Portugal vive um dos momentos mais difíceis da sua História. A pandemia originada pelo SARS-CoV-2 e pela respectiva doença da Covid-19, continua a testar a resiliência do nosso Serviço Nacional de Saúde, a impedir a dinâmica normal associada às atividades económicas, a intensificar um sentimento de deslocamento das pessoas face à realidade, motivada pelos confinamentos e as incoerentes maquinações políticas que lesam a pátria e as fundações da sua democraticidade.

Atualmente, uma certeza eleva-se acima de outras: o Estado português encontra-se mal servido pela chefia política do Governo socialista de António Costa. É notória uma abrangente falta de organização em diversas funcionalidades do Estado face à gestão da pandemia, destacando-se o mês de negro de janeiro e as decisões em torno do Natal, que poderiam ter sido atenuadas, uma vez que os modelos apresentados previam a ocorrência de um pico.

Não houve preparação, o Governo baixou a guarda, não se procurou iniciar procedimentos concursais para a contratação de profissionais de saúde (algo que leva tempo), mesmo tendo em conta a situação extraordinária em que o país vivia. Deduzo, que pensar-se-ia que Portugal passaria pelos “pingos da chuva” sem uma situação de quase rotura do SNS e, nas palavras da ministra da Saúde Marta Temido, que não duas, mas três vezes, referenciou que era “criminoso” colocar-se em causa a capacidade de planeamento do seu ministério. Confunde-me uma ministra que serve o país, mas que não aceita ser colocada ao escrutínio público.

Já dizia Herculano, que  “o homem é mais propenso a contentar-se com as ideias dos outros, do que a reflectir e a raciocinar.” E quem se diz “lúcido” em entrevista na televisão ou em plenas capacidades de raciocínio, entenderá, ministro ou não, o significado da sabedoria popular presente no seguinte provérbio piscatório: “Quem vai para o mar, avia-se em terra”, e isso não aconteceu!

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O resultado da ausência desse planeamento é a chegada a solo português de uma equipa de 26 elementos, médicos e enfermeiros, do exército alemão, liderados pelo General Dr. Ulrich Baumgärtner, que vêm a Portugal em nome da vida e da solidariedade europeia. Imagino como se estarão a sentir os profissionais de saúde que, dando de si numa cota diária, lutando desenfreadamente para salvar vidas, muitos em esforço inumano para garantir assistência aos pacientes, assistem, não por palavras, mas por atos à falência das opções por parte do Governo ao receberem este grupo médico vindo da Alemanha.

Um Estado sem opções é um Estado que se vê obrigado a aceitar ajuda externa. E um Estado nestas condições é um Estado que não pode continuar a servir os Portugueses.

Em meados de Janeiro, num breve texto, teci algumas considerações que acabei por partilhar numa rede social, em que penalizava a estratégia de comunicação do Governo em relação ao aparato e irresponsabilidade em torno da chegada da vacina, levando a tirar a máscara da cara dos portugueses. Aquela leve sensação de confiança, muito portuguesa, de que tudo ficará bem, apanho a vacina e estou safo! Até lá, os nossos familiares, amigos, conhecidos, e até nós, poderemos ter que passar por este flagelo. Deus nos livre.

Mas nunca pensei que esse pensamento fosse o mesmo que levasse ao desvio de vacinas e à vacinação indevida, inclusive de autarcas socialistas em contextos pouco claros. E levando, recentemente, muitos cidadãos a colocar em causa a transparência do Estado e a reflectir, que se é assim com as vacinas, imagine-se como será quando os milhões para a recuperação económica chegarem… Cautela.

Terminamos com o exemplo, que é urgente e que poderia vir de cima, nomeadamente da classe política, mas são poucos os exemplos que daí vêm e de pequeno impacto. Mas se calhar, o melhor exemplo pelo respeito da vida e da importância das regras de segurança e higiene, possa vir de um parceiro fundamental em todo este processo.

Falo do exército português, que desde o primeiro momento devia ter tido uma ação mais incisiva e pedagógica, por via da proximidade e sensibilização da população, porque na realidade continuam muitas pessoas a andar na rua. Se em alguns centros populacionais, a fiscalização por parte das forças de segurança é insuficiente devido ao seu reduzido número e pela necessidade de resposta a outras ocorrências, o exército português já devia ter sido mobilizado a integrar as acções de patrulhamento das ruas e de sensibilização da população. Desta forma inibiriam aqueles que insistem em passear na via pública somente com a trela do canídeo pela mão ou que adoptam animais para o efeito.

Nem tudo, no entanto, são desgraças e a recente nomeação do Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo para coordenador do Plano de Vacinação contra a Covid-19 representa esse cunho da tradição militar, mais orientado para a componente logísitica e organizacional, mas, acima de tudo, o exemplo maior que tanto necessitamos. Uma escolha de louvar aos céus, porque todos nós sabemos da resistência da esquerda neste país, em dar lugar de destaque a militares graduados e com provas dadas, vá-se lá saber porquê… Talvez porque a competência prevalece sempre, face ao engodo e à demagogia.

Por fim, o que sabemos é que o Estado enfraqueceu, as instituições cederam nas suas fundações, interromperam o seu normal funcionamento e condicionaram por via da sua incompetência o competente, lapidando o erário público, atrasando o país e levando maus exemplos até à Europa.

Aquilo que já era endémico, o vírus intensificou. Alcançado este ponto na nossa História contemporânea, Portugal falhou no teste e António Costa, à semelhança de D. Fernando, como dizia Camões, “que todo o Reino pôs em muito aperto […] Que um Rei fraco faz fraca a forte gente”.