A dirigente do SOS Racismo, Mariana Carneiro, resolveu difamar o meu bom nome e a minha honra em plena Assembleia Municipal de Lisboa de 16 de abril deste ano, como pessoa e como presidente da Junta de Freguesia de Arroios que sou. Afirmou a também alegadamente jornalista do Esquerda.Net, ligado ao Bloco de Esquerda, chamando-me “Sr.ª Natividade”, que eu teria ameaçado expulsar as pessoas em situação de sem-abrigo que se encontravam – e ainda se encontram – no Largo da Igreja dos Anjos. Não admito ser insultada com mentiras tão soezes e, por isso, apresentei queixa-crime que agora faço questão de tornar pública, através do Observador.
Começando pelo início muito pouco edificante, a dirigente do SOS Racismo afirmou então – e cito – que “na Igreja dos Anjos, onde já houve várias tentativas de expulsão das pessoas, nomeadamente, há cerca de um mês e meio, a Presidente de Junta local, ‘Sr.ª Natividade’, esteve a ameaçá-los [às pessoas em situação de sem-abrigo que ali se encontram] para que eles tivessem menos de 24 horas para sair dali sem qualquer outra alternativa” e que “foram as Associações, foram os coletivos, foram os próprios migrantes e foi a comunicação social que o impediu e continuaremos aqui a impedir que isso seja feito… “.
Respeito profundamente a liberdade de expressão, mas não posso nem devo aceitar falsidades que são especialmente ofensivas e que não fazem qualquer sentido.
Mariana Carneiro sabia e sabe perfeitamente que as imputações que me fez são totalmente falsas e que nunca assumi qualquer comportamento ou alguma vez determinei qualquer atuação dos serviços da Junta de Arroios com vista à expulsão das pessoas sem-abrigo que se encontram junto à Igreja dos Anjos – e menos ainda alguma vez as ameacei de que teriam menos de 24 horas para sair dali. É um total disparate só possível para quem se julga impune e acima dos outros, sendo agravado por repetir este tipo de ataques e insultos desbragados nas redes sociais dos movimentos radicais a que pertence.
A forma e o tom como foram proferidas, chamando-me ‘Srª Natividade’, acrescentam-lhe um racismo muito mal-escondido. Não sei mesmo se o SOS Racismo terá mudado de nome para SOS Racista.
Em primeiro lugar, são declarações especialmente ofensivas porque as pessoas em situação de sem-abrigo na Igreja dos Anjos, em Arroios, são na sua maioria imigrantes que vieram à procura de melhores condições de vida, aliciadas muitas vezes por redes de tráfico humano – e que apenas encontraram a miséria como destino, vivendo em tendas nas ruas, ao frio e à chuva.
Pelo meu passado, que também fui imigrante, quando vim muito nova de Moçambique para Portugal e vivi em condições muito difíceis, quando cheguei, como muitos outros portugueses de famílias dos chamados retornados, não admito que ponham em causa o respeito que tenho pelas pessoas nesta situação.
Também a minha formação é, desde sempre na área social, fui assistente social e sou juíza social, para além de política e autarca.
Desconheço algum historial ou algum serviço público que Mariana Carneiro tenha para apresentar nesta área, para além do ativismo radical da extrema-esquerda que defende que as pessoas sem-abrigo devem continuar sem-abrigo ou a dormir em tendas nas ruas. É isso que defendem, o “direito à rua”, como se estas pessoas não tivessem o direito a condições condignas, um casa e um tecto para viverem, o que lhes procuramos dar, com as dificuldades que são conhecidas de todos, contando com a oposição de movimentos de extrema-esquerda, como aquele a que Mariana Carneiro pertence.
As ruas e os largos e os jardins não são lugares para se dormir ao relento ou em tendas, servindo sim para que as famílias possam passear, usufruindo da cidade em que habitam. O problema das pessoas em situação de sem-abrigo é um problema nacional, para o qual temos alertado desde o início do nosso mandato. Tem uma repercussão especial nas grandes cidades, desde logo em Lisboa.
Arroios, por ter diversos serviços de apoio no seu território, mas também pelo seu caráter multinacional e multicultural, sente especialmente a repercussão do aumento das pessoas em situação de sem-abrigo. Por isso, sempre alertámos e continuamos a alertar e a reunir com as autoridades e as instituições competentes, desde logo com a Câmara Municipal de Lisboa, a nossa principal aliada, para que seja possível conseguir encontrar locais em que estas pessoas possam ser ajudadas, com um teto e comida diária.
Dirigi mesmo uma carta aberta ao Presidente da República, aqui também no Observador, sobre o assunto, em janeiro do ano passado. O problema agudizou-se – e muito – com o crescimento da imigração ilegal durante os anos de governação do PS, que nunca teve uma política de migração e criou uma bolsa de imigrantes sem-abrigo, contando com o apoio de movimentos radicais de extrema-esquerda, como é o caso da SOS Racista, que parecem lucrar, pelo menos politicamente, com a desgraça alheia.
As mentiras de Mariana Carneiro podem ter a perna curta, mas não as posso aceitar de forma alguma. Como disse o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, parece que “as pessoas em situação de sem-abrigo tornaram-se, para alguma extrema-esquerda, quase um negócio”. Um negócio que aproveita também à extrema-direita, que se alimenta da sensação de insegurança que daí advém para tentar crescer eleitoralmente. Os extremos radicais são aliados objetivos, chegou o tempo dos moderados.
Só posso garantir que tudo farei para que esse negócio não continue, à custa dos que mais sofrem, das vítimas exploradas por redes de tráfico e pelos extremos políticos. Doa a quem doer, porque as mentiras de Mariana Carneiro e dos seus cúmplices não me vão fazer desistir da minha luta.