A Europa está a braços com uma epidemia que tem crescido mais no resto do mundo do que no seu epicentro. O governo chinês tentou conter a infecção encerrando cidades, criando barreiras policiais e usando o músculo estatal para impedir a propagação do vírus. A Europa das falsas liberdades e de todas as esperanças, fragilizada pela sensação de abandono criada pelo Brexit, está a descurar a segurança dos cidadãos europeus.

A União Europeia e um governo incapaz de se impor, optam por deixar deixar fronteiras abertas para demonstrar unidade e firmeza do tratado europeu. A verdade é que o que está em causa não é política externa, é a vida de 300 milhões de pessoas que habitam nesta nossa casa. A não suspensão do espaço Schengen para confinamento da epidemia terá custos elevadíssimos. Económicos, financeiros e, sobretudo, humanos. À troca de quê? Uma afirmação global. A Europa tornou-se num casal que até já dorme em camas separadas mas faz questão de ir a festas junta, para parecer que está tudo bem.

Deixámos um português na China para não importar o COVID-19. Qualquer epidemiologista diria que bem. O que não faz sentido é abandonarmos os nossos à sua sorte do outro lado do mundo e abrirmos diariamente as portas a milhares de estrangeiros que nem sequer rastreamos nos aeroportos. A globalização era uma das poucas coisas que precisávamos de conhecer para saber que o coronavírus se tornaria numa pandemia se não existisse uma intervenção rápida e eficaz na sua contenção.

A falta de capacidade de programação, a ineficiência governativa e o obscurantismo negacionista das instituições que deviam proteger a nossa saúde pública trouxe-nos aqui. À periclitância dos dias, à incerteza do momento, à insegurança que grassa enquanto nos gritam aos ouvidos que tudo correrá bem. Um Estado responsável não coloca em risco os cidadãos nem exige aos profissionais que cuidem dos doentes sem ferramentas. A DGS limitou-se a copiar imagens e a traduzir vídeos para informar os profissionais de saúde. Não há formação nem directrizes claras nos hospitais, as cirurgias programadas continuam a decorrer como se não houvesse necessidade de começar a libertar camas, a ministra da Saúde manda os doentes isolarem-se, Graça Freitas pede que usem as respostas do SNS e a população, confusa com tanto ruído comunicacional, acaba por se dirigir aos hospitais onde um tumulto de gente e camas em corredores, sem o espaçamento mínimo necessário para impedir o contágio, aguarda pela triagem sem que lhes seja fornecida uma máscara e luvas para que se proteja e para que proteja os outros doentes.

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Habituámo-nos a um mundo onde as decisões políticas não têm uma fisionomia associada, são só diplomas. Aqueles pedaços de papel, obrigam os cidadãos dar a cara, a cumprir as funções que lhes designam, mas quem os cria, quase nunca tem rosto, é sempre a democracia. A cúpula de S. Bento, paternalmente, decide. Os portugueses, inocentemente, correm os riscos.

Estivemos a discutir se as pessoas tinham direito a morrer, enquanto o mundo pensava como salvar os pacientes do que aí vinha. Agora, vamos discutir à pressa como evitar muitos casos de uma doença de que pouco se sabe enquanto o Novo Banco sofre uma injecção de capital que dava para colocar o SNS com os profissionais de saúde necessários.

O nosso problema, enquanto país, nunca foi falta de dinheiro. É falta de rumo!

Agora que, mais uma vez, a oportunidade de nos salvaguardarmos passou, resta dizer:

“Quer a factura com número de contribuinte?”