A relação entre ter uma opinião relevante e ter experiência não é simples. A muitas pessoas que têm experiência relevante de certas coisas não ocorre ter opinião sobre elas; outras têm opinião sem terem experiência relevante e ninguém as leva a sério; outras ainda, tendo experiência relevante, não têm opiniões relevantes sobre aquilo de que têm experiência.   E existe ainda o caso muito raro das pessoas que não sabendo nada sobre um assunto vêem reconhecidas como relevantes as opiniões que têm sobre ele; são bafejados por sorte epistémica, isto é, têm sorte com o que acontece às suas opiniões.

A situação de longe mais normal é, porém, ter-se experiência de uma coisa e opiniões sobre essa coisa.  As pessoas falam com prontidão sobre o que lhes aconteceu ou fizeram.   Calculam com razão que os outros tendem a achar mais justificado que alguém tenha opiniões sobre qualquer coisa se essas opiniões tiverem a ver com coisas que lhes aconteceram ou que fizeram; e importam-se menos que lhes tenham acontecido coisas penosas se os relatos das suas experiências forem depois tratados pelos outros de um modo especial, e considerados relevantes.  Tudo isto permite augurar um casamento duradoiro e harmonioso entre experiência, justificação e opinião, que é a base das sociedades modernas; e esperar que a emissão de opiniões por parte de pessoas com experiência seja feita com a alegria antecipada de quem sabe que vai ser bem recebido pelo público.

No entanto, as pessoas com experiência raras vezes emitem as suas opiniões com alegria.   Não quer dizer que duvidem da justificação dessas opiniões: o utilizador confia sobretudo no ponto de vista do utilizador; mas o modo como as transmitem tende a ser um pouco sombrio, e é não raras vezes marcado por um tom ofendido que pode espantar quem está por perto.  Militares valentes, cançonetistas vencedores, engenheiros civis, intelectuais públicos, pessoas que tinham conseguido entrevistar um santo difícil na sua caverna ou mergulhar da prancha mais alta, falam quase sempre da sua experiência e das suas opiniões como se elas não tivessem sido reconhecidas como deveriam; os seus modos de falar são comummente tingidos por um sentimento indefinível de tristeza.

O que ofenderá as pessoas com experiência relevante e opiniões aceites pelos outros?  Como poderá sentir-se triste alguém que tem todas as razões epistémicas para se sentir satisfeito?   É provável que essa tristeza epistémica se deva ao facto de que ter razão não baste a muitos daqueles cujas opiniões são aceites; mas que pelo contrário quem tem razão sobre uma coisa espere frequentemente que lhe seja atribuído pelo público um certificado de razão constante, que justifique passar a ser ouvido por todos sobre tudo.  É uma esperança falaz.  Ter razão constante implica ter opiniões aceites acerca daquilo de que não se tem experiência; e isso requer doses maciças de sorte epistémica que não dependem de quem tem as opiniões.

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