O que é melhor para a banca? Um sistema colaborativo ou um sistema paternalista?

O setor bancário e financeiro europeu está a evoluir ao sabor da nova diretiva europeia para os pagamentos (PSD2), e há países que estão a fazer um excelente trabalho no acompanhamento desta nova realidade. Todos queremos um sistema aberto, em que bancos e fintechs trabalham em conjunto para melhor servir os clientes e acompanharem­se no desenvolvimento de novos serviços. Acho que já não é preciso vender a ideia de que juntos trabalhamos melhor. Todos sabemos que esse é o caminho.

Mas em Portugal parece que esta não é a linha orientadora. Portugal continua a escolher o modelo paternalista. A PSD2 foi feita precisamente para obrigar os incumbentes (leia­-se, os bancos) a serem mais colaborativos e a viverem num modelo de open banking. E qual não é o nosso espanto quando vemos que mantivemos o sistema paternalista, fechado, em que a SIBS diz com orgulho que o seu API Market tem 18 instituições financeiras (nenhuma fintech) com acesso a 95% das contas portuguesas.

Isto é ambição? Isto é open banking?

Este é mais um exemplo de que em Portugal não é feito um único esforço para integrar fintechs no sistema, quando as fintechs já trabalham com API’s desde o primeiro dia. Empresas como a easypay, a EuPago, a ifthenpay ou a LusoPay e muitas outras já trabalham com API’s há anos. A PSD2 traz mais duas API’s que, para os bancos, são as primeiras e uma novidade mas, para as fintechs, são apenas mais duas.

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Não é por isso compreensível que o governo português não tome as rédeas deste assunto e que delegue a criação de uma suposta Open API nos bancos, logo na SIBS, porque aquilo com que ficamos é com um sistema bancário igualmente fechado, doméstico e pouco ambicioso.

No Reino Unido, que nem fará parte da europa num futuro breve, o governo criou uma Sandbox (o mesmo é dizer, um ambiente de teste ou de criação), onde todos, bancos e fintechs, podem estar ligados para viverem verdadeiramente as vantagens da nova diretiva. Isto significa que se a easypay quiser, por exemplo, pode ligar­se a esta API inglesa e ter acesso às informações de todas as instituições financeiras daquele país. Espanha fez o mesmo, mas Portugal excluiu as fintechs e trabalhou apenas com 18 bancos, deixando de fora instituições como o BBVA, Haitong, Deutsche Bank, Finantia, Carregosa, Banco Invest, entre outros, e fintechs já com elevada expressão, como a Revolut ou a N26.

Este é mais um exemplo da pouca ambição, da mediocridade e da incompetência que se vive em Portugal, em que o governo lava as mãos e não promove a criação de um sistema bancário verdadeiramente aberto, e a SIBS cria um API Market que, para sermos honestos, devia chamar­-se Closed API Market.

Sebastião Lancastre é presidente da easypay. Filho do fundador da Unicre e ex-quadro da Unicre, iniciou a sua carreira profissional na área comercial na Xerox Portugal. Em 1992 ingressou na Unicre como Assessor da Direção Geral. Na Unicre até 1999 assumiu, também, a função de Responsável de Marketing do Cartão Unibanco. Em 2000 criou a easypay, que iniciou atividade em 2007. É formado em Engenharia de Sistemas Decisionais, pelo Instituto de Matemáticas Aplicadas. Frequentou um MBA na área de Sistemas de Informação e foi professor convidado no IADE na Pós Graduação em Internet e Marketing.