Nos dias 15 e 16 de dezembro, teve lugar a reunião do Conselho de Ministros da União Europeia para o sector das Pescas. Após as negociações, foram definidas as quotas para 2021-2022, sendo anunciadas nefastas e lamentáveis reduções nas possibilidades de pesca a nível dos totais admissíveis de captura (TAC).

Uma breve análise das disparidades entre as percentagens apresentadas por Bruxelas e aquelas negociadas por Portugal, deverão deixar-nos com dúvidas face ao sucesso destas negociações, veja-se:

A nível da Pescada, Bruxelas propunha uma redução de 12,7%, sendo alcançado por Portugal uma redução de 5%; no Linguado, um stock que contempla várias espécies de linguado, a proposta de Bruxelas era de 41,5% (que seria catastrófico), Portugal consegue 20% (embora não sendo catastrófico, é péssimo); por fim e não menos importante, o Peixe-Espada preto, tinha uma proposta de redução em 25% e conseguiu-se uma percentagem de 20%.

Algo correu mal durante as negociações, tanto que representantes do sector, como a ANOP – Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco explanam que, durante o Verão de 2020, em comunicado da Comissão Europeia ao Parlamento Europeu e ao Conselho, ditava que a pesca no Atlântico Nordeste apresentava cada vez mais índices de sustentabilidade devido ao alívio das pressões de pesca sobre as unidades populacionais. Em contradição com as propostas de redução apresentadas.

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No que diz respeito à ADAPI – Associação dos Armadores das Pescas Industriais, estas reduções poderão significar a paragem de embarcações nacionais durante o ano de 2021. Concluímos que o Senhor Ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, mordeu o isco e ficou bem fisgado, justificando desta forma os seus fracos resultados, como diz no site do Governo, leia-se: “Oportunidade de pesca para 2021 está em linha com pareceres científicos e princípios da Política Comum”, quando a própria Comissão dita a sustentabilidade em águas portuguesas.

É lamentável que um sector que encarou como um desígnio nacional, aliás um dever patriótico, colocar pescado fresco nas mesas dos Portugueses, um sector que nunca parou a sua atividade totalmente durante a pandemia (fazendo paragens justificadas devido às tripulações infetadas com Covid), que apresentou lucros e uma enorme capacidade de resiliência face a momentos de crise ou adversidade, vê na grande mesa de negociações europeias a redução das suas possibilidades de pesca para 2021-2022. Dramático…

Existe um (des)governo no Mar, tal como na Terra, e não podemos esquecer que os principais prejudicados por estas reduções serão as embarcações da pesca polivalente, que representam a grande maioria das tipologias de pesca que existem em Portugal e aquela que tem maior impacto sobre as comunidades litorais dotadas de portos de pesca urbanos e que, irremediavelmente, possuem uma componente social e cultural que será fundamental para a recuperação económica pós-Covid.