A primeira campanha a sério que fiz, para as legislativas, foi a de 1995. “Razão e coração” era o slogan do António Guterres. Num momento em que tudo ou quase tudo se decide com o coração, que por norma privilegia paixões e isso, também por norma, leva aos extremos, é tempo de dar primazia à razão, sobretudo à razão moderada.

Mas antes disso voltemos 50 anos atrás. Já são poucos os vivos que participaram no 1º Congresso do PS em democracia. Mário Soares nem sempre foi um líder consensual. Em 1974 concorreu contra Manuel Serra, um homem muito à esquerda, e quase perdeu as eleições. Nesse congresso a posição dos moderados foi fundamental. O que teria sido o PS se o seu Secretário-geral tivesse sido Manuel Serra e não Mário Soares? Ninguém o pode afirmar, mas, pelo que conhecemos da história, o PS não teria tido o papel que hoje tem na política portuguesa. Não vivemos o mesmo tempo de 1974, mas podemos estar a viver o tempo em que o PS redefine para as próximas décadas a sua posição ideológica. E se essa posição for “radicalmente” de esquerda, então temo que os tempos que se avizinham não sejam bons para o Partido Socialista e, perdoem-me a imodéstia de quem é militante há 31 anos, para Portugal.

O centro político em Portugal sempre ganhou eleições e, apesar dos extremos crescerem, o centro vai continuar a ser relevante para ganhar eleições. Quem deu a maioria absoluta ao PS em 2021 vai decidir se vota PS, porque não acredita no PSD, ou se, por outro lado, vota PSD para que este tenha mais força negocial com o Chega. Para mim é óbvio, independente daquilo que diz Montenegro, que, se houver uma maioria de direita, o PSD vai governar em coligação com a IL, o Chega e o CDS, se este eleger deputados. Ora, o centro político, que decidiu e decide eleições, pode votar no PS moderado, mas não num PS “radicalizado” à esquerda. Mais, os próprios eleitores à esquerda do PS não têm nenhuma motivação num voto útil no PS. Têm a ilusão numa maioria de esquerda e por isso preferem dar mais força aos partidos da dita geringonça. Prova de tudo isto são as últimas sondagens onde temos PS e PSD em empate técnico e mais de 25% de indecisos. Algo inédito nos últimos anos. O PS com António Costa garantiu que somos o único partido que consegue fazer acordos à esquerda sem perder o centro e acordos de Estado com o centro-direita. Esse é um património político que o PS não pode, não deve perder. Ora, se estou certo nesta minha análise, e acredito que estou, então a escolha do candidato para Secretário-geral, e logo para Primeiro-ministro, só pode ser uma: José Luís Carneiro.

Um Primeiro-ministro é um executivo. Um fazedor. Falar mais “alto”, falar mais ou menos o que lhe vem à cabeça, ser impulsivo são caraterísticas de que um fazedor não precisa. Precisa sim de ser em muitos casos discreto para levar a “água ao seu moinho”, que é como quem diz governar de todos e para todos. Apoio o José Luís desde a primeira hora. Porque acredito nas suas capacidades e no seu trabalho. Um trabalho que pode e deve ser realçado e valorizado. Desde as três vitórias na Câmara de Baião, ganha à direita em 2005, 2009 e 2013, esta última com mais de 70%, passando pelo magnífico trabalho como Secretário de Estado das Comunidades e terminado agora como ministro de uma das pastas mais difíceis do governo, de qualquer governo.

O José Luís é alguém que começou a sua vida política num concelho do interior do distrito do Porto. Um concelho pequeno. Conquistou o direito de ser candidato a Secretário-geral e a Primeiro-Ministro fruto do seu trabalho e do seu mérito. Não precisou de angariar apoios que fazem a “espargata” para lhe conferir um ar moderado. Gente que já disse tudo e o seu contrário de acordo com os seus interesses pessoais. Demonstrando que coluna vertebral é algo que já perderam há muito. O José Luís é aquilo que sempre foi: um fazedor e um homem de consensos. Se esta análise faz sentido para o militante do PS, então coloquemos a razão acima de tudo. Saibamos nós ter a clarividência dos delegados de 1974, elejamos Mário Soares e não Manuel Serra. O futuro do PS e de Portugal está nas mãos de todos e de cada um de nós. A decisão é nossa, na solidão do voto que exercemos, livre e democraticamente, nas nossas secções.

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