Continua, desde há umas semanas, na comunicação social, a tentativa – agravada, agora com esta “telenovela” com Galamba como causa direta – de comparação entre o que aconteceu com Pedro Santana Lopes, como Primeiro Ministro, em 2004 e 2005, e com António Costa, desde que foi empossado a última vez como Primeiro Ministro, no início de 2022 até aos dias de hoje.

E – apesar de todos, com uma única excepção, a de um idiota que não diz nada que não esteja escrito no teleponto – concluírem pela maior ou muito maior gravidade de tudo o que aconteceu no actual Governo – digo-vos que não podem  comparar o incomparável.

Agradeço as invocações das comparações e as referidas conclusões (com a tal excepção que só confirma a regra … e, já agora, o carácter sempre oportunista, em tudo, do “homenzinho”). Mas os que, por agora, as fazem para provar que tudo, nos dias de hoje, é bem mais grave e não se compara a duas ou três, vá lá quatro, situações acontecidas no XVI Governo, são os mesmos que, então, foram os porta vozes de tanta mentira para derrubar o Governo.

Sobre o então Primeiro Ministro! Sobre mim, na qualidade de Ministro. Ou, até, outros membros desse Governo que, depois, nomeados por Sócrates, já eram o máximo de inteligência e capacidades funcionais  Sobre pequenas discrepâncias entre Ministros, quando agora acham normal ter Secretários de Estado a dar entrevistas a destruir os respectivos Ministros.

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Mas – mais grave – sobre o carácter de Pedro Santana Lopes, ou até, já agora, sobre o meu caráter! Para agradar ao PS e ao então Presidente da República. Para lá “pôr” – nunca me cansarei de repetir – José Sócrates. Conseguiram.

Se 2023 fosse como 2004 Marcelo teria chamado a Belém Frederico Pinheiro, para imitar Sampaio. Que o chamou a ele e a outro – que eu peço desculpa ao Frederico Pinheiro de o comparar a tão sinistra personalidade – para falarem de “pressões” que eles sabiam nunca terem existido.

Importa relembrar que o que afirmei sobre “um” comentador televisivo aconteceu num acto partidário. Na tomada de posse da concelhia do PSD de Viseu. Disse que o então comentador (e hoje Presidente da República) tinha um problema de “empatia” com o então Primeiro Ministro. Deveria ter dito – mas presumia-se – que queria, tal como Cavaco, derrubar o Governo para terem hipóteses de serem eleitos (como foram) em 2006, 2011, 2016 e 2021.

Não há mal em ser egoísta. A minha Mãe sempre me disse que a caridade começa por nós mesmos. Mas daí a inventar cenários e realidades alternativas … chega!!!

Tão “realidades alternativas” como a mentira da sesta do Primeiro Ministro no intervalo da recepção ao Presidente de Moçambique, ou como as festas em São Bento (o autor moral dessas peças, embora absolvido na altura por “simpatia” da justiça portuguesa, está hoje a braços com acusações por crimes da ordem dos 100 milhões de euros).

Sim, é verdade que o Primeiro Ministro se demorou uns segundos mais no virar de duas páginas, no discurso de tomada de posse, num Palácio apinhado de gente (que medo meteu aquele apoio aos “donos do regime”, não foi?), por se ter sentido indisposto com os 40° graus de temperatura e sem ar condicionado. Mas daí a proporcionar a José Sócrates ter feito o que fez, eles que o conheciam tão bem, chega!

Ter um Ministro, numa sessão partidária – depois repetida a comunicação social –, a dizer que Marcelo Rebelo de Sousa, comentador, tinha um problema com o Primeiro Ministro, era um crime. Mas esse Ministro – eu, por coincidência – era o mesmo a quem pediram para ir a Belém, para reunir com o Chefe da Casa Civil do Presidente, para combinar a estratégia para que o Tratado de Lisboa não fosse referendado (caindo todos os ónus sobre o Governo, cujo Primeiro Ministro até defendia o contrário!).

E nem se diga que houve alguma contemplação do Primeiro Ministro sobre o carácter de um Ministro – um erro de “casting”, é verdade, mas como diria o actual Presidente da República, os Ministros (como os melões) só se sabe o que valem depois de empossados (abertos) – que atacou o Primeiro Ministro por razões de distribuição de pastas!

Mas o que importava a esses “políticos no activo”, mesmo disfarçados de comentadores? Acabar com um Governo PSD/CDS apoiado por uma maioria estável. Tudo para lá meterem José Sócrates!

O tal “menino de oiro”, cantado em livro, um livro apresentado anos mais tarde, pelo – em 2004-2005 – então Presidente da Mesa do Congresso do PSD (?!?!). Que lhes tenha sido útil a todos (como a alguns terá sido … é só ver … como diria o outro). Mas Portugal perdeu muito! Com um erro de base: o de ter aceite as pressões, de quem, depois, teve a carreira europeia e na alta finança que teve, para não ir para eleições antecipadas imediatamente!

Ou – depois do discurso do Presidente da República, na tomada de posse — não ter o Primeiro Ministro visto aprovado o Programa do XVI Governo Constitucional no Parlamento (como o foi) e, no dia seguinte, ter dito ao Presidente da República que queria logo eleições.

Nunca se saberá o que aconteceria, mas o que nunca teríamos era a narrativa do então Presidente da República – escrita depois da vitória do PS em 2005 mas nunca afirmada antes – que, se o PSD ganhasse, depois da dissolução urdida por si, se demitiria. Preencher o Euromilhões depois do sorteio dá sempre a possibilidade de acertar.

E, já agora, porque não houve dissolução, desta vez (não podemos dizer este ano, porque o ano ainda está no princípio)? Com coisas tão graves? Pela leitura – que acho correta – do Presidente da República. Eu, que tanto o apoiei, nos anos 80, que tanto o critiquei no início do século, que o apoiei – publicamente – em 2016 e de quem tive palavras tão simpáticas no seu último programa de comentário, concordo com ele. Porque, havendo uma maioria estável na Assembleia, tem de haver muito mais do que aconteceu até agora.

Mas – não saiam dos seus lugares – porque essa tal “muita coisa”… está a caminho! Ninguém foge à sua sombra, e basta o Presidente da República “esperar sentado” para, daqui a uns tempos, ter razões de sobra para dissolver o Parlamento. Por isso – confesso – acho que vou concordar (e muito) com o que o Presidente da República vai fazer a partir daqui, com excepção de uma única situação, se consigo prever os caminhos que vai percorrer até ao fim do mandato!

Mas, haverá alguma razão adicional para não ter havido dissolução? Há: o PSD. Mas isso é outra história.

Concluindo – e por tudo o que aqui vos deixo, no seguimento do que escrevi em 12 de Abril – não comparem o incomparável!

Perante tudo isto, fomos todos absolvidos. Não pelos comentadores, muitos de hoje que, há 19 anos, foram usados para entregar o poder ao “menino de oiro”. Com as companhias que teve. E com os resultados sabidos, disso já não haverá dúvidas!

Fomos – parafraseando Fidel Castro – todos absolvidos pela História.