A aprovação do primeiro orçamento da Câmara Municipal de Lisboa foi um momento clarificador para o Partido Socialista. Percebeu que os portugueses – e os lisboetas, em particular – não gostam de quem tem mau-perder.

Quando bem informados, os cidadãos sabem distinguir entre oposição e obstrução. A primeira advém do preceito democrático de debater ideias e propostas diferentes; a segunda é uma ação desleal para impedir que quem ganhou governe.

Qualquer cidadão com espírito democrático considera desejável que exista oposição e despreza qualquer tentativa de obstrução a quem, legitimado pelo seu voto, tem a responsabilidade de governar, assegurando a gestão da polis.

Ora, percebendo isso, o PS recuou no seu objetivo de chumbar o primeiro, e até agora único, orçamento da Câmara Municipal de Lisboa, liderada por Carlos Moedas e pela coligação Novos Tempos, de que faz parte o CDS.

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A pergunta que se seguia era simples: teria o Partido Socialista desistido de fazer obstrução? Não, apenas a elevou a outro nível. Porventura pior, porque mais dissimulado.

Agora o PS faz aprovar medidas que, sem balanço, nem equilíbrio, dificultam a vida dos lisboetas para criar indignação face à Câmara. O PS já não quer mandar Moedas abaixo. Quer mandar os lisboetas abaixo para que sejam estes a apear Moedas e os partidos da coligação Novos Tempos.

Isso é claro na proposta que o Livre apresentou para reduzir a velocidade rodoviária em Lisboa e fechar o trânsito na Avenida da Liberdade aos domingos e feriados. A proposta, por si, segue uma importante tendência na boa gestão das cidades: reduzir a circulação automóvel nas cidades, mais do que um desiderato europeu, é um padrão de mobilidade com resultados não só na qualidade de vida dos cidadãos, na dinâmica do comércio local e na promoção da sustentabilidade.

Moedas e o CDS estão alinhados com isso. Porém, sem deixar que os estudos de impacto fossem feitos, sem estratégia para a promoção intermodal dos transportes públicos, nem debate algum com os cidadãos, o Livre apresentou uma proposta às três pancadas, que apenas vai deixar ainda mais os lisboetas inquietos com o tráfego diário. Repare-se que, no meio desta opção de obstrução da oposição, sabemos que a Câmara Municipal de Lisboa apresentou um défice de mais de 100 milhões, respeitantes ao anterior ciclo autárquico.

O PS viu nesta proposta uma forma de indispor as pessoas com a Câmara, porque – sejamos realistas – ninguém atribui às oposições a responsabilidade. A “culpa” é sempre de quem manda. O problema é que, com uma maioria de esquerda no Executivo da cidade, quem governa está sujeito à obstrução.

É claro o condicionamento a que a coligação Novos Tempos é permanentemente sujeita, como o ataque à qualidade de vida no concelho por motivos eleitoralistas. O que não é claro é o novo credo do PS: “quanto pior, melhor”, porque o poder lhes interessa mais do que as pessoas!