A tecnologia revolucionou a maneira como vivemos e trabalhamos.

Qualquer pessoa com mais de 40 anos viveu uma vida que tem mais em comum com a vida dos seus pais do que com a dos seus filhos.

As empresas passaram a viver a uma nova velocidade, acelerada e exponencial, e os seus ciclos de vida e de valor reduziram-se substancialmente (como mostra a volatilidade no índice S&P 500, de acordo com o Innosight).

Antes da Covid-19, as organizações e os seus líderes já estavam em crise.

Muitos milhões de euros estavam já a ser despejados em esforços de transformação digital e o F.O.M.D. (Fear of Missing Disruption) passou a constar do roadmap de qualquer empresa que se preze.

Pediu-se aos trabalhadores que mudassem a forma de fazer as coisas, que aprendessem novos conceitos, operacionalizassem novos standards para atingirem níveis mais elevados de desempenho.

A maioria desses esforços de transformação enfrentou desafios semelhantes: a resistência em aceitar o “novo”, muita frustração e exaustão com a implementação de novos processos, falta de agilidade para acompanhar a mudança e, muito frequentemente, uma enorme falta de empatia para com aqueles que tinham de mudar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas o problema não esteve apenas na resistência à mudança por parte dos trabalhadores. De acordo com uma investigação da MIT Sloan Management Review e da Cognizant, os líderes empresariais mostraram também que não estavam verdadeiramente preparados, fundamentalmente por razões de desconhecimento e até alguma iliteracia face às novas tecnologias digitais. E, acima de tudo, porque a transformação digital não era acompanhada de uma transformação no mindset.

Ou seja, do sonho digital à realidade digital havia um enorme fosso ainda a ultrapassar.

E, entretanto, veio a Covid-19 e todos – organizações e indivíduos – fomos forçados a superacelerar o nosso mundo digital.

“Home office” e trabalho remoto; aulas online e reuniões no Zoom; ferramentas colaborativas e plataformas de crowdsourcing: de repente as nossas vidas fora da nossa casa tornaram-se totalmente digitais.

Os nossos negócios tornaram-se digitais. O trabalho tornou-se digital. O ensino e a aprendizagem tornaram-se digitais. O convívio social tornou-se digital.

Tornámo-nos digitais.

E neste admirável mundo novo digital, há lugar para aquilo que nos distingue das máquinas? Há lugar para os humanos?

O nosso “eu digital”, a nossa representação virtual e a nossa identidade online representam questões mais complexas do que julgamos.

Temos novos seres humanos digitais a serem criados no Porto pela Didimo. A Didimo é uma startup de tecnologia fundada por Verónica Orvalho, uma notável cientista argentina que trabalha há muitos anos na Universidade do Porto e que acredita que, num mundo cada vez mais intermediado pela tecnologia, é fundamental transportarmos a riqueza da comunicação humana para todas as nossas interações online. E essa é uma ideia fundamental. Colocar a experiência humana no centro do nosso mundo digital é um passo fundamental para ultrapassarmos todas as barreiras e ineficiências dos processos de transformação digital que atrás descrevemos.

Transformação é a palavra-chave aqui. E transformação é um esforço inerentemente humano. As camadas de tecnologia para onde se tem despejado dinheiro e onde se têm depositado todas as esperanças de transformação serão um desperdício se não compreendermos, aceitarmos e abraçarmos o imperativo humanista de colocar as pessoas no centro do processo, para garantirmos que o futuro não seja apenas digital – seja sobretudo mais humano.

Tem-se dito que a Covid-19 foi o maior acelerador da transformação digital nas empresas e nas pessoas. Mas a verdade mais impactante é que essa aceleração digital tem sido usada para objetivos e resultados profundamente humanos.

O digital ajudou-nos a transformar o distanciamento físico em proximidade social.

Ajudou-nos a transformar os nossos medos individuais em confiança coletiva e esperança comunitária. Ajudou as empresas a deixarem de ser sistemas fechados de produtividade e eficiência para se transformarem em ecossistemas colaborativos e abertos, orientados para impacto positivo.

O admirável mundo novo digital é, afinal, talvez mais humano do que nunca.