O Serviço Nacional de Saúde é uma enorme mais valia para os portugueses, tem excelentes profissionais e é a opção mais segura em episódios de urgência como, por exemplo, em problemas do foro oncológico ou cardíaco. Por essa mesma razão, não podemos continuar a assistir passivamente à contínua e preocupante degradação do SNS.
O Estado gasta uma fortuna a formar médicos. Referi “gasta” em vez de “investe” porque o custo com a formação dos profissionais de saúde deixou de ser um investimento, como seria desejável, a partir do momento em que após a sua formação saem para o privado por falta de condições de trabalho competitivas no setor público.
Há uma enorme carência de profissionais no SNS, colocando em causa o normal funcionamento de várias valências em muitos hospitais do país e dessa forma falhando nos serviços de saúde prestados às pessoas.
Este Verão temo-nos deparado com vários Serviços de Urgência de Obstetrícia/Ginecologia e Pediatria encerrados — isto chega a ser caricato num País que tem uma baixa taxa de natalidade e bem elucidativo do estado em que o SNS se encontra.
A solução não pode passar por encerrar serviços, contribuindo desta forma para o definhamento da maior conquista que tivemos após 1974, mais concretamente em setembro de 1979. A solução tem de passar pela devida valorização dos profissionais de saúde no SNS.
Poderá sempre dizer-se que não há viabilidade financeira para aumentar salários e assim atrair mais médicos para o SNS, mas esse argumento não colhe. Mandam as regras da boa gestão que pessoas motivadas produzem mais e melhor. Por outro lado, aumentando os recursos humanos afetos ao SNS, o Estado, para além de melhorar a qualidade dos serviços prestados, também iria poupar na despesa com serviços extras que têm um custo muito elevado.
Que raio de gestão é esta que resiste a melhorar as condições de trabalho de forma a tornar as carreiras mais competitivas e atraentes, incentivando os profissionais de saúde a trabalhar no Serviço Público, mas em alternativa gasta milhões de euros com prestadores de serviços que não conseguem colmatar a falta de recursos existente e não evitam o encerramento de serviços nos hospitais públicos?
O que se tem passado este Verão com a quantidade de Serviços de Urgência fechados não se pode repetir. É urgente atrair profissionais para o setor público e, não menos importante, reter os que ainda vão resistindo.
Abrir mais cursos de Medicina é uma fuga para a frente que não resolverá o problema, porque vamos continuar a ter um elevado número de médicos saídos da faculdade a optar pelo privado. O cerne da questão que parece insistirem ignorar está nas condições de trabalho que oferecem os hospitais privados e nas que oferecem os hospitais públicos, seja ao nível de remunerações, carga horária, regime de exclusividade, condições físicas, etc, etc, etc.
O SNS está gravemente doente e necessita de mais médicos para o assistir. Enquanto não se tomarem medidas verdadeiramente eficazes, teremos o nosso SNS entre os cuidados paliativos e a eutanásia, por incapacidade de gestão de quem (des)governa.