Imaginem que 80% da Amazónia ardia. O impacto seria devastador, não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro. Choveriam críticas, exigiriam ações imediatas, e o mundo inteiro estaria focado em reverter os danos e impedir que algo semelhante voltasse a ocorrer.

Em Portugal, assistimos a uma tragédia de proporções semelhantes em 2017, quando 80% do Pinhal de Leiria ardeu nos incêndios que devastaram o centro do país. O Pinhal de Leiria, para nós, é muito mais do que uma enorme mancha verde no mapa. Com séculos de história, plantado durante o reinado de D. Dinis, é um símbolo da nossa herança e da nossa relação com a terra.

No entanto, esta catástrofe não suscitou a mesma urgência em termos de ação governamental ou de reformas necessárias para evitar futuras tragédias.

Onde estão as reformas florestais abrangentes? Onde está o investimento na prevenção de incêndios? Onde estão as políticas que prometem proteger o que resta das nossas florestas e garantir que não enfrentemos uma calamidade semelhante no futuro?

O que se seguiu foi uma resposta aquém das necessidades. O Pinhal de Leiria ardeu praticamente por completo, deixando um rasto de destruição que ainda hoje não foi devidamente resolvido. As promessas de replantação e recuperação não se concretizaram na medida em que eram necessárias. A reabilitação de um ecossistema tão rico e importante como este requer tempo, recursos e, acima de tudo, vontade política. No entanto, o tempo passa, e as ações concretas continuam a ser escassas.

Se não agirmos agora, arriscamo-nos a ver mais pedaços da nossa história reduzidos a cinzas. E, quando isso acontecer, será tarde demais para arrependimentos. Para evitar mais tragédias, é essencial implementar ações concretas, como a criação de uma rede de vigias de floresta, a instalação de sistemas de monitorização e deteção precoce de incêndios, o reforço dos meios de combate aos fogos, e a promoção de uma gestão florestal sustentável que inclua a limpeza regular das matas. É hora de encarar a realidade e tomar medidas sérias para proteger o que ainda resta, antes que mais uma parte da nossa herança desapareça para sempre.

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