O nome da doença pode ser difícil, mas é fácil de explicar: a chamada “escoliose idiopática do adolescente” é uma patologia caracterizada pela curvatura anormal da coluna vertebral, que aparece durante a adolescência. Tradicionalmente, os casos mais graves são tratados através de fusão vertebral, um procedimento cirúrgico que corrige a curvatura através da união das vértebras envolvidas, utilizando sistemas de fixação rígida compostos por implantes metálicos – parafusos e barras. Essa abordagem, no entanto, limita o crescimento e a mobilidade dessa parte da coluna. Recentemente, surgiram alternativas de tratamento menos invasivas e que, simultaneamente, permitem preservar a mobilidade e o crescimento da coluna, como o sistema de distração dinâmico posterior (PDDD) e o “Vertebral Body Tethering” (VBT).

O PDDD é um dispositivo que utiliza um mecanismo de roquete fixado à coluna vertebral através de parafusos pediculares. Este implante tem a caraterística de fazer um auto-alongamento e, sendo aplicado do lado côncavo da curva, permite uma correção gradual da curvatura, aproveitando o crescimento natural do adolescente e a flexibilidade da coluna. O procedimento para a implantação deste sistema é menos invasivo, quando comparado com a fusão vertebral tradicional. Requer uma incisão mais pequena, tem menor tempo de recuperação e menos risco de complicações pós-operatórias.

Outra técnica emergente é o VBT. Esta abordagem, cuja tradução literal é o “amarramento do corpo vertebral”, utiliza um cordão flexível e resistente, que é fixado em parafusos colocados nas vértebras, ao longo do lado convexo da curva escoliótica. O cordão é tensionado, aplicando uma força de compressão, o que leva à correção da curvatura. É particularmente eficaz em jovens que ainda estão em crescimento, uma vez que a força aplicada pelo cordão vai permitir a continuação do crescimento da coluna do seu lado côncavo, levando à continuação da correção da curvatura, de forma progressiva.

Além disso, ao preservar o movimento segmentar das vértebras, permite uma mobilidade mais natural após a cirurgia. Outra das possibilidades desta técnica é a sua colocação por uma abordagem minimamente invasiva – por toracoscopia, através de quatro ou cinco pequenas incisões de 15 milímetros – permitindo uma recuperação bastante mais rápida, com um risco muito baixo de complicações. Os resultados dos estudos em doentes submetidos ao VBT têm sido muito encorajadores: apresentam uma melhoria significativa na curvatura e relatam altos níveis de satisfação com o procedimento. Por ser uma técnica relativamente nova, ainda são necessários estudos para avaliar a sua eficácia e segurança a longo prazo.

As técnicas de não fusão, como o PDDD e o VBT, representam um avanço significativo no tratamento. São alternativas menos invasivas e que preservam a mobilidade e o crescimento da coluna, proporcionando uma melhor qualidade de vida aos doentes. É importante considerar, no entanto, que estas técnicas não são adequadas para todos os casos e a decisão de tratamento deve ser baseada numa avaliação cuidadosa por parte de ortopedistas pediátricos com dedicação específica a esta patologia. Como em qualquer procedimento médico, é fundamental que os doentes, as famílias e os médicos envolvidos discutam detalhadamente todas as opções de tratamento, considerando os benefícios e os possíveis riscos. O Hospital CUF Porto foi o primeiro hospital do país a disponibilizar o sistema PDDD e o primeiro hospital privado a realizar um VBT, sendo, atualmente, o único em Portugal a disponibilizar todos os sistemas para o tratamento cirúrgico da escoliose idiopática do adolescente.

Espera-se que estas técnicas se tornem ainda mais refinadas e que novas abordagens continuem a surgir, oferecendo ainda melhores resultados.

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