forma poderá acolher muitos que não querendo ser profissionais da política podem integrar as listas de candidatos distritais em lugares não elegíveis, e assim dar o seu contributo nas suas áreas e reforçar a influência do PSD.

Sobre as próximas Diretas no PSD 3 certezas:

  • Dois excelentes candidatos.
  • Teremos um debate elevado.
  • O PSD vai ter um grande Presidente e vai voltar a ser o maior partido e liderar o Governo

Pessoalmente identifico-me mais com a linha estratégica apontada por Montenegro, assente na construção de uma Alternativa (ao empobrecedor socialismo vigente) Democrática Social Reformista (como aliás defendi aqui). Veremos os programas que ambos vão apresentar.

Presidente do Núcleo de PSD de Benfica, único núcleo existente em Lisboa, constituído a partir das bases e há seis meses à espera da homologação pela C.P. Distrital de acordo com os estatutos do PSD