Do desejo de uma vitória sem limites às coligações …

No passado dia 21 de Novembro, deixei bem claro – no meu “Não tenham medo da mudança”, livro que então publiquei, a alertar para os perigos que o PSD corria com a estratégia que teimou em seguir – que defendia uma vitória para “em coligação, sem limites a alianças, impostos pelos partidos da esquerda, democrática ou amante da ditadura do proletariado, em qualquer das suas versões, concretizar mudanças essenciais para o futuro de Portugal …”!

Hoje, no rescaldo da noite eleitoral de domingo passado, quando se procuram encontra vencedores e vencidos e projetar o futuro de cada um deles, temo que a vitória, em cima da linha da meta, da AD, seja o prenúncio de uma derrocada anunciada do PSD, ao optar por uma estratégia que conduzirá a uma descida inexorável para um patamar de força política irrelevante, o que me parece que poderá vir a acontecer num curto espaço de tempo.

Na política, como em tudo, ganham os que, tendo caráter, não têm medo de lutar pelo caminho certo, e não pelo caminho por onde outros querem que se siga.

E se o Chega foi o vencedor, contra tudo e contra todos, contra a opinião publicada, contra a opinião dos que tentaram fazer opinião e condicionar a opinião de quem não queria seguir a opinião deles, temo que o PSD, parecendo vencedor, tenha começado, nesse mesmo dia, um caminho descendente que o poderá levar à irrelevância política, pelo menos nos termos e na dimensão em que o conhecemos.

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Todos os erros estratégicos se pagam bem caros, na política como na vida!

E se muitas vezes, há os iluminados a quem tudo é permitido, há um dia em que essa “sorte”, de lhes aceitarem tudo, acaba.

Passando pelo recordar de 2005 …

Há 19 anos esses mesmos iluminados do PSD uniram-se para, em proveito próprio, oferecer o poder a José Sócrates, ao serem coniventes na estratégia do golpe constitucional conduzido pelo então Presidente da República.

Hoje, 12 de Março de 2024, completam-se 19 anos desde que o 1ª Governo de José Sócrates tomou posse, e com esse ato, consumado o afastamento do PSD do Governo, que com o CDS, tinha uma maioria estável na AR.

Tão só porque essa maioria e esse XVI Governo Constitucional eram um óbice à estratégia pessoal de alguns desses protagonistas, com os seus fieis escudeiros a servirem de peões dessa estratégia, imune aos interesses nacionais, desde que não fossem coincidentes com os deles.

O “que fizeram” compensou (como já o escrevi, aqui, no Observador, e depois no “Não tenham medo da mudança”)!!!

Começaram a destruir o PSD, mas o que é que isso importou, se dois dos seus principais autores e atores foram eleitos Presidentes da República e outros dois Presidentes do PSD?

Longe vão os tempos em que Cavaco proibia o PSD de usar a sua imagem, como mais longe, ainda, vão aqueles em que Marcelo conspirava contra Cavaco.

O mesmo Cavaco que ganhou o Congresso da Figueira da Foz, por aí defender, contra tudo e contra todos – em contraciclo, mas ganhando por isso – o seu apoio à candidatura de Freitas do Amaral, nas presidenciais que então se aproximavam.

Até perderem todos!

Ora, todos eles, ao pressionarem o líder do PSD, para o “não é não”, erraram nos conselhos, enganaram-se na estratégia, perderam-se na soberba de julgarem ser tudo como em 1985. E por isso, tendo ganho, vão perder todos!

Eu sei que as aparências iludem, e por isso não posso levar a mal, antes tenho que agradecer aos que me deram como muito importante e muito influente, no PSD, há 20 anos, mas, agora, morto para a política.

Esses, que julgavam ir ganhar por muitos, perderam porque ganharam por muito pouco. Mas perderam por muito, por causa dos conselhos que deram, por julgarem ser o Chega um epifenómeno como o PRD de 1985 a 1987.

Nada mais errado.

Opções inadiáveis, outra vez não!

Mas pior que os conselhos, muito pior que as intervenções desastrosas do último dia de campanha, foram as análises iluminadas e de cátedra de quem tenta justificar as razões dos conselhos dados, depois deste resultado eleitoral.

Sim desastre eleitoral, se considerarmos ter acontecido depois de 8 anos de poder socialista …

Nas eleições de 2005, os 28,8 % foram conseguido na sequência do tal golpe constitucional, após 3 anos de governo de Durão Barroso e, depois, de Pedro Santana Lopes.

Se, a esse resultado, horrível para os atores políticos de então, comentadores de hoje, juntássemos os do CDS, (que recusou, à última hora, as listas conjuntas, num processo em que estive envolvido e de que, um dia, revelarei pormenores), teríamos 35% para o bloco de direita.

No domingo, com todos a aparecerem a dar a cara para derrotar o PS – todos menos eu já agora, para o bem e para o mal – após 8 anos de governo de António Costa, a AD chegou aos 29,5%.

Mas se isso impressiona, ainda impressiona mais a desfaçatez com que encontram razões para transformar uma vitória pequenina, tão pequenina que sabe a derrota, numa grande vitória.

Confesso que não queria acreditar quando ouvi dizer que, com esse resultado, o PSD passaria a ser o partido central do regime, o “partido charneira” que fala à direita e à esquerda, o partido sem o qual não há governo …

Já não faço apelo à repetida invocação, sempre adiada, da reorganização do sistema partidário que agora vai acontecer, com toda a certeza.

Recordo, apenas, que essa foi a razão da discordância de Francisco Sá Carneiro com o grupo dos designados por Inadiáveis, que, depois levou à saída destes do Partido: a de o PSD ser um partido do centro, a fazer maioria à esquerda ou à direita (como na altura, os radicais de esquerda, em França, ou os liberais, na Alemanha), em vez de um dos polos do regime político.

O partido charneira, o sonho de Sousa Franco, dos Inadiáveis a ser invocado por quem tanto lutou contra ele, ou por esquecimento ou – o mais plausível – apenas e só para justificar os erros a que aconselharam o atual PSD a cometer, depois de terem perdido (copiosamente) a sua aposta no apelo ao voto útil.

E como se não bastasse ter uma vitória assente nos 3 Deputados da Madeira, cujo líder o Presidente do PSD atacou violentamente, com essa estratégia do PSD – que Francisco Sá Carneiro tanto combateu – o Chega terá o caminho aberto para ser o futuro polo da direita democrática.

A mudança começou no domingo

Tudo isso se o PSD não mudar! E não contem comigo para ser apoiante de quem prefere ser a “muleta” do PS e deixar o caminho aberto para um Partido de direita, em vez de participar na definição da política do que deve ser a direita em Portugal.

Porque, se o PSD, sem nunca ter tido raízes na social democracia tradicional, mas antes nas ligações à Igreja Católica do seu fundador e dos que o acompanharam (sem excluir alguns membros respeitadíssimos da “velha” Maçonaria), nunca foi um partido de direita, mas antes, o partido da direita, também o Chega, pelas ligações de André Ventura à Igreja, na génese da sua formação como Homem, se afasta das tradições dessa direita extremista a que o tentam ligar sem êxito.

Não perceber que esse será o quadro nas próximas eleições é ficar agarrado a 1985 ou 1987, depois de se terem passado quase 40 anos.

O Portugal do futuro não é para velhos de espírito!!!

Também por isso, agora como sempre, tal como Francisco Sá Carneiro (com toda a distância existente): “Nunca estive tão sozinho, mas nunca tive tanta certeza de que tenho tanta razão”!

12/Março/2024