Nos últimos tempos tenho pensado, debatido e tentado perceber sobre a mudança do paradigma cultural. Este texto não se enquadra numa opinião típica, mas sim num exercício intelectual para o qual ainda não tenho resposta — e como um dos maiores prazeres da vida é o debate político, deixo ao leitor uma pergunta, começando por uma afirmação: está, inequivocamente, uma mudança social, cultural e política em curso. Fazer parte dela é sinal de progresso, de manipulação ou de banalização?
Inquestionavelmente o pensamento político está em evolução, as ideologias moldam-se aos tempos modernos e o discurso social e político é completamente diferente daquele que vinha do século XX. O fenómeno é mundial, nacional e local. Mas o que estará acontecer para que todas estas mudanças estejam em curso? O século XX foi assim tão desastroso ou há cada vez mais tiques progressistas? O panorama político era assim tão retrógrado e conservador que a emergência de políticas de esquerda é justificável? Nada disto me parece correto, mas peço que o leitor entre no exercício.
Uma das hipóteses que mais considero é o facto de a Esquerda estar sempre na frente do debate político, cultural e social — enquanto a Direita se limita a observar.
António Gramsci, durante o século XX, defendia o conceito de Hegemonia Cultural, onde o poder das classes dominantes sobre as massas populares, através de várias etapas (sistema educacional, comunicação social e instituições religiosas), levava a que os primeiros tivessem um enorme controlo sobre os segundos. Isso acabaria por resultar num poder cultural sobre a população, graças à manipulação em busca de um resultado (inicialmente) oculto. Estará isso acontecer?
Uma pessoa de Direita que há 15/20 anos seria — quase de certeza — contra o casamento homossexual, contra o aborto, contra a eutanásia ou até contra a adoção homossexual pode, hoje, ser a favor de todas as políticas atrás referidas e continuar a considerar-se de Direita. Ou melhor: pode considerar-se, mas será que é mesmo? Está é uma das grandes dúvidas que tenho e para a qual as respostas continuam a não ser consensuais. Por exemplo: uma pessoa que seja a favor de tais medidas “avançou” no molde social adaptando-se aos seus tempos e, por isso, é alguém de Direita que sabe conviver com essas realidades ou, por outro lado, é alguém que se deixou atingir pela agenda cultural da Esquerda renegando os seus pilares de Direita?
A Direita vive num deserto de ideias há demasiado tempo. Isso leva necessariamente a que todas as mudanças sociais sejam manifestas pela agenda de Esquerda: que, por sua vez, faz o que quer, quando quer, as vezes que quer da maneira que acha mais conveniente. Qual a resposta da Direita? Abana a cabeça, utiliza argumentos infantis, não se organiza e, pior do que tudo, não se sente capaz de fazer frente às medidas contrárias. Quando é que foi a última vez que a Direita colocou um assunto social à discussão com a finalidade de o reformar? Não me recordo: limita-se a correr atrás do prejuízo. No futebol, o ataque é a melhor defesa, e quem não marca sofre. Na política é igual: quem apresenta ideias, acabará por conseguir implementá-las (“implementar” em dicionário de Esquerda diz-se: impor até à exaustão), e quem não apresenta soluções, nem tão pouco marca presença assídua no debate social e cultural, acabará por enfrentar ideias contrárias às suas. O medo de ser reacionário assusta tanto o conservadorismo que não permite à Direita ser o grande bastião da mudança (positiva).
O que é que vai significar ser de Direita daqui a 15/20 anos? Hoje, em Portugal, significa ser 6,8% da população (CDS, CHEGA! E IL). O populismo de André Ventura vai ganhar espaço, não haja dúvidas disso. Neste caso, o primeiro culpado do seu surgimento é a própria Direita, uma vez que não soube combater a agenda cultural de Esquerda, e só o teria conseguido caso tivesse ocupado um lugar firme no espaço político, estivesse na origem do debate e procurasse resolver os verdadeiros problemas da sociedade.
Está um Processo Revolucionário Cultural Em Curso. Não sei é o Marxismo Cultural, se é um Avanço Fundamental ou se faz parte do processo civilizacional. Não sei. Sei que há algo a acontecer, perigoso ou não, já mudou muito a sociedade. Significa progresso, manipulação ou banalização?
Não sei. Elucide-me o leitor.