No próximo dia 24 de Abril celebra-se o Dia Internacional do Milho.

O milho é uma das culturas agrícolas mais antigas da Humanidade, estimando-se que as primeiras plantações se tenham iniciado há mais de oito mil anos na região da América Central, quando agricultores astecas, maias e olmecas fizeram o primeiro processo de selecção a partir do teosinte, uma infestante gramínea. No livro sagrado dos Maias, conhecido como Popol Vuh, o milho é citado como sendo o substrato básico da criação humana.

Ao longo dos séculos, o milho afirmou-se como base da alimentação humana e animal, encontrando-se, atualmente, difundido pela quase totalidade do globo terrestre. É a base alimentar de diversos povos e nações, sendo uma fonte de hidratos de carbono acessível a milhares de milhões de pessoas e o cereal mais produzido em todo o planeta, superando o trigo e o arroz.

Também se estima que, atualmente, cerca de 60% da produção mundial de milho tenha como destino a formulação de alimentos compostos para animais. O restante é utilizado de diversas formas, destacando-se o seu uso como matéria-prima base para a produção de amidos, bebidas, colas, edulcorantes, óleos, polímeros, etanol e uma infinidade de outros produtos que compõem diversas cadeias produtivas. O uso do milho para a produção de etanol nos EUA é entendido como prioridade estratégica para a maior economia mundial.

Em Portugal, o milho é, destacadamente, a principal cultura arvense, ocupando cerca de 115 mil hectares, ou seja, quase 40% da área nacional dedicada àquelas culturas. É incontestável a sua importância na economia nacional e regional e na coesão e no desenvolvimento do território, nomeadamente num interior cada vez mais desertificado.

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Apesar da importância da cultura na produção agrícola nacional, estima-se o nosso grau de aprovisionamento em cerca de 25%, valor manifestamente baixo e uma preocupante realidade que urge contrariar. Analisada de outra perspetiva, esta realidade é bastante mais crua: de facto, Portugal é auto-suficiente em 100% durante três meses e totalmente dependente do exterior durante os restantes nove meses do ano!

A globalização das trocas comerciais, tão crítica e necessária para a economia portuguesa, não será, certamente, a panaceia para as debilidades do nosso setor. As crises cerealíferas de 2007, de 2012 e, presentemente, o novo choque de preços provocado pela abrupta intervenção da China nos mercados, têm-nos mostrado quão arriscadas são as políticas de total dependência do livre comércio mundial. Ontem, como hoje, os grandes países exportadores de cereais são os primeiros a impor entraves à exportação, sempre que a estabilidade dos seus preços internos é colocada em causa.

É impossível existir soberania alimentar quando um país releva para segundo plano o seu protagonismo na definição de uma estratégia clara para o setor agrícola. Não existe, no nosso país, qualquer mecanismo de salvaguarda de gestão de crises ou stocks de segurança para situações de emergência!

A Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais, aprovada pelo XXI Governo Constitucional e que conta com o empenho político da atual responsável do Ministério da Agricultura e com o total apoio das principais associações do sector, ANPROMIS e ANPOC, será, seguramente, uma sólida base de trabalho para inverter esta situação e a sua implementação é, presentemente, mais oportuna do que nunca.

Mas para que tal suceda é necessário criar condições, no âmbito da nova Política Agrícola Comum, para garantir (e recuperar!) uma justa remuneração da atividade dos produtores de cereais nacionais, nomeadamente através do estabelecimento de ajudas ligadas à produção, situação de vulnerabilidade já devidamente identificada, quer pela Comissão Europeia, quer pelo Governo de Portugal.

Os produtores nacionais de milho, representados pela ANPROMIS, estão unidos no desígnio nacional da soberania alimentar, da valorização dos cereais portugueses e de um compromisso para uma agricultura mais verde e mais digital.

Desse alinhamento de ideias e propósitos foi dado um sinal muito claro através da organização do 1º Encontro das Culturas Cerealíferas, com a colaboração da ANPOC, no âmbito do 11º Colóquio Nacional do Milho, realizado no passado mês de Março.

É tempo de Portugal assumir um pensamento estratégico estruturado sobre a importância da agricultura e, concretamente, da produção de cereais, na economia, na sociedade e no ambiente. A circunstância que vivemos não podia ser mais adequada!

* Sin maíz no hay País (BONFIL, Guillermo – México, 2007)