Mitterrand viu na Frente Nacional (FN) de Jean-Marie Le Pen a oportunidade de manter a esquerda, e o seu PSF, eternamente no poder, ou, no mínimo, de garantir a alternância com os gaulistas, através de uma “cerca sanitária” à FN, em que os gaulistas e os socialistas votariam na segunda volta no candidato que pudesse vencer o candidato da Frente Nacional. Com o “rebranding” de Frente Nacional, que vai para além da mudança de nome para “Rassemblement National” (traduzido livremente por “Reunião Nacional” – RN), já sob a liderança de Marine Le Pen, parece estar a deixar de acontecer, já que têm sido eleitos à primeira volta alguns candidatos do RN e à segunda volta outros têm merecido a aceitação dos franceses. Contudo, a estratégia delineada por Mitterrand tem tido até ao momento algum sucesso.
Costa viu no Chega a mesma oportunidade.
Decidiu, e com ele toda a esquerda, ajudado por uma imprensa acrítica ou aliada, que o Chega era um partido racista, xenófobo, fascista, de extrema-direita… Assim sendo, decretava-se a mesma “cerca sanitária” lançada por Mitterrand em França, impedindo os partidos chamados da “direita moderada” de estabelecerem qualquer acordo pré ou pós eleitoral com esse partido em que só os “deploráveis”, os zangados e os anti-democráticos poderiam votar. Os partidos da “direita moderada”, num anseio de obter a aprovação dos que agem como se fossem os donos do regime, anuíram. No entanto, o Chega cresceu, é já a terceira força política, o que agrada ao Dr. António Costa se conseguir mantê-lo afastado do poder e se a “direita moderada” continuar a aceitar a cerca sanitária imposta por si.
Será o Chega um partido perigoso para a democracia? Ou será, outrossim, um partido perigoso para os que se arrogam ser os donos (desta) democracia? Será o Chega dispensável a uma alternativa à direita? Ou será incontornável à constituição dessa alternativa?
Do manifesto político fundador do partido podemos retirar:
“O CHEGA assume-se como um partido nacional, conservador, liberal e personalista.
Nacional, na medida em que considera a nação como um quadro de referência à acção do Homem, funcionando como entidade facilitadora e integradora do seu desenvolvimento e da sua acção. (…)
Conservador, porque fiel às raízes que verdadeiramente o são, mas aberto à inovação criadora.
Liberal, porque nasceu para reduzir o Estado às suas funções mínimas essenciais (…).
Personalista, finalmente, porque como alfa e ómega da actuação política coloca o Homem, e não o Estado.”
Mais à frente podemos ainda ler que “o CHEGA repudia toda a tirania. Tirania que é o poder, sem razão, de roubar o outro da sua propriedade, o que pode ser feito por assalto, expropriação ou tributação.”
Sobre as acusações de racismo e xenofobia, o Chega é também claro no seu manifesto, “o CHEGA assume, de forma inequívoca, a rejeição clara e assertiva de todas as formas de racismo, xenofobia e de qualquer forma de discriminação contrária aos valores fundamentais pelos quais se pautam as sociedades de matriz europeia. Tal como assume a rejeição da utilização abusiva e o desvirtuamento inaceitável desses termos que tem, como único resultado, o seu descrédito a a sua banalização.”
No referente ao epíteto de fascista ou anti-democrático, o partido manifesta que “promoverá uma verdadeira cultura de liberdade política e cultural, insurgindo-se fortemente contra os condicionamentos que persistem em manter-se no espaço público e na discussão política em Portugal (…). É assim que o CHEGA assentará prioritariamente a sua acção no combate ao “politicamente correcto”, à corrupção dos interesses, à censura institucionalizada, à imigração ilegal, às fragilidades no controlo das fronteiras, ao anti-semitismo, ao racismo de qualquer natureza e à impunidade crescente do crime organizado e violento, pela afirmação da autoridade do Estado de Direito Democrático, do Liberalismo Económico, da plena e incondicionada Liberdade de Expressão e de Opinião, pluralista e não condicionada por poderes instalados na sociedade, com plenitude da vontade livremente expressa pelos cidadãos portugueses em eleições democráticas.”
Porém, é perfeitamente compreensível que os partidos tradicionais vejam no Chega uma ameaça pois é mencionado claramente que “o CHEGA irá, assim, reduzir drasticamente o Estado, colocando-o dentro dos estreitos limites que o liberalismo clássico desde sempre lhe traçou”, o que poderá pôr em causa a “maneira habitual de fazer negócios”.
O manifesto é encerrado da seguinte forma: “O CHEGA veio, finalmente, para mudar. Mudar mentalidades rotineiras, gastas e vazias; mudar sistemas caducos, ultrapassados, sem destino; mudar estruturas corruptas, podres e venais. O Chega veio para mudar Portugal. Ou, melhor, o CHEGA veio para, de forma transparente, democrática, corajosa e eficaz, devolver Portugal aos portugueses; devolver os portugueses a Portugal mas, acima de tudo, devolver o Portugal de hoje ao Portugal de sempre.”
Analisando de uma forma muito sucinta, o Chega assume-se como um partido liberal clássico, conservador e, sobretudo, um partido de luta à agenda marxista e/ou gramsciana que tende a ser imposta à sociedade portuguesa. Torna-se por causa disso um partido pária no sistema político português? Não pode ser equacionado em soluções de governo à direita? Porquê?
No campo dos princípios e da orientação política é claro que este partido pode, e deve, ser contabilizado numa opção de alternativa na área da direita. Uma alternativa que vá muito além da simples alternância que fomos assistindo na maior parte dos mais de 49 anos que levamos de III República.
Sendo os princípios o mais importante, não podemos, também, de deixar de fazer contas.
O Chega já vale, de acordo com as sondagens divulgadas, mais de 11% do eleitorado. Poderá valer em eleições legislativas um grupo parlamentar de cerca de 40 deputados. Está presente e consolidado em todos os círculos eleitorais. Representa um eleitorado que tem que ser tido em conta, devendo ser-lhe dada oportunidade de estar presente no poder executivo. Um grupo parlamentar que representa essa enorme minoria de cidadãos nacionais não pode ser desprezada ou enjeitada, pois quem os elege tem os mesmos direitos de cidadania que os restantes. Não são deploráveis!
Se a “direita moderada” continuar a cair na armadilha estendida pelo Dr. António Costa (e amigos) veremos a esquerda perpetuada no poder, a empurrar Portugal para a pobreza e os portugueses para a indigência.
Vamos permiti-lo?
É hora de ter coragem para romper o cerco!