É um daqueles dias em que chego em casa e tenho 20 minutos para almoçar. Abro o frigorífico para pegar nas sobras dos jantares anteriores e aquecê-las no microondas. O meu companheiro aparece de repente e informa que terminou de escrever um artigo sobre o veganismo. Enquanto estou apressadamente a preparar o meu prato, começa a ler em voz alta a versão final.
Ao ouvir o mesmo, quando chega aos motivos pelos quais o levaram a seguir tal estilo de vida, como a existência miserável à qual a indústria da carne submete milhões de animais, o nível assustador que estamos a experienciar os efeitos das alterações climáticas, imediatamente sinto-me culpada – por estar prestes a comer as coxas de frango que estão na bancada. É caro leitor, a verdade incomoda. Vivemos como se a natureza fosse um objeto em que seres vivos se tornaram coisas e ecossistemas se tornaram recursos.
Mas a questão aqui é que nos dias que correm não nos podemos dar ao luxo de pensar apenas na nossa saúde, sem também pensar na saúde do nosso planeta. E a maior parte de nós está mesmo preocupada. Em 2019 o European Council on Foreign Relations, realizou uma pesquisa em 14 países da UE onde foi feita a seguinte pergunta “Acredita que devemos dar prioridade ao meio ambiente mesmo que ao fazer isso tenha um impacto negativo no crescimento económico?” Na maior parte dos casos, entre 55-70% das pessoas disseram que sim.
Considerando que a forma como nos alimentamos é uma das principais causas das alterações climáticas em 2019, a EAT-Lancelet Comission criou a Dieta Planetária. Esta é um tipo de dieta que foi criada com o objetivo de ser sustentável a longo prazo e promover a saúde do indivíduo e do planeta. É flexível o suficiente para acomodar tradições e preferências alimentares e os produtos de origem animal são minimizados, não totalmente excluídos, pelo que existe uma variedade de opções, tanto para os onívoros, como para os que seguem dietas vegetarianas ou veganas.
Ela se baseia em ingerir alimentos maioritariamente plant-based, ou seja, alimentos que são derivados de plantas, como frutas, legumes, grãos, nozes e sementes. Além disso, a dieta planetária promove a redução do consumo de alimentos processados e o aumento do consumo de alimentos frescos e locais, com o objetivo de diminuir o impacto ambiental da produção de alimentos. Também incentiva o uso de práticas agrícolas sustentáveis e a preservação da biodiversidade.
No que diz respeito à quantidade de alimentos de origem animal, se considerarmos um adulto saudável que consome 2500 calorias por dia, recomenda-se comer aproximadamente 100g de carne vermelha, 200g de carnes brancas e peixe e 2 ovos por semana. Os valores de ingestão ideais de cada um, dependem da idade, tamanho do corpo e nível de atividade física.
Existem muitas vantagens para a saúde do ser humano e para o planeta ao seguir uma dieta planetária. Algumas das vantagens mais importantes incluem:
- Vantagens para a saúde: ajuda a prevenir doenças crónicas, como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Alimentos plant-based também são ricos em nutrientes, como fibras, antioxidantes e fitoquímicos, que podem promover a saúde geral do indivíduo.
- Vantagens ambientais: A produção de alimentos de origem animal é mais intensiva em termos de recursos e gera mais emissões de gases de efeito estufa do que a produção de alimentos plant-based.
- Vantagens éticas: A produção de alimentos de origem animal muitas vezes envolve a criação de animais em condições de sofrimento e exploração. Ao escolher alimentos plant-based, é possível reduzir ou eliminar o apoio a essas práticas.
- Vantagens económicas: A dieta planetária pode ser mais acessível do que uma dieta baseada em alimentos de origem animal, especialmente em regiões onde os alimentos plant-based são mais abundantes e baratos.
Precisamos de reorganizar a forma como nos alimentamos para manter os ecossistemas, uma vez que dependemos dos mesmos para a nossa existência. A mentalidade de que somos entidades separadas de todo o resto que faz parte do planeta, foi justamente o que causou o problema. Pode ser difícil, uma vez que estamos acostumados a ver a natureza como algo separado da sociedade, em vez de um sistema complexo, em que, além de estarmos todos interligados, também temos os nossos destinos entrelaçados.